Dia do Meio Ambiente chama atenção para a poluição por plásticos
O dia 5 de junho marca o Dia Mundial do Meio Ambiente, uma data que convida à reflexão e à ação em favor da preservação do planeta. Em 2025, o foco da campanha internacional promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) está no combate à poluição plástica, um problema que vai muito além dos oceanos e afeta diretamente a fauna, os ecossistemas e a saúde humana.
No Brasil, esse tipo de poluição representa um desafio urgente. O país está entre os maiores poluidores plásticos do mundo, ocupando a oitava posição global e a primeira na América Latina. Estima-se que cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico sejam lançadas nos oceanos todos os anos, o que representa 8% do total mundial.
A vida marinha é uma das mais atingidas por esse cenário. Um em cada dez animais que ingerem plástico no Brasil morre e cerca de 200 espécies já foram diretamente afetadas. O problema também chega aos seres humanos, uma vez que partículas microscópicas de plástico entram na cadeia alimentar e podem causar danos que ainda estão sendo estudados pela ciência.
Em 2019, uma pesquisa realizada pelo estudante Pedro Santaliestra, do curso de Engenharia de Materiais da UFPel, sob orientação da professora Fabiula de Sousa, confirmou a presença de microplásticos na Lagoa dos Patos. Em 400 litros de água coletados, foram encontrados 0,0846 gramas de fragmentos como polietileno de alta e baixa densidade e politetrafluoretileno. Foi o primeiro estudo a identificar esse tipo de contaminação na laguna.
“Detectar os microplásticos antes que os danos se tornem irreversíveis é fundamental. Esses dados são importantes para subsidiar políticas públicas e para aumentar a conscientização da população”, destaca a professora Fabiula de Sousa.
Os microplásticos têm entre 300 micrômetros e 5 milímetros. Eles podem surgir tanto de produtos como cosméticos e itens de higiene quanto da degradação de embalagens, roupas sintéticas ou redes de pesca. Quando presentes em ambientes aquáticos, impactam a fauna e podem chegar até os humanos, com riscos associados a inflamações, câncer e doenças como Alzheimer.
A taxa de reciclagem no Brasil, hoje em torno de 4%, agrava ainda mais a situação.
“Todos os setores da sociedade têm responsabilidade no combate à poluição plástica e na preservação dos ecossistemas aquáticos”, reforça a professora.
Projeto interdisciplinar monitora microplásticos após enchentes
Com base nesse cenário, a UFPel vem desenvolvendo diversos projetos que une ciência e compromisso ambiental. Uma dessas iniciativas, conduzida por professores e estudantes dos cursos de Química e Engenharia Hídrica, tem como objetivo monitorar os efeitos da contaminação por microplásticos nas águas da região, especialmente após as enchentes históricas de 2024.
O projeto “Do Macro ao Micro – Diagnóstico e Mapeamento da Poluição Plástica em Ecossistemas Aquáticos na Região de Pelotas-RS” realiza coletas frequentes no Canal São Gonçalo e na praia do Laranjal. A equipe da Engenharia Hídrica é responsável pela análise quantitativa das partículas, enquanto o grupo da Química identifica os tipos de plásticos encontrados.
Segundo o professor Wiliam Boschetti, um dos coordenadores da ação, o trabalho se tornou ainda mais importante após as cheias do ano passado. “Esse material permanecerá ali por centenas de anos, degradando-se em partículas cada vez menores. Por isso, monitorar a presença dessas micropartículas na Lagoa dos Patos é uma ação de grande relevância ambiental e social.”
O principal objetivo do projeto é produzir dados que ajudem a dimensionar os impactos da poluição plástica na região, contribuindo para políticas públicas e ações educativas.
Educação ambiental e descarte responsável
Além do projeto interdisciplinar, Wiliam junto aos professores Bruna Adriane Fary e Diogo La Rosa Novo criaram o projeto de extensão “Alternativas Sustentáveis para Materiais de Difícil Reciclagem”, que busca orientar a população sobre o descarte correto de resíduos como esponjas sintéticas e materiais de escrita.
De acordo com Wiliam, a iniciativa surgiu a partir de reuniões com estudantes e professores do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos, dentro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) de Química. “Em muitas conversas aqui no Centro, percebemos que os estudantes não sabiam direito o que acontecia com o lixo gerado em Pelotas, em especial com alguns materiais.”
Entre os resíduos mais coletados estão as esponjas de limpeza, principalmente pela dificuldade em reciclar a parte amarela, feita de poliuretano. “Percebemos que a maioria dos estudantes descartava as esponjas no lixo orgânico comum. Segundo os fabricantes, elas devem ser trocadas a cada 7 ou 10 dias. Imagina isso em Pelotas: toda semana, uma quantidade enorme de esponjas indo direto pro lixo doméstico”, relata Wiliam.
Pensando nisso, foram criados pontos de coleta na Faculdade de Química da UFPel, no campus Capão do Leão, no campus Anglo e também em duas escolas públicas de Pelotas, o Colégio Estadual Pelotense e a Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Félix da Cunha. A medida amplia o alcance e o impacto positivo da proposta.
Essas e muitas outras ações da UFPel reforçam o papel essencial da universidade na produção de conhecimento científico, na formação cidadã e na busca por soluções sustentáveis para os desafios ambientais. A luta contra a poluição plástica começa na ciência, passa pela educação e depende, acima de tudo, da ação coletiva.