Início do conteúdo

Seminário e Exposição sobre a Restauração das Obras Vandalizadas em 8 de Janeiro é Realizado em Brasília

Nos dias 27, 28 e 29 de agosto, ocorreu na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Brasília, o evento intitulado “8 de Janeiro: Diálogos sobre Conservação, Restauração, Patrimônio e Democracia.” O evento foi organizado pelo IPHAN e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Foram apresentadas mesas redondas temáticas e a abertura de uma exposição sobre o projeto de conservação e restauração das obras do acervo do Palácio do Planalto vandalizadas em 8 de janeiro, projeto desenvolvido por equipe da UFPel, em parceria com o IPHAN e a Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais (DCPP). A exposição contou com o apoio da Fundação Delfim Mendes da Silveira (FDMS).

A abertura do evento, realizada na terça-feira (27), incluiu a Mesa Redonda 1, intitulada “Iniciativas Institucionais: Desafios e Práticas Positivas para a Colaboração na Conservação, Restauração e Valorização do Patrimônio Cultural” mediada pela Reitora da UFPel, Isabela Andrade. Participaram da mesa, representando o IPHAN, Paulo Farsette, Luiz Sarmento e Virgynia Corradi, além de Cesar Bergoli, presidente da Fundação de Delfim Mendes da Silveira. Discutiu-se o papel crucial do IPHAN na preservação do patrimônio nacional e as iniciativas tomadas pela instituição após os ataques ao acervo do Palácio do Planalto do dia 08 de janeiro de 2023. Além disso, César Bergoli destacou o suporte administrativo da FDMS nas ações necessárias para a recuperação desse acervo.

Na tarde do mesmo dia ocorreu a cerimônia oficial de abertura do seminário, com a presença da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, do presidente do IPHAN, Leandro Grass, do Diretor Curatorial dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, da Reitora da UFPel, Isabela Andrade, da Reitora da UNB, Márcia Abrahão Moura e outras autoridades. Neste ato, Margareth Menezes falou sobre a importância da valorização do patrimônio cultural, destacando o papel da restauração dos bens culturais e do apoio do MINC à cultura e ao patrimônio brasileiro. Leandro Grass destacou a importância da atuação do IPHAN integrando as instituições como forma de valorizar a Democracia. A apresentação do Estado da Arte do Projeto de Restauração das obras do Palácio do Planalto, em desenvolvimento pela UFPel, foi iniciada com a professora Karen Caldas, que expôs o Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis e suas características de um bacharelado noturno, criado pelo Programa REUNI, no ano de 2008. A servidora Magda Nunes falou sobre o trabalho burocrático envolvido em um projeto dessa complexidade, e a professora Andréa Bachettini apresentou todas as etapas previstas da TED que deram materialidade ao projeto, que é de responsabilidade do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), coordenado pelo Laboratório de Conservação e Restauração de Pinturas (LACORPI).

 

Na sequência, ocorreu a abertura oficial da exposição “8 de Janeiro: Restauração e Democracia,” que atraiu um grande público e exibiu registros visuais do projeto de restauração, com fotografias de diversos colaboradores. A exposição conta com registros fotográficos do processo de restauração das obras vandalizadas em 8 de janeiro de 2023, no Palácio do Planalto. A curadoria do professor Lauer Santos (UFPel), com curadoria adjunta do professor Roberto Heiden (UFPel) e Renan Espírito Santo (UFPel) selecionou fotografias de Karen Velleda Caldas, professora e coordenadora-adjunta do projeto, de Nauro Júnior, fotógrafo, e de Mariana Alves, assessora de comunicação do IPHAN. A exposição estará disponível para visitação até o 25 de outubro na sala expositiva do IPHAN, em Brasília.

Em seguida, ocorreu a Mesa Redonda 2, intitulada “Respostas Institucionais para Ataques ao Patrimônio Cultural,” mediada por Leandro Grass (IPHAN). Nesta mesa participaram Rogério Carvalho (DCPP) e representantes do Supremo Tribunal Federal (Ivy Souza da Silva), Senado Federal (Roberto Ricardo Grosse) e Câmara dos Deputados (José Raymundo R. Campos Filho). Foram apresentados os resultados significativos alcançados por todos essas instituições na resposta aos ataques ao patrimônio cultural no dia 08 de janeiro de 2023.

