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UFPel concede títulos de Doutora Honoris Causa e Técnico-Administrativo em Educação Emérito

A cerimônia de outorga de títulos honoríficos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que ocorreu nesta sexta-feira (31), no Campus Capão do Leão, foi uma grande celebração da dedicação, da excelência e da entrega por uma causa. A instituição reuniu os Conselhos Superiores para prestar reverência à Irmã Assunta – Marcolina Tacca – com o título de Doutora Honoris Causa, e aos servidores Emileni Tessmer, Sabrina Marques D’Ávila Toralles e Bayard Silva Centeno com o título de Técnico-Administrativo em Educação Emérito.

As manifestações foram unânimes em destacar a devoção dos quatro homenageados a seu trabalho – e ao impacto que ele causa na sociedade.

A reitora Ursula Rosa da Silva fez referência ao compromisso da Universidade em preparar profissionais para um futuro cada vez mais desafiador. Assim, o dia de homenagens também teve o papel de reflexão sobre o reconhecimento a pessoas que simbolizam o que a UFPel valoriza e que deseja para o mundo: empatia, companheirismo e atenção aos mais vulneráveis. “O trabalho de cada um e cada uma é muito importante. Temos pessoas muito especiais, dedicadas e que representam o que queremos ser como universidade pública”, pontuou.

De acordo com a gestora, a Irmã Assunta é representante dos valores humanitários que precisam ser cultuados e vivenciados diariamente. “A Irmã é um exemplo, com o qual queremos dizer: ‘é isso que a sociedade precisa: amor ao outro e respeito aos direitos humanos’”.

Presente na cerimônia, o prefeito Fernando Marroni destacou que o reconhecimento da vida de missão sabedoria e fé da Irmã Assunta é uma honra para o povo de Pelotas – mais do que um reconhecimento acadêmico, é um gesto de justiça e a celebração de uma trajetória que ultrapassa o conhecimento formal e enraíza o que há de mais essencial: o amor ao outro. “O saber que cura, acolhe e transforma é o saber que nasce do coração. A Irmã Assunta mostra que ciência e espiritualidade não precisam andar separadas”, disse, referenciando o trabalho da religiosa com plantas medicinais e saberes ancestrais. “O título de Doutora Honoris causa reconhece o que Pelotas já sabia: Irmã Assunta é patrimônio humano da nossa comunidade. Que seu exemplo continue inspirando gerações. Cuidar é um ato revolucionário”, afirmou.

Cuidado e amor aos mais vulneráveis
Aos 101 anos, Irmã Assunta é referência em uso de plantas medicinais e no envolvimento com as causas humanitárias através do cuidado de populações vulneráveis. Realiza há 60 anos um significativo trabalho social em Pelotas, abrangendo a promoção da saúde através de práticas humanizadoras do cuidado, como as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, reconhecidas e promovidas pela Organização Mundial de Saúde desde 1978. A láurea máxima da instituição, é uma distinção, também, por sua trajetória no cuidado social, físico, mental e espiritual da população pelotense, tendo se tornado um exemplo para a comunidade e para os profissionais que a UFPel se propõe a formar.

A homenageada construiu uma jornada atuando em defesa da saúde das populações vulneráveis, da justiça social, dos direitos humanos e da proteção ambiental. Sua prática cotidiana, fundamentada em saberes ancestrais e em uma espiritualidade profundamente enraizada no território, tem contribuído para a valorização e a transmissão de conhecimentos populares e tradicionais no cuidado com a vida humana e com o território.
O legado de Irmã Assunta ultrapassa os registros religiosos e assistenciais, projetando-se como uma prática de resistência cultural, de construção de autonomia e de promoção da dignidade. Sua atuação junto à Casa do Caminho e às diversas comunidades de saúde popular expressa um compromisso contínuo com a educação popular em saúde e com a construção de espaços de cuidado integral.

