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Cerimônia marca o lançamento do restauro do Conservatório

Um momento muito esperado concretizou-se na manhã desta terça-feira (15): o começo da primeira etapa do restauro do prédio do Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O marco inicial executivo do projeto ocorreu com uma cerimônia que reuniu diversas personalidades e instituições que contribuíram para que o imóvel seja recuperado. O início dos trabalhos está previsto para março.

Os participantes foram unânimes em destacar a importância do Conservatório para Pelotas, para a região e o país, seus laços com a comunidade e a emoção pelo trabalho árduo e a união que viabilizará a revitalização do prédio.

A edificação será restaurada por meio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do Estado do Rio Grande do Sul. Os recursos captados para a obra, via incentivo fiscal deduzido do ICMS de empresas do município, somam R$ 1,264 milhão. Estão previstos o restauro da cobertura com colocação de telhas portuguesas tipo capa canal e a conservação curativa e restauração de partes faltantes das fachadas do sobrado. O projeto conta com o apoio das empresas Arrozeira Pelotas, Biri Refrigerantes, Cerealista Polisul e Irmãos Jouglard. A Santa Fé é a empresa responsável pela execução geral do restauro do prédio.

O palacete, localizado na esquina das ruas Félix da Cunha e Sete de Setembro, foi construído entre 1832 e 1835. Foi residência do charqueador Domingos de Castro Antiqueira, o Visconde de Jaguari, e chegou a receber Dom Pedro II. (Saiba mais abaixo).

A primeira etapa da revitalização deve durar doze meses e representará basicamente o início do restauro. Serão duas “frentes” de trabalho. O plano de cobertura inclui a substituição total ou parcial de madeiramento, instalação de cobertura para conforto térmico e impermeabilizante e a troca de 565 m2 de telhado. Serão quase 3 mil telhas novas, 250 placas OSB para subcobertura e quase 600 m2 de manta termo impermeável. Depois, o trabalho será voltado às três fachadas do imóvel, com requalificação total de elementos, preparando para pintura e acabamento. O trabalho consiste em estabilizar patologias como infiltrações, descolamento de rebocos e retirada de vegetação da fachada. Os materiais a serem usados no restauro serão determinados após análise do Laboratório de Engenharia de Materiais da UFPel, que vai indicar as melhores compatibilidades para oportunizar maior durabilidade e excelência. Também serão refeitos os frisos e ornamentos, que vêm da família dos estuques decorativos de Pelotas. Os restauradores apontam a fachada da rua Félix da Cunha como a mais agredida pelo tempo.

Além da troca da cobertura e conservação curativa das fachadas, está previsto um Plano de Educação Patrimonial, na forma de vídeo, sobre as intervenções realizadas no telhado e audiovisual referente às vistorias de drone na obra, que servirão como referenciais para estudantes ou profissionais da área de Conservação e Restauro ou afins.

Assim que concluídas as obras, a etapa seguinte deverá contemplar a recuperação da parte interna do prédio, restauro das aberturas, pinturas e instalação de elevador, permitindo acessibilidade inclusive ao Salão Milton de Lemos.

Júbilo coletivo pela revitalização

Foto: Gustavo Vara

Na cerimônia, a professora Sônia Cava, do Centro de Artes, tocou ao piano “Valsa da Dor”, de Villa-Lobos. O assessor especial de Relações Institucionais da Prefeitura, Henrique Pires, lembrou que o momento se reveste de um significado simbólico, já que há cem anos, em São Paulo, ocorria o famoso concerto de Guiomar Novaes na Semana de Arte Moderna de 22. A pianista frequentou Pelotas e, em sua segunda vinda à cidade, esteve no Conservatório. Assim, disse, a cerimônia também marca o início das comemorações da Semana de Arte Moderna em Pelotas, que terá atividades ao longo do ano.

A seguir, a equipe do projeto explanou a respeito das particularidades da revitalização e da importância histórica do prédio. “A cidade se sente pertencente a esse espaço, que é um dos mais antigos em funcionamento do Brasil. É muita história e encantamento nesse local. Podem contar com toda a nossa dedicação e empenho nesse trabalho”, afirmou a diretora de Marketing da Santa Fé, Flávia Kuhn.

A diretora do Conservatório, professora Magali Richter, agradeceu a todas as pessoas que se dedicaram para que o tão esperado momento de restauro chegasse. “Além da importância em termos de edificação, tem a história de muita gente dentro dessa Casa. Muitas vidas passaram por aqui, deixaram sua contribuição, e muitas ainda hoje contribuem”, disse.

A presidente da Associação Amigos do Conservatório de Música (Assamcon), Regina Sá Britto Fiss, uniu-se aos agradecimentos a todos os atores envolvidos. “São muitas pessoas que vêm somando para que esse prédio não perca sua identidade e seu valor histórico dentro da cidade”, observou.

O secretário Municipal de Cultura, Paulo Pedrozo, parabenizou a produtora Santa Fé pelo trabalho realizado junto a diversos prédios históricos de Pelotas e a parceria da UFPel.

O pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da UFPel, Paulo Ferreira Júnior, destacou na ocasião que a Universidade enfrenta uma crise financeira e estrutural e precisa de muita ajuda da comunidade para cumprir sua missão, como essa. “É um desafio para a UFPel manter seu patrimônio. Ficamos muito gratos pela parceria com a Santa Fé. É momento de agradecer à sociedade por nos apoiar nesse movimento”, disse.

A vice-reitora, Ursula Silva, lembrou, como ex-diretora do Centro de Artes, da luta por mais de oito anos para que o prédio passasse integralmente à Universidade – seu andar térreo era ocupado anteriormente pelo Sanep. (Saiba mais aqui). Ela agradeceu o carinho da comunidade pelo espaço e ressaltou a responsabilidade com a história, salientando também o olhar para o futuro. “Pelotas e região merecem uma educação musical, uma educação para o sensível. Não queremos honrar apenas os que já passaram por aqui, mas que os jovens possam estar nesse espaço sagrado em termos de música. Pelotas se engrandece com a manutenção e perpetuação desse local que muito nos honra”, sublinhou.

Foto: Gustavo Vara

A reitora Isabela Andrade destacou a alegria do momento de emoção compartilhada entre UFPel, Prefeitura, Santa Fé, Assamcon e comunidade parceira. A gestora falou também sobre a importância da LIC, que tem garantido a viabilização de obras como a de restauro do Conservatório, que perpassa a história do município. “Que possamos seguir adiante e buscar novas parcerias para essas edificações que misturam a história da cidade e da Universidade”, disse.

Para a prefeita Paula Mascarenhas, Pelotas é patrimônio cultural brasileiro e o Conservatório, como palco histórico, conta muito dessa história. Segundo ela, a Prefeitura tinha uma dívida coletiva com a comunidade enquanto o prédio não voltava em todo o seu vigor para usufruto da comunidade. “Agora ele começa a retornar em todo o seu esplendor e beleza. Será um trabalho minucioso e sensível nesse prédio que merece voltar recuperado para a nossa comunidade. Em breve estaremos aqui para admirar o resultado e aplaudir as pessoas que fazem essa história”, afirmou.

Equipe
A Santa Fé é a empresa responsável pela execução geral do restauro do prédio. A elaboração e gestão do projeto são da produtora cultural Josiele Castro. Fazem parte da equipe do projeto a diretora de Marketing Flávia Kuhn, a engenheira civil Michele Bandeira Zehetmeyer, a estagiária de engenharia Shaiane Rosa Tarouco e os mestres conservadores restauradores Flávia Silva Faro, Isabela Torino e Fábio Galli Alves. São prestadoras de serviços as empresas Lessandrorosa Arquitetura e Design e Edipel Construções. A responsabilidade técnica é do arquiteto Lessandro Rosa.

Sobre o prédio do Conservatório
O Conservatório de Música de Pelotas funcionou como instituição particular desde sua fundação em 1918, até ser municipalizado pela Lei n° 34, de 7 de maio de 1937, da Câmara Municipal de Vereadores de Pelotas.

Em 17 de novembro de 1983, a Câmara Municipal aprovou e o prefeito Bernardo de Souza promulgou, através da Lei nº 2.809, a transferência do Conservatório à UFPel, com todo o seu acervo de bens móveis.

O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPHIC), dentro das comemorações alusivas ao 173º aniversário de Pelotas e com a homologação do prefeito Bernardo de Souza, procedeu, em 03 de julho de 1985, ao Tombamento Municipal definitivo do prédio que abrigava em seu andar superior o Conservatório de Música de Pelotas, e no térreo (à época) as instalações administrativas do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep).

Em fevereiro de 2004, foi protocolado pelo deputado Bernardo de Souza, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, um projeto de lei que propunha o reconhecimento do Conservatório de Música da UFPel como Patrimônio Cultural do Estado. O referido projeto foi aprovado por unanimidade e reconhecido pela Lei nº 12.133, de 26 de julho de 2004, o que deveria garantir a sua preservação e permanência como parte fundamental da história e da memória da cidade de Pelotas. Embora o prédio estivesse vulnerável, o patrimônio imaterial estava assegurado.

O prédio do Conservatório de Música, de acordo com o Edital de Notificação publicado no D.O.U. nº 82, de 30 de abril de 2018, passou a ser protegido, também, por Tombamento Federal, sendo considerada a sua preservação parcial, ou seja, conservação das características arquitetônicas, artísticas e decorativas externas do imóvel – fachada e volumetria.

O andar térreo do prédio histórico foi, desde 1965, ocupado pelo Sanep. Em 04 de abril de 2020, após cessão da Prefeitura de Pelotas mediante troca com a UFPel pelo prédio da antiga Justiça do Trabalho, o local foi integralmente repassado ao Conservatório. Foram quase dez anos de luta do Centro de Artes da UFPel para que isso ocorresse. Durante esse processo, houve uma ação conjunta entre servidores e apoiadores da comunidade para que o imóvel recebesse reparos pontuais e, também, para que ambas as instituições importantes para Pelotas – o Conservatório e o Sanep – pudessem estar adequadamente alocadas.