 

Na quarta-feira (28), ocorreram mais duas mesas redondas. Durante a manhã, intitulada “Relatos em Conservação e Restauração: Metal, Papel e Cerâmica,” mediada por Daniele França Sampaio Cunha Dias (DCPP). Nessa mesa, foram apresentados resultados da restauração de peças vandalizadas no dia 08 de janeiro de 2023. Tarsis Gradaschi apresentou o trabalho de restauração das obras de metal. Além disso, Keli Scolari, Nathânia Maria da Silva e Mirella Borba discutiram os resultados da restauração da Idria em cerâmica e do guache sobre papel de Martin Bradley. As apresentações evidenciaram a complexidade do trabalho de restauração, como no vaso de cerâmica, que foi quebrado em mais de 180 pedaços, informação evidenciada por Keli Scolari, que destacou que a metodologia de intervenção nessas peças surge das próprias características materiais e do seu estado de degradação.

A Mesa Redonda 4, intitulada “Relatos em Conservação e Restauração de Pintura: Suportes em Madeira,” foi mediada por Virgynia Corradi, do IPHAN. Participaram Keli Scolari, Mariana Plantz, Nathânia Maria da Silva e a professora Andréa Bachettini. Foram apresentados os resultados da recuperação de obras em madeira, como a peça “Galhos e Sombras,” de Frans Krajcberg, e o projeto de restauração da pintura de Di Cavalcanti. Andréa Bachettini destacou que as sete perfurações na tela de Di Cavalcanti, sofridas no dia 08 de janeiro de 2023, permanecerão visíveis no verso da obra, enquanto a superfície frontal da pintura será totalmente restaurada, de modo que o público não esqueça a violência física e simbólica sofrida pela obra de arte. Essa foi a solução encontrada de modo a preservar tanto a integridade artística, quando a memória da violência física que o quadro carrega consigo.

 

No terceiro e último dia do evento, quinta-feira (29), pela manhã, ocorreu a mesa redonda intitulada “Educação Patrimonial e Comunicação no Centro de Iniciativas de Valorização do Patrimônio e Democracia”, mediada por Luís Eduardo Sarmento. A mesa contou com a participação das professoras Cláudia Garcia e Maria Cláudia Candeia de Souza, da UNB, e das antropólogas Letícia Maciel e Lisa Bilhalva Martins, que apresentaram as diferentes etapas das ações de educação patrimonial diretamente relacionadas ao projeto Brasília. Destacou-se a importante parceria interinstitucional, além das ferramentas e estratégias que estão sendo desenvolvidas em escolas de Brasília.

Na sequência, o professor Michael Kerr (UFPel), o técnico-administrativo André Barcellos (UFPel) e Gabriela Mazza (Satolep Press), apresentaram suas atividades. Gabriela falou sobre o livro de arte, a partir de uma perspectiva humanista para abordar os impactos do vandalismo e a recuperação das obras. Michael Kerr e André Barcellos expuseram o conceito em desenvolvimento para o documentário que está sendo realizado sobre o projeto de restauração das obras de arte de Brasília.

 

Na quinta-feira à tarde, ocorreu a última mesa do evento, intitulada “Estudos e Práticas Multidisciplinares na Área da Conservação e Restauração”, mediada por Andréa Bachettini. Os professores Anelise Costa Montone (UFPel), Bruno Noremberg (UFPel), Roberto Heiden (UFPel) e Karen Caldas (UFPel) apresentaram seus trabalhos. Anelise discutiu a conservação preventiva e os critérios necessários para a preservação correta das peças restauradas, além das medições das condições ambientais do Palácio do Planalto que estão sendo desenvolvidas. Bruno Noremberg trouxe os resultados das análises científicas realizadas sobre as obras. Roberto Heiden compartilhou informações sobre a pesquisa em arte que está desenvolvendo, incluindo a identificação do guache de Martin Bradley e a origem do vaso cerâmico, reconhecido como sendo uma Idria italiana. Karen Caldas explorou a documentação científica, oferecendo orientações sobre o uso adequado de equipamentos fotográficos, iluminação e registros visuais nos trabalhos de restauração.

 

O evento, de maneira geral, apresentou um panorama significativo das diversas ações desenvolvidas no âmbito do projeto de restauração das obras de arte vandalizadas no dia 08 de janeiro de 2023. Essas ações vão além da restauração de um conjunto de 20 obras de arte, promovendo também a construção de conhecimento sobre essas obras e a sensibilização do público, das escolas e da sociedade em geral para a importância desses objetos, evidenciando a dimensão transversal das atividades realizadas.