A médica Kelen Cerqueira, que coordena o Núcleo de Práticas Integrativas da UFPel, apresentou as credenciais da religiosa à láurea. Em sua fala, ressaltou que a Irmã Assunta valoriza aquilo que o sistema despreza: as cascas descartadas dos alimentos, saberes ancestrais, corpos adoecidos e invisibilizados. Sua ação, disse, revela uma contra-história: ela resgata o que é ocultado, ignorado ou rotulado como improdutivo. “Tudo que foi feito por ela nasce de um compromisso ético e espiritual com a vida em seu estado mais frágil, mais vulnerável. Isso dá à sua trajetória um peso quase sagrado. Irmã Assunta não está nos livros didáticos, nem nos palanques, nem nas manchetes. E, ainda assim, é uma das maiores figuras humanitárias da história do Rio Grande do Sul”, destacou.

Segundo ela, seu legado é invisível aos olhos do poder, visível na transformação dos corpos, das casas, dos quintais, das comunidades que tocou. A coordenadora afirmou que a vida da homenageada representa, com rara integridade, o compromisso com os valores que fundamentam a universidade pública: promoção da justiça social, respeito à diversidade epistêmica, a valorização da dignidade humana e diálogo com os territórios invisibilizados pela história oficial. “Por isso tudo, a UFPel, ao conceder o título não apenas homenageia uma trajetória singular, mas reafirma seu papel como universidade pública, de reconhecimento, reparação, valorização de experiências que constroem o Brasil das margens ao centro”.

Após receber o título, a Irmã agradeceu à comunidade que trabalhou e lutou junto a ela. “Agradeço de coração esse título, mas ele é de Jesus Cristo. O trabalho não é meu, é d’Ele”, disse. A Doutora Honoris Causa pediu, na ocasião, que todos zelem pela continuação do trabalho com o povo, ao qual dedicou toda a sua vida. “Deus nos entregou o mundo para cada um dar um pouco de si para as pessoas que precisam mais. Somos apenas instrumentos de Deus para fazer o bem”, finalizou.

Competência e disposição na evolução da informática
O analista de Tecnologia da Informação (TI) Bayard Silva Centeno ingressou na UFPel em 1978, integrando a equipe que internalizou os dois primeiros sistemas incorporados pela UFPel: o Sistema Acadêmico e a Folha de Pagamento. Viveu todo o processo de evolução da informatização, interagindo intensamente com a comunidade acadêmica e encerrando sua carreira vinculado ao segmento de redes. Ocupou a direção da Unidade de TI por três vezes: uma do Centro de Processamento de Dados (CPD) e duas do Centro de Informática (CI). “O legado do seu trabalho se tornou a base para a expansão da rede de computadores da UFPel. Além de sua reconhecida competência técnica, foi também um bom gestor. No entanto, devem acrescer-se a essas qualidades: a idoneidade, a vitalidade e a empatia”, destacou o colega de TI, Francisco de Paula Marques Rodrigues, ao apresentar o memorial do homenageado.

Sua indicação ao título além de critérios técnicos, disse, pautou-se pela qualidade, respeitando aspectos de qualificação moral e humanística.

O homenageado repassou momentos significativos de sua trajetória e expressou profunda gratidão à UFPel. “Ser reconhecido é uma honra que compartilho com colegas de jornada e aqueles que poderiam estar aqui pelo trabalho dedicado e compromissado com o serviço público de qualidade”, pontuou Centeno.

A atuação do servidor emérito, hoje aposentado, lhe permitiu trânsito pela instituição e amplo conhecendo seu funcionamento. “Ao longo de 36 anos tive a oportunidade de vivenciar a evolução do setor de TI e o quão essencial se tornou para o funcionamento da instituição, sendo o alicerce que sustenta a comunicação, a inovação e a eficiência dos processos que fazem a nossa Universidade”, salientou. O homenageado ainda destacou que o título de Técnico-Administrativo em Educação Emérito reconhece e incentiva o trabalho dos servidores que atuam nos bastidores para que as atividades-fim de ensino, pesquisa e extensão se desenvolvam na UFPel.

