Estudo analisa relação entre indicadores socioeconômicos e de saúde materno-infantil
O índice de bens é o melhor indicador socioeconômico para identificar crianças em risco de apresentar déficit de altura para a idade em famílias nos países de baixa e média renda.
É o que mostra pesquisa desenvolvida em dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, de autoria do estatístico Luís Paulo Vidaletti, sob orientação do professor Aluísio Jardim Dornellas Barros.
O estudo analisou a capacidade de dois índices de riqueza para distinguir a condição socioeconômica de famílias e sua relação com déficit de altura para a idade entre crianças em países de baixa e média renda: o índice de bens e o índice de gastos com consumo. Informações sobre posse de bens e condições de moradia, gastos com consumo e medidas antropométricas de crianças de até cinco anos foram obtidas a partir de inquéritos domiciliares nacionais da pesquisa Living Standards Measurement Study em dez países: Panamá, Uganda, Timor Leste, Tanzânia,Gana, Nigéria, Tajiquistão, Burkina Faso, Iraque e Malauí.
Os pesquisadores dividiram a população de cada país em cinco grupos econômicos, de acordo com o índice de bens e com o índice de gastos com consumo, isoladamente, e avaliaram a concordância entre os níveis econômicos gerados por cada índice. Paralelamente, o estudo verificou se havia associação entre maiores médias de déficit de altura para a idade e o grupo mais pobre. Em razão da forte associação com a situação de pobreza, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) recomenda o déficit estatural como parâmetro para validação de indicadores de nível socioeconômico.
Os resultados apontam que o índice de bens é melhor preditor de déficit de altura do que o índice de gastos com consumo. Oito países (80%) apresentaram associação entre médias de déficit de altura para a idade e nível socioeconômico em ambos os índices, com exceção apenas de Malaui e Nigéria. O índice de bens discriminou melhor a riqueza das famílias e a associação com medidas da altura infantil em sete países, somente na Tanzânia o índice de gastos com consumo teve desempenho superior.
“Em países de baixa e média renda, um percentual mais elevado da população vive em zonas rurais, onde os gastos com consumo perdem poder de discriminar as famílias em relação às suas riquezas, diferentemente da posse de bens e das condições de moradia. Parte das necessidades de consumo da família pode ser resolvida em trocas diretas de produtos agrícolas”, explica o autor do trabalho.
A pesquisa demonstra que existe concordância baixa entre os índices testados no Tajiquistão e Gana, concordância alta apenas no Panamá e concordância intermediária em sete países. Segundo o pesquisador, o índice de bens tem desempenho superior no processo de validação em relação ao déficit de altura, o que justifica o seu uso na análise de inquéritos domiciliares de saúde. “É por esse motivo que pesquisas em saúde incluem perguntas sobre ter fogão, geladeira, televisão, rádio, telefone, carro, por exemplo. Quem está participando pode estranhar, pensar ‘o que isso tem a ver com saúde?’ Nosso estudo colabora para explicar essa relação”, comenta o autor.
“Um dos principais focos do trabalho com indicadores de saúde é garantir que as intervenções estejam atingindo a todas as pessoas que delas precisam, independente de sexo, idade, etnia, localização geográfica ou nível socioeconômico. A correta identificação de grupos mais pobres é fundamental para minimizar o impacto de desigualdades econômicas sobre a cobertura de intervenções em saúde para a população”, conclui.