UFPel debate o empreendedorismo e a inovação na pós-graduação
Com a presença de representantes do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Secretaria de Ciência e Tecnologia do RS e da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Turismo de Pelotas, além de palestrantes renomados ligados a universidades, empresas e governos, e de um público potencial de mais de 400 participantes, entre alunos de pós-graduação, professores dos diversos programas de pós-graduação e pós-doutorandos, a UFPel promoveu nesta terça-feira(6) o “I Workshop de Empreendedorismo e Inovação na Pós-Graduação”.
O evento, realizado no auditório da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem), foi promovido pela Coordenação de Inovação e Tecnologia (CIT) e Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) e objetivou discutir como a UFPel pode contribuir para a formação de mestres e doutores mais preparados para intervirem no desenvolvimento do país através da sua inserção no mundo do trabalho de forma inovadora e empreendedora.
Segundo a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, professora Denise Gigante, inovação se traduz em políticas públicas e é um desafio para a Universidade percorrer caminhos que coloquem a inovação e o empreendedorismo como agenda permanente da instituição.
Em seu pronunciamento, o reitor Mauro Del Pino destacou as evoluções verificadas no mundo do trabalho e disse que é preciso compreender as mudanças nos processos produtivos, onde novas políticas e novos materiais estão sendo desenvolvidos. Ele afirmou que se faz necessária a análise perspectiva das possibilidades de desenvolvimento e a capacidade de inserção de profissionais que possam suprir as necessidades de um mundo que se desenvolve de forma sustentável.
Inovação e empreendedorismo na PG
A palestra mais concorrida e que abriu o evento foi ministrada pelo professor da Univates e assessor do Consórcio das Universidades Comunitárias do RS (Comung), Renato Oliveira, com o tema “Inovação e Empreendedorismo: O que isso tem a ver com a Pós-Graduação”. O palestrante descreveu o sistema de cadeias globais de valor (cadeias internacionais de mercadorias) e disse que a integração entre as universidades e a cultura empresarial prevalece nas regiões de maior inovação tecnológica.
Ele criticou o papel de coadjuvante desempenhado pelo Brasil no cenário da inovação tecnológica entre os países emergentes, lembrando que enquanto a China é forte candidata a juntar-se aos países inovadores, nosso país resigna-se a uma situação de fornecedor de insumos, acomodando-se à cultura de “país manufatureiro”. Para Oliveira, a economia gaúcha também vem se “reprimarizando” e perdendo a sua capacidade de agregação de valor, com a consequente queda do padrão de vida da população.
O professor da Univates disse que Pelotas e região devem definir sua posição nas cadeias globais de valor, baseando seu desenvolvimento em ações específicas, seja no suporte logístico às grandes rotas do comércio internacional, na diversificação da agropecuária, no fomento ao turismo, ou na indústria, P&D e serviços de inovação.
De acordo com o palestrante, uma política de pós-graduação para P&D tecnológica e serviços de inovação pressupõe a identificação de parceiros estratégicos entre os diversos setores da sociedade civil, a escolha de cases de sucesso que servirão como referência, foco nas áreas de conhecimento e pesquisa que representam oportunidades econômicas e de desenvolvimento social e cultural, e no direcionamento da tríade “ensino-pesquisa-extensão” à “pesquisa-descoberta-engajamento”.
“Como avançar na multidisciplinaridade trazendo para o concreto o lema mens et manus (mentes e mãos), que deve ser a capacidade de todas as áreas da Universidade, unindo a abstração intelectual com a capacidade de visualizar problemas e fazer coisas”? , questionou Renato Oliveira.
O palestrante descreveu os problemas a serem enfrentados nesse modelo: a cultura média empresarial segundo a qual uma empresa só vale a pena se for uma espécie de mina de ouro; a cultura acadêmica baseada numa moral estamental, em detrimento de uma ética de profissionalismo, em que as pessoas se afirmem pela sua competência e não pelo status adquirido; a cooptação de lideranças empresariais e acadêmicas por parte do Estado, como forma de superar déficits de legitimidade; e a falta de uma cultura de planejamento – “temos uma cultura de programação de atividades”, criticou.
Programas para a inovação e o empreendedorismo
Fechando a programação da manhã, a mesa redonda Políticas públicas para fomentar a inovação e o empreendedorismo apresentou os programas nacionais, estaduais e regionais, bem como o programa institucional da UFPel nessa área.
De sua parte, o representante do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, José Henrique Diéguez, falou sobre as atividades ligadas à área de tecnologia da informação (TI), descrevendo as ações do Programa Nacional de Aceleração de Startups de Base Tecnológica (Start up Brasil). Segundo ele, toda a discussão do Ministério está voltada ao desenvolvimento tecnológico em apoio a empresas e universidades, mas observou: “Tecnologia pode ser uma inovação, mas inovação é negócio, não tecnologia”. Por isso, os programas desenvolvidos devem se apoiar em grandes resultados.
Já a representante a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, Renata Dellamea Ferraz, apresentou o RS Tecnópole, programa que promove a articulação das universidades, dos setores produtivos e do poder público, em todas as regiões do estado, visando o desenvolvimento científico e tecnológico, com foco na inovação e na sustentabilidade. Entre os projetos em desenvolvimento está a Rederiosul (Rede Riograndense de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação), que congrega atualmente 25 universidades.
O secretário do Desenvolvimento Econômico e Turismo de Pelotas, Fernando Estima, traçou um quadro alentador ao avaliar o atual estágio da região e as perspectivas de desenvolvimento, a partir da instalação do Polo Naval e de projetos como o Pelotas Parque Tecnológico e a prospecção de petróleo na Bacia de Pelotas, e de novos empreendimentos como Eixo Sul, complexo logístico empresarial junto à BR 116; o Shopping Pelotas, na avenida Ferreira Viana; e o bairro Quartier, uma espécie de mini cidade autossustentável, localizado no prolongamento da avenida Dom Joaquim.
O coordenador de Inovação e Tecnologia da UFPel, professor Mario Canever apresentou as ações de sua área desde o mês de fevereiro, a partir de diagnóstico traçado no início da gestão e da identificação de ações prioritárias. Entre as ações já implementadas estão a criação da disciplina de Empreendedorismo na Pós-Graduação, um portfólio de competências e serviços, aquisição de licença no Orbit e curso de redação de patentes, organização de documentos e pagamento de patentes, ampliação do Polo de Alimentos para Polo de Inovação da Região Sul (em sintonia com o Corede Sul) e participações nas discussões do Pelotas Parque Tecnológico e no Comitê de Bolsas. A CIT trabalha firmemente na implantação da Incubadora da UFPel e busca promover maior integração com a área de graduação.
Interação Universidade x Empresa
Os participantes do workshop assistiram na parte da tarde a mesa redonda Práticas para inovação e empreendedorismo a partir da pesquisa científica, com a participação de Roberto Moschetta, que falou sobre o TecnoPuc, Parque Tecnológico da PUC-RS, e do secretário adjunto de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, professor Evaldo Vilela, com a palestra Empreendedorismo na pós-graduação gerando riqueza.
O último bloco foi dedicado à mesa redonda intitulada Transformando conhecimentos em tecnologia, com a apresentação dos cases “BUG – Agentes biológicos, inovação tecnológica e o controle biológico de pragas agrícolas; “Detecta DNA – Empreendedorismo em Biotecnologia”; e “CheckPlant – Inovações tecnológicas em rastreabilidade e monitoramento de pragas”, tendo como palestrantes, respectivamente, Heraldo Negri de Oliveira, Roberta Mattos Collares Bressel e Alexandre Fachinello.