Liderança transformadora nos registros acadêmicos
À frente da Coordenação de Registros Acadêmicos (CRA) desde 2013, Emileni Tessmer é reconhecida pelas melhorias promovidas no setor. Entre as principais contribuições, estão o mapeamento e a informatização das rotinas administrativas da CRA e dos colegiados de curso, incluindo o registro de Atividades Complementares, Aproveitamento de Estudos, Exercícios Domiciliares, cadastro de Prováveis Formandos e Formaturas, Liberação e Homologação de colações de grau, bem como o processo de diplomação. Este último, em especial, possibilitou a entrega dos diplomas de graduação no momento da cerimônia de colação de grau ou em prazo exíguo, em conformidade com a legislação vigente.

Também sob sua liderança a UFPel implementou a matrícula de ingressantes totalmente digital, permitindo que estudantes de diferentes regiões do país realizem seu ingresso na UFPel de forma simples, segura e sem a necessidade de deslocamento.

Para o pró-reitor de Ensino, Antônio Maurício Alves, responsável por apresentar o memorial da laureada, a trajetória de Emileni se confunde com a história recente da Universidade, onde é uma referência. Competência, sensibilidade e compromisso com o serviço público e a educação de qualidade foram características ressaltadas pelo gestor. “Emileni conduz com maestria e olhar humano a CRA, que passou por profundas transformações. Revolucionou o registro acadêmico da Universidade”, sublinhou.

De acordo com Alves, Emileni é uma servidora conhecida e reconhecida por toda a comunidade da UFPel, tanto por sua competência técnica quanto pelo atendimento eficiente e pela liderança afetuosa. “Representa o que há de mais valioso no serviço público. Ao longo dos anos, foram inúmeras as iniciativas conduzidas com dedicação, competência técnica, sensibilidade, ética e espírito colaborativo”, disse. Com uma trajetória que expressa amor pela UFPel, afirmou, a servidora também simboliza o protagonismo feminino. “Para muitos, Emileni é descrita como ‘o coração da UFPel’, ‘patrimônio imaterial’ da instituição, uma ‘entidade’, como carinhosamente é chamada por colegas que trabalharam de perto com ela. Representa a presença indispensável das mulheres na construção de uma universidade pública eficiente, acolhedora e comprometida com sua missão”.

Ao usar da palavra, a homenageada recordou o início de sua caminhada na UFPel, instituição que aprendeu a admirar e que, para ela, é mais do que um local de trabalho. O aprendizado constante e a convivência com pessoas inspiradoras, num cotidiano cheio de desafios e conquistas estiveram nas recordações. Emileni também dedicou sua fala a agradecer a todas as pessoas que contribuíram com o trabalho da CRA.

A servidora emérita falou sobre a importância do diálogo e da empatia para o serviço público e dos registros acadêmicos para a vida universitária. Emileni disse procurar exercer sua função com responsabilidade, seriedade e espírito coletivo. Segundo ela, coordenar uma equipe é, antes de tudo, aprender com as pessoas. “Posso afirmar com convicção que o trabalho à frente da CRA só foi possível graças aos colegas comprometidos, competentes e solidários que compartilham comigo o mesmo propósito: garantir que cada processo, cada diploma, cada matrícula, reflita a seriedade e o compromisso da UFPel com a formação de qualidade”.

A gestora apontou os muitos desafios ao longo dos anos: novas normativas, mudanças tecnológicas, processos seletivos cada vez mais complexos, sistemas em constante evolução, exigindo adaptação e reinvenção. Ao mesmo tempo, inúmeros aprendizados, conquistas e alegrias. “Cada melhoria implantada, cada dificuldade superada, cada reconhecimento institucional, é resultado de esforço coletivo, de uma equipe que acredita no valor do trabalho e na missão pública da Universidade”, disse.

De acordo com ela, servir à Universidade é também servir à sociedade. E compreender que por trás de cada documento há uma trajetória, um sonho, uma história de vida. “Essa consciência sempre me motivou e continua me inspirando. Tenho orgulho de contribuir com meu trabalho para o fortalecimento de uma universidade pública, gratuita e de qualidade, comprometida com a formação cidadã e com o desenvolvimento do nosso país. Uma instituição que transforma vidas por meio de conhecimento. Somos parte da engrenagem que faz a instituição funcionar e crescer”.

