Boaventura inaugura centro de pesquisas voltado para Humanidades
Um espaço multidisciplinar para pensar o ser humano e as suas práticas sociais: este é o Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Artes e Letras (Cehus). A estrutura, localizada na rua Coronel Alberto Rosa, em frente ao prédio onde funcionam a Faculdade de Educação e os Institutos de Ciências Humanas e Filosofia, Sociologia e Política, foi inaugurada na última segunda-feira (4), com a presença do doutor honoris causa da UFPel Boaventura de Sousa Santos.
O novo prédio reunirá instalações de 13 programas de pós-graduação ligados à área de Humanidades: Antropologia, Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais, Ciência Política, Educação, Educação Matemática, Ensino de Ciências e Matemática, Filosofia, Geografia, História, Letras, Memória Social e Patrimônio Cultural e Sociologia. Além disso, também já está em funcionamento no local a Biblioteca de Ciências Sociais, agora com amplo espaço para acervo e área de estudos.
Resultado de um grande trabalho coletivo, o Cehus é fruto de mobilização entre os próprios PPGs e a administração da Universidade, ainda em sua gestão anterior, que centraram forças em um inédito pedido conjunto de recursos ao edital CT-INFRA, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Assim, foi possível angariar junto à entidade a soma de R$ 4,3 milhões necessários para a requalificação do espaço. Também a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) foi parceira, ao financiar os equipamentos para uso no local, por meio do edital Pró-Equipamentos.
Entre os objetivos da criação do Centro, estão a consolidação dos cursos já existentes e o fomento à criação de novos, especialmente de doutoramento. Além disso, a ideia é também prover e qualificar espaços físicos para a pesquisa e a formação de pesquisadores da área. A integração entre grupos de pesquisa de outras instituições, inclusive do exterior, também será reforçada com o novo local.
Espaço para ineditismos
“Esse prédio é o sonho de uma ação multidisciplinar”, destacou o professor Jarbas Santos Vieira, docente do programa de pós-graduação em Educação e líder da proposta encaminhada à época para a Finep, durante a cerimônia de inauguração.
Já o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Flávio Demarco, diz acreditar na capacidade do local como espaço agregador, que irá proporcionar um salto de qualidade para a pesquisa da área de Humanidades. “À medida que a gente conversa entre diferentes áreas, gera um conhecimento novo”, pontuou, ao afirmar que deseja que haja tantos mais espaços desse tipo na Universidade Federal de Pelotas.
O reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, também demonstrou a satisfação com a abertura do Cehus, pois o espaço congregará os esforços de grupos de pesquisa dessas áreas do conhecimento, que segundo ele, historicamente têm dificuldade de acesso aos financiamentos. Hallal também ressaltou a presença, na inauguração, de membros da gestão anterior, responsáveis por auxiliar os grupos de pesquisas proponentes na submissão da proposta e sua consequente realização: “É justo que se faça esse reconhecimento”.
O grande homenageado da segunda, o sociólogo, professor e pesquisador Boaventura de Sousa Santos, também fez uso da palavra no ato. “Quem dera ter instalações como esta”, afirmou o doutor honoris causa, ao referir-se às instalações do Cehus e compará-las com aquelas que encontra na Universidade de Coimbra, onde desenvolve sua pesquisa.
Em seguida, ele versou sobre as possibilidades abertas por meio de um espaço coletivo: “Estou convencido que não é possível interdisciplinaridade ou transdisciplinaridade sem estarmos em um espaço comum”. Um dos motivos levantados por Boaventura é o fato de que diversas inovações nas sociologias vêm de pessoas que não são dessas áreas e que viram uma perspectiva nova. “Quantas perspectivas novas deu Albert Einstein para a Ciência Social?”, questionou, ao referir-se sobre o físico alemão e seus estudos.
Boaventura também incentivou a ousadia dos pesquisadores presentes à plateia: “Na Ciência, temos um problema que normalmente só fazemos as perguntas cujas respostas pensamos que sabemos dar”. Por isso, ele convidou ao risco e às colaborações possíveis com um centro interdisciplinar como o da UFPel.