Integrante de trabalho que conquistou o Prêmio Nobel da Paz fala sobre desarmamento nuclear
A comunidade acadêmica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) teve a oportunidade de ouvir, na manhã desta sexta-feira (24), a experiência do professor Cristian Wittmann, da Universidade Federal do Pampa – Campus Santana do Livramento (Unipampa) no Comitê Gestor da Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares (ICAN). A ação deu origem ao Tratado Global para Proibir as Armas Nucleares, adotado por 122 países, em julho, na Organização das Nações Unidas (ONU). O envolvimento levou a ICAN a vencer o Prêmio Nobel da Paz 2017. Na passagem pela UFPel, Wittmann falou sobre o desenvolvimento das negociações que deram origem ao Tratado e mostrou o quão longe um projeto de extensão pode chegar.
“Não existem ações simples ou pequenas. Todas estão conectadas no espectro da promoção dos Direitos Humanos”, ressaltou Wittmann, líder do projeto de extensão “Grupo de Práticas em Direitos Humanos e Direito Internacional”. Minas terrestres, bombas cluster, robôs assassinos e, claro, armas nucleares, estão entre os desafiantes temas com que os acadêmicos se envolvem.
Desenvolvendo trabalhos na área de desarmamento há 13 anos, o professor foi um dos convidados para integrar a equipe da ICAN, que pretendeu ampliar a participação latino-americana no pensamento de estratégias e formas de erradicação dessa arma de destruição em massa.
Durante o processo de estabelecimento do Tratado, contou, foram várias frustrações, mas também conquistas – apesar dos muitos interesses em jogo e da necessidade de confrontar paradigmas sustentados, entre outros pilares, na crença de que alguns países ou governantes são mais ou menos perigosos. “Um dos alertas da ICAN é que, além do uso militar, há o risco de detonação acidental. A todo instante estamos sendo ameaçados pela simples existência dessas armas”, observou.
Caráter de ilegalidade
Conforme o professor, a conquista liderada pela ICAN representa uma façanha histórica, motivada por uma luta que vem desde a década de 1950. “Hoje, 71 anos depois de Hiroshima e Nagasaki, conseguimos um resultado efetivo e a última arma de destruição em massa está sendo proibida”, pontuou. O Tratado é considerado um caminho para a eliminação, a médio e longo prazo, das armas nucleares. “Estamos estabelecendo um paradigma de ilegalidade”, afirma. As nove potências nucleares, das quais, cinco são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido), não foram signatárias. Além de vencer essas barreiras, ainda há, também, os demais países que não são considerados potências nucleares, mas que fazem parte de alianças militares com essas nações para sua proteção. “Alguns dizem que o Tratado é simbólico, mas é de fato um instrumento jurídico bastante amplo que considera uma existência a caminho da segurança”, explica.
Fazendo a diferença
Ao receber o convidado, o vice-reitor da UFPel, Luís Amaral, observou que o discurso a favor do desarmamento nuclear já se formava na sociedade mas que, no entanto, ainda faltavam ações que mudassem o cenário. “A humanidade precisava fazer alguma coisa. Temos o orgulho de receber um representante dessa ação na UFPel”, disse.
A pró-reitora de Extensão e Cultura, Francisca Michelon, falou sobre o envolvimento e o comprometimento com a cultura da paz. “Precisamos de paz e de pessoas que vão à frente. A extensão tem colocado as universidades no cumprimento de sua missão social”, destacou.
Para Wittmann, a conquista do Prêmio Nobel traduz a mensagem de que pessoas comuns, reunidas em torno de um objetivo, podem provocar um impacto grandioso.
A palestra foi uma das atrações da 3ª Semana Integrada de Inovação, Ensino Pesquisa e Extensão (SIIEPE) da UFPel.