Começa a segunda fase da restauração do Conservatório de Música
Foi lançada nesta quinta-feira (28) a segunda etapa do trabalho de restauração do histórico prédio do Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O projeto, aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC RS) e contemplado com financiamento do Sistema Pró-Cultura RS LIC/Governo do Estado do Rio Grande do Sul, prevê um investimento de R$ 1.205.086,20 no restauro de aberturas e sacadas, instalação de elevador e elevação de calçada, proporcionando acessibilidade ao prédio.
As primeiras obras no imóvel começaram em março de 2022. A etapa inicial, concluída em dezembro, contemplou o restauro total da cobertura e a conservação curativa e restauração de partes faltantes da fachada. Essa parte da recuperação foi crucial para garantir a resolução dos diversos problemas estruturais advindos da ação do tempo, garantindo as demais etapas para a revitalização total.
Na cerimônia, representantes da UFPel, da Associação dos Amigos do Conservatório de Música de Pelotas (Assamcon) e da empresa Santa Fé Produtora & Patrimônio, falaram sobre os próximos passos e a relevância das intervenções para o patrimônio pelotense.
A segunda fase da obra prevê o restauro das aberturas (23 de madeira e 20 de ferro) e 13 sacadas, instalação de elevador e elevação de calçada da rua para seu interior, medidas necessárias para proporcionar acessibilidade ao prédio. A empresa responsável pelas obras é a Maximize Engenharia e a responsabilidade técnica do projeto é do arquiteto Lessandro Rosa. As obras já estão iniciando e o prazo previsto para entrega dessa etapa é de nove meses. A captação de recursos foi via incentivo fiscal deduzido do ICMS de empresas da região.
A diretora do Conservatório, professora Magali Richter, destacou a emoção por mais um momento de cuidado para com o espaço, de 105 anos, cuja história musical é intimamente ligada com a do município. “Assim como a música, a vida que passa aqui também é um lindo movimento. Precisamos cuidar dessa casa como cuidamos do nosso próprio corpo”, disse. Segundo ela, a batalha pela restauração é antiga e apresentar a segunda parte da restauração é “realmente grandioso”. “A vida precisa de ajustes com o tempo, cada momento é uma nova etapa, com novas adaptações. Finalizamos o ano com essa vitória”, pontuou.
A produtora cultural Josiele Castro, da Santa Fé, junto da equipe responsável, falou sobre a previsão de trabalho para o novo momento, comemorando as ações que já foram realizadas. “Foi um ano difícil, mas chegamos aqui com sentimento de felicidade. Agradeço o empenho de cada pessoa por ter feito sua parte, que nos permitiu chegar aqui hoje”, disse. Segundo ela, serão necessárias ainda outras etapas para que o prédio esteja pronto para ser entregue à comunidade, como a readequação dos banheiros e do Salão Milton de Lemos, além da pintura da fachada externa. O projeto prevê, como atividades complementares, um Plano de Educação Patrimonial para crianças – diversas oficinas sobre o cuidado com a cidade e o patrimônio já foram feitas – e, como ação de conscientização, a distribuição de 1,5 mil kits contra a pobreza menstrual para jovens de escolas do município. Todas as etapas do restauro serão registradas, servindo como referência para estudantes e profissionais da área de Conservação e Restauro ou afins.
A união também foi um ponto mencionado pela presidente da Assamcon, Regina Lúcia de Sá Britto Fiss, que falou sobre a luta em prol do Conservatório, grande objetivo da entidade. “Somos gratos por ver Pelotas conseguindo recuperar seus prédios, em especial este associado à música. Só tenho a agradecer a Deus por nos dar força, saúde e união nas horas em que precisamos estar juntos”, afirmou.
Conquista coletiva e acessibilidade à vista
A prefeita Paula Mascarenhas destacou que uma das conquistas coletivas mais significativas em seu tempo de mandato foi o encontro da solução para o prédio do Conservatório – que, em sua parte térrea, antigamente abrigava o Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep). “O amor à cultura, à arte e ao patrimônio nos deu energia para buscar uma alternativa para que o Sanep pudesse atender a população de forma adequada e esse prédio passasse a ser integralmente do Conservatório”, observou. Segundo ela, conquistas coletivas são mais duradouras e permanentes e essa, fruto de uma luta longa que valeu a pena. “Sempre vou passar nessa quadra com emoção no coração e lembrar o quanto se pode fazer quando a gente se une com bons propósitos”.
Comemoração e atenção à acessibilidade foram a tônica do pronunciamento da reitora, Isabela Andrade. A gestora dirigiu um extenso agradecimento às entidades e pessoas que estiveram envolvidas no processo de restauro, que destacou como um marco na história do município e da Universidade. Arquiteta por formação, dedicando-se ao tema da acessibilidade, a reitora salientou que não é tarefa simples adaptar um prédio construído no passado, quando não se pensava em inclusão, para as demandas da sociedade. “Que sigamos na conservação de um espaço tão importante para Pelotas. Vida longa ao Conservatório”, conclamou.
O restauro é uma realização da empresa Santa Fé Produtora & Patrimônio, em parceria com a Assamcon e Reitoria da UFPel. A nova etapa de obras tem o patrocínio de Arrozeira Pelotas, Biri Refrigerantes, Irmãos Jouglard, Lifemed, Puro Grão e CMPC Celulose Riograndense.
O evento também contou com a apresentação do pianista Felipe Bunilha, que apresentou peças de Beethoven.
Sobre o prédio do Conservatório
O Conservatório de Música de Pelotas funcionou como instituição particular desde sua fundação em 1918, até ser municipalizado pela Lei n° 34, de 7 de maio de 1937, da Câmara Municipal de Vereadores de Pelotas. Em 17 de novembro de 1983, a Câmara Municipal aprovou e o prefeito Bernardo de Souza promulgou, através da Lei no 2.809, a transferência do Conservatório à UFPel, com todo o seu acervo de bens móveis.
O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPHIC), dentro das comemorações alusivas ao 173º aniversário de Pelotas e com a homologação do prefeito Bernardo de Souza, procedeu, em 03 de julho de 1985, ao Tombamento Municipal definitivo do prédio que abrigava em seu andar superior o Conservatório de Música de Pelotas, e no térreo (à época) as instalações administrativas do Sanep.
Em fevereiro de 2004, foi protocolado pelo deputado Bernardo de Souza, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, um projeto de lei que propunha o reconhecimento do Conservatório de Música da UFPel como Patrimônio Cultural do Estado. O referido projeto foi aprovado por unanimidade e reconhecido pela Lei no 12.133, de 26 de julho de 2004, o que deveria garantir a sua preservação e permanência como parte fundamental da história e da memória da cidade de Pelotas.
O prédio do Conservatório de Música, de acordo com o Edital de Notificação publicado no D.O.U. nº 82, de 30 de abril de 2018, passou a ser protegido, também, por Tombamento Federal, sendo considerada a sua preservação parcial, ou seja, conservação das características arquitetônicas, artísticas e decorativas externas do imóvel – fachada e volumetria.
O andar térreo do prédio histórico foi, desde 1965, ocupado pelo Sanep. Em 04 de abril de 2020, após cessão da Prefeitura de Pelotas mediante troca com a UFPel pelo prédio da antiga Justiça do Trabalho, o local foi integralmente repassado ao Conservatório.