Nova etapa de pesquisa estima que RS tenha 15.066 pessoas infectadas pela Covid-19
Segunda fase da pesquisa indica que há um caso da doença a cada 769 habitantes, quando na primeira rodada era de um caso para cada 2 mil habitantes
Os números da segunda etapa da pesquisa por amostragem para estimar o percentual da população do Rio Grande do Sul infectada pelo novo coronavírus, a partir dos 4.500 testes aplicados em nove cidades de diferentes regiões, no último final de semana, estima que 15.066 pessoas já foram contaminadas pela Covid-19. Na primeira rodada, este universo ficava em 5.650 pessoas.
A partir dos 500 testes aplicados em cada município selecionado, seis resultaram positivos para a presença de anticorpos da doença, o que corresponde a 0,13% da população gaúcha (um caso para cada 769 habitantes). Na rodada inicial, quando o trabalho de campo ocorreu no feriadão de Páscoa, dos 4.189 testes aplicados, dois resultaram positivos (0,05% da população – um caso para cada grupo de 2 mil habitantes). “A pesquisa foi desenhada para enxergar o iceberg como um todo, muito além da sua parte visível”, diz o epidemiologista Pedro Hallal, coordenador do projeto e reitor da UFPel.
O estudo inédito encomendado pelo governo do Estado e coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) terá ainda mais duas fases com o objetivo de identificar a prevalência da Covid-19 e projetar incidência de casos mais graves e até o grau de letalidade da doença. Os resultados dessa etapa foram apresentados nesta quarta-feira (28), novamente durante entrevista coletiva de imprensa do governador Eduardo Leite.
Em sua fala, o governador agradeceu o apoio da comunidade científica do Rio Grande do Sul, em especial das 12 universidades envolvidas na pesquisa. “A nossa estrutura de Saúde, junto com os cientistas das nossas universidades, nos traz informações seguras, necessárias para o enfrentamento da pandemia”, destacou.
O estudo reflete uma realidade do avanço da doença de duas semanas atrás, pois o teste utilizado (WONDFO SARS-CoV-2 Antibody Test) avalia anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção de cerca de duas semanas antes da coleta e não identifica o vírus ativo logo após o contágio.
A pesquisa mostra também que, para cada diagnóstico do coronavírus nesses municípios, existem agora cerca de outros 12 casos não notificados. Na primeira rodada do estudo, esta relação era de um para quatro casos não notificados.
A nova etapa da pesquisa confirma também a alta transmissibilidade do vírus no ambiente doméstico. Apenas uma das seis pessoas testadas positivo para Covid-19 morava sozinha. Nas outras cinco, foi identificada a presença de anticorpos para o novo coronavírus nos demais membros da família. No total, foram testados 12 familiares dos quais 75% tiveram resultado positivo.
Distanciamento social
Responsável por coordenar o trabalho da epidemiologia do Covid-19, o reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, fez a divulgação dos resultados da pesquisa. Ele abordou também os aspectos da pesquisa que mostram uma pequena mudança no comportamento dos gaúchos para se prevenirem do contágio. Segundo a pesquisa, houve um aumento importante das pessoas que passaram a sair de casa diariamente: eram 20,6% dos pesquisados na primeira consulta e agora este percentual saltou para 28,3%.
Já o contingente de pessoas que declaram sair apenas para as necessidades essenciais caiu de 58,3% para 53,4% dos entrevistados. Recuo semelhante ocorreu neste intervalo de duas semanas entre aqueles que disseram cumprir o isolamento total: eram 21,1% e agora são 18,3%. “Estes dados são importantes para que os municípios consigam dosar os seus decretos de acordo com este grau de cumprimento das recomendações de distanciamento social”, explica Hallal.
O estudo vem mobilizando um grupo de especialistas de outras universidades federais e privadas do RS. A ideia surgiu nas discussões do Comitê de Análise de Dados sobre a pandemia, instituído há poucos dias pelo governador, e que tem no comando a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos. Para a secretária, o trabalho que está sendo realizado pelas Universidades é essencial para que o governo possa planejar as políticas públicas de enfrentamento ao coronavírus. “Estamos usando a ciência da melhor forma para nos dar uma orientação de como proceder frente à pandemia. A pesquisa possibilita olhar para frente, projetar o avanço da pandemia no estado e planejar as medidas necessárias para prevenção e enfrentamento”, disse Leany.
A secretária de Saúde, Arita Bergmann, destacou a importância do apoio dos gestores e da população dos municípios em que a pesquisa foi executada. “Os casos positivos são acompanhados pelos municípios e informados para o sistema do estado. A população também está colaborando com a pesquisa, entendendo que a participação é importante para que possamos analisar a prevalência de circulação do vírus”, salienta.
Pesquisa de campo
Seguindo critérios do IBGE sobre o perfil populacional, nessa segunda rodada foram testadas 500 pessoas em cada uma das seguintes cidades: Pelotas, Uruguaiana, Ijuí, Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Porto Alegre. As nove cidades onde foram realizadas as coletas, incluindo Porto Alegre, representam 31% da população gaúcha (11,3 milhões de habitantes). A próxima etapa está prevista para ocorrer entre os dias 9 e 11 de maio.
A pesquisa mobiliza uma rede de 12 universidades federais e privadas: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Pampa (Unipampa/Uruguaiana) e Universidade de Caxias do Sul (UCS), Imed Passo Fundo, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/Passo Fundo) e Universidade de Passo Fundo (UPF) e Unilasalle-Canoas. O estudo tem um custo estimado em R$ 1,5 milhão e tem o apoio da Unimed Porto Alegre, do Instituto Cultural Floresta, também da capital gaúcha, e do Instituto Serrapilheira, do Rio de Janeiro.
O Ministério da Saúde enviou 20 mil kits para viabilizar a aplicação dos testes e já programa replicar o mesmo estudo no restante do país.
Pesquisa nacional
Os dados obtidos no atual estágio da pandemia são similares aos coletados em outros países como Áustria e Islândia. Eles se referem exclusivamente ao estado do Rio Grande do Sul, mas o EPICOVID19 também será replicado no Brasil inteiro. A previsão é de, a partir de 5 de maio, coletar amostras em 133 cidades em todos os estados. Em cada fase, serão realizados mais de 33 mil testes, totalizando quase 100 mil ao final das três fases previstas. “Esta pesquisa, pioneira aqui no Rio Grande do Sul, será implementada no Brasil inteiro, tornando-se o maior estudo do mundo sobre prevalência do novo coronavírus”, afirma Pedro Hallal.
Números da pesquisa/ segunda etapa:
- Para cada 1 milhão de habitantes no RS, estima-se que existam 1.300 infectados reais, 108 notificados
- Para cada caso notificado nas nove cidades da pesquisa, existem cerca de 12 casos não notificados.
- A letalidade da Covid-19 no RS está em 3,6% dos casos notificados (49 óbitos/1.350 casos até 28/4)
- Com base na estimativa do estudo, a letalidade está em 0,33% (49 óbitos para 15.066 casos)
Fotos: Daniela Xu