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Universidade Mais Humana: Homofobia

TopoA Universidade Federal de Pelotas está cada vez mais caminhando em direção à valorização da vida. Nesta série de matérias de boas-vindas ao ano letivo, estão sendo apresentadas práticas, histórias de vida e maneiras de colaborar para que tenhamos cada vez mais uma instituição de ensino superior comprometida com a vida e mais humana.

Estão sendo abordados temas como racismo, homofobia, xenofobia, violência contra a mulher, AIDS e Doenças Sexualmente Transmissíveis, Alcoolismo e Drogas, Solidariedade, Cuidado com os Animais, Desperdício, Trote Solidário e Sustentabilidade.

São os estudantes, os professores e os servidores que fazem a UFPel ser o que ela é – e tornar-se tudo o que pode ser. Ao acolher sua comunidade acadêmica, a Universidade Federal de Pelotas deseja que cada um possa fazer de 2016 uma oportunidade para construir uma universidade mais humana.

Homofobia

Preconceito O ódio, a aversão, a discriminação e, sobretudo, a violência contra homossexuais são atos que constituem o que é chamado de homofobia. Em sentido amplo, a homofobia atinge gays, lésbicas, travestis e transexuais. Mesmo com todos os esforços empreendidos pela Gestão da Universidade neste campo, como a possibilidade, desde 2013, de estudantes serem identificados por seu nome social, o que foi considerado pela comunidade como uma grande conquista, há muito a ser feito para transformar a realidade, que por muitas vezes se mostra cruel ao extremo.

Segundo o Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil, divulgado em fevereiro do ano passado pelo Grupo Gay da Bahia, 326 pessoas morreram no Brasil em razão da homofobia em 2014 (um assassinato a cada 27 horas).

Para a professora Alessandra Gasparotto, do Instituto de Ciências Humanas da UFPel, estes dados são assustadores. “Há um elemento importante em relação à questão LGBT no Brasil. Ao mesmo tempo em que há uma série de avanços nos últimos anos, em termos de visibilidade e afirmação de direitos, os dados relativos à violência contra esta população também tem aumentado consideravelmente,” observa a professora, que também é uma das organizadoras da Jornada da Diversidade Sexual, que ocorre anualmente na Universidade.

Ela salienta que a população LGBT precisa sentir-se representada, sentir-se respeitada, e para isto, é necessário dar-lhe visibilidade. “Ainda assistimos a um número significativo de casos de violência e preconceito, o que gera constrangimentos, sofrimento e evasão. Romper com tais práticas é essencial para garantir e qualificar a permanência dos estudantes no ensino superior,” preconiza.

A docente também aponta que, no caso de travestis, transgêneros e transexuais, há dificuldades ainda maiores, porque se estima que quase 90% da população trans não conclui a Educação Básica. O seu acesso ao ensino superior é muito limitado. Neste ano, de sete milhões de estudantes inscritos no Enem, 278 foram travestis e transexuais que reivindicaram o direito de utilizar o seu nome social na inscrição do exame. “Evidente que é um número pequeno, mas representa um aumento significativo (quase 172%) em relação ao ano anterior. As universidades precisam se preparar para acolher estes estudantes, para que seja possível garantir a sua permanência e criar uma cultura institucional de respeito às diferenças,” apregoa.

Para Márcia Monks Jaekel, transexual, estudante do sétimo semestre do curso de Teatro, falta informação e educação sobre o tema. Ela diz que a maioria das pessoas não sabe diferenciar orientação sexual de identidade e gênero. “Existem muitos homossexuais na Universidade, mas quando as pessoas veem uma trans, não aceitam,” declara a estudante. Ela diz ainda que esta não-aceitação, por muitas vezes, faz com que não se sinta parte do ambiente da sala de aula.

Márcia defende que haja políticas públicas específicas que assegurem a dignidade dos LGBTs e combatam a violência. Ela acredita que também na Universidade é necessário que os professores sejam mais esclarecidos para informar melhor aos alunos. “A partir do momento que eu vejo este tipo de agