Epidemiologia da UFPel integra consórcio internacional de pesquisa em genética populacional
Por meio de colaboração internacional de pesquisa, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) contribui para uma iniciativa pioneira que investigará os impactos da diversidade genética e ambiental na saúde da população mundial. O projeto, denominado pelo acrônimo em língua inglesa “Deep” (conjugação dos termos parceria, diversidade, epidemiologia e epigenética), conta com a participação de vinte grupos de pesquisa internacionais, incluindo o Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel. A iniciativa é coordenada pela Universidade de Bristol (Inglaterra) e financiada por instituição britânica voltada à pesquisa médica (MRC, na sigla em inglês).
Em um período de cinco anos, o estudo tem como objetivo produzir bases de dados genômicos das populações globalmente sub-representadas, basicamente as não europeias. Inicialmente, o projeto explorará questões centrais de saúde na primeira infância e saúde cardiovascular. Essas são áreas de grande interesse para as populações envolvidas, incorporando conjuntos de dados de populações africanas, asiáticas, norte e sul-americanas.
O membro do estudo pela UFPel, Fernando Hartwig, destaca que um dos pilares da pesquisa é o foco na metilação do DNA. Este processo epigenético, em que grupos químicos se ligam ao DNA para ativar ou inativar genes, exibe níveis que variam de uma população para outra. A sua influência é tanto por fatores genéticos quanto ambientais, como dieta, comportamentos e estilos de vida. “Mudanças na metilação do DNA estão associadas a diversas doenças, como câncer, patologias cardiovasculares e neurológicas. Portanto, é crucial estudar pessoas com diferentes contextos genéticos e ambientais para ampliar nossa compreensão sobre quais fatores estão causando diferenças na regulação das funcionalidades dos genes e, por consequência, diferenças no risco de doença”, destaca.
O pesquisador ressalta que grande parte das pesquisas sobre a relação entre epigenética e saúde populacional baseou-se em dados de pessoas de origem europeia até o momento. “Mensurar dados epigenéticos é bastante caro, o que contribui para a pouca representatividade de populações em países de baixa ou média renda neste tipo de pesquisa”, comenta. O projeto Deep busca preencher essa lacuna ao investigar a variabilidade genética e ambiental, juntamente com seu impacto na saúde.
Contribuição local
Um aspecto crucial deste projeto é a capacitação de profissionais para realizar análises de epigenética e para o gerenciamento eficiente dos dados requeridos. A UFPel disponibilizará dados do estudo de coorte de nascimentos de 1982 em Pelotas, seguindo todos os protocolos éticos (as coortes consistem em um conjunto de indivíduos que têm em comum um evento, o nascimento, que se deu no mesmo período). Pesquisadoras e pesquisadores atuantes na região receberão treinamento para tratar e analisar estes dados, que também estarão disponíveis para investigações de interesse local.
Segundo a pesquisadora de epidemiologia do Conselho britânico de Pesquisa Médica (instituição que financia a pesquisa) na Universidade de Bristol e uma das líderes do projeto, Hannah Elliott, “trabalhar com grupos de pesquisa que compreendem a saúde das suas respectivas coortes e conseguem compartilhar de forma efetiva os resultados com as comunidades locais que doaram o seu DNA é essencial”. Alinhando-se ao compromisso de estudar indivíduos de diversos contextos genéticos e ambientais, o projeto Deep oferece uma contribuição para o avanço da ciência básica.
Além de expandir a compreensão sobre perfis de metilação do DNA e a saúde humana, permitirá a identificação de mecanismos causadores de doenças comuns globalmente e os que são únicos para determinados grupos ou regiões. Em ultima análise, essas descobertas podem contribuir para tornar medidas de saúde pública e intervenções preventivas e terapêuticas mais efetivas e colaborar para a redução das desigualdades de saúde em âmbito mundial.