Compromisso e acolhimento no suporte aos Conselhos
Sabrina Toralles atua na Secretaria dos Conselhos Superiores (SCS). Conhecimento técnico, postura institucional e atenção permanente às normas e procedimentos que orientam a gestão universitária foram características que justificaram a concessão da honraria.

A apresentação do memorial foi feita pela reitora, Ursula Silva, que reconheceu a história de dedicação, competência, seriedade e humanidade que se reflete no bom andamento das pautas, colocando Sabrina como uma referência para conselheiros, pró-reitores, diretores e membros da comunidade que participam das reuniões e processos deliberativos. “Sua presença na Secretaria dos Conselhos Superiores é mais do que uma função: é a certeza de que os processos institucionais serão conduzidos com responsabilidade, precisão e cuidado”, disse, destacando ainda sua discrição, firmeza e diligência.

Ao longo dessas duas décadas, Sabrina esteve também envolvida em temas centrais para o funcionamento da UFPel, contribuindo para a elaboração de normativas institucionais e para a realização de concursos públicos.

Mas o que torna sua história verdadeiramente especial, explicou a reitora, é a forma como se relaciona com as pessoas. Sabrina recebe a todos com um sorriso — que já virou sua marca registrada —, sendo sempre gentil, acolhedora e generosa no trato com os colegas. “Trabalhar ao seu lado é sinônimo de leveza, parceria e confiança. Sua presença torna os ambientes mais humanos e os dias mais agradáveis — um exemplo claro de quem alia excelência profissional a valores humanos fundamentais”.

De acordo com Ursula, com os estudantes, a sensibilidade da homenageada é ainda mais evidente. “Muitos chegam ao Cocepe [Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão] em busca de uma última resposta diante de situações difíceis. Encontrar, na Sabrina, alguém que escuta com atenção, orienta com paciência e acolhe com respeito transforma essas vivências em momentos de compreensão e dignidade”, afirmou.

Segundo a gestora, Sabrina representa com excelência o que há de melhor no quadro técnico-administrativo da UFPel. “É por tudo o que fez, pelo que representa e pelo que inspira que propusemos, com profunda admiração e gratidão, a concessão do título”, arrematou.

Um dia para agradecer. Assim, Sabrina caracterizou a ocasião e dedicou grande parte de sua manifestação a prestar gratidão a gestores, colegas, familiares, amigos, parcerias e companheiras do dia a dia, professores, técnicos, estudantes e terceirizados.

Além de falar sobre a caminhada na UFPel, amizades e aprendizados, Sabrina ressaltou sua educação integral em escolas públicas e no curso de Direito da UFPel, aprendendo, em cada etapa, o valor e a força da educação pública.

Tendo no currículo o trabalho junto a cinco reitores e seus vices, cada qual com seu estilo e contribuições, Sabrina contou que compreende a cada dia sobre a importância das decisões acadêmicas e o impacto que elas têm no cotidiano da UFPel. “Aprendi que o trabalho técnico-administrativo é o alicerce de suporte ao ensino, à pesquisa e à extensão. É compromisso com o público, responsabilidade com o coletivo e o cuidado com cada detalhe que faz a UFPel uma instituição sólida e atuante”. Segundo ela, oferecer esse cuidado especialmente aos estudantes, que muitas vezes vêm de longe, torna a Universidade mais acolhedora e humana.

A UFPel foi e é, destacou, parte essencial da sua história. “Essa universidade me acolheu, me ensinou, me desafiou, me fez crescer como profissional e como pessoa”, afirmou. Sabrina disse sentir-se parte de uma Universidade que acolhe a diversidade, valoriza a inclusão e principalmente transforma vidas por meio do conhecimento. “Uma universidade que forma pessoas comprometidas com a justiça social, com o cuidado, e com a construção de um futuro mais humano e sustentável”, salientou.