Pesquisa aponta redução de 89% nos atendimentos odontológicos de crianças durante a pandemia
Uma pesquisa realizada por estudantes e docentes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade do Vale do Taquari (Univates) aponta a redução de 89% no total de atendimentos odontológicos de crianças no período de contágio exponencial da COVID-19 nos meses de abril e maio de 2020. Os reflexos da redução devem ser sentidos futuramente com a sobrecarga nos serviços odontológicos. O objetivo da pesquisa foi estimar o impacto da pandemia nos procedimentos odontológicos de odontopediatria realizados no SUS.
O estudo retrospectivo utilizou dados de todos os atendimentos odontológicos realizados no SUS em 99,9% dos municípios brasileiros e no Distrito Federal. De acordo com o professor da Univates, Luiz Alexandre Chisini, foram utilizados dados longitudinais dos meses de janeiro de 2019 a maio de 2020 do Sistema de Informações do SUS e do IBGE. “Criamos uma série histórica dos procedimentos de odontopediatria desse período à nível municipal. Para podermos fazer uma comparação de municípios de diferentes portes populacionais, calculamos a taxa de procedimentos, ou seja, quantos procedimentos foram realizados a cada 10 mil habitantes em cada um dos 5.564 municípios com dados de saúde bucal. Assim, obtivemos uma taxa de procedimentos para cada município”, explica.
A pesquisa estimou o impacto de duas formas diferentes. A primeira foi comparando a mudança nas taxas dos procedimentos durante todo o período e a segunda, comparando os meses de 2020 com os respectivos meses de 2019. A segunda estimativa considera um período menor, porém, evita que a sazonalidade, variações que ocorrem naturalmente durante os meses do ano, por exemplo, no período de férias, interfira nas estimativas.
Resultados
A região sudeste, que apresentava a maior realização de atendimentos odontopediátricos no Brasil foi a região com o maior impacto, seguida da região Sul. Considerando todo o Brasil, o estudo observou uma redução de 66% na incidência de razão de taxas (IRR) nos tratamentos pediátricos realizados no SUS quando considerado o impacto a partir do primeiro caso da COVID-19, ou seja, de fevereiro à maio.
Considerando o período de contágio exponencial (abril a maio), o estudo observou uma redução drástica de 89% no total de procedimentos em crianças. Quando a análise foi realizada comparando abril e maio do ano atual com os respectivos meses de 2019, os procedimentos pediátricos realizados no serviço público de saúde apresentaram uma redução ainda maior: 96% de redução na incidência de razão de taxas de abril e maio.
De acordo com Chisini, o principal resultado do estudo é que a pandemia da COVID-19 teve um impacto forte e negativo na população pediátrica que realiza tratamentos odontológicos no SUS, especialmente quando a pandemia começou seu crescimento exponencial em abril. “A interrupção repentina e contínua do atendimento odontológico pode aumentar a demanda já sobrecarregada e sobrecarregar ainda mais os serviços num futuro próximo”, alerta o pesquisador.
O pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Flávio Demarco, que também atuou na pesquisa, alerta que os reflexos das reduções de atendimentos durante a pandemia provavelmente afetarão ainda mais as crianças já socialmente vulneráveis e excluídas, aumentando as disparidades já observadas em relação à saúde bucal no país. Desta forma, os pesquisadores fazem um alerta aos gestores para a necessidade de fomentar políticas públicas que visem a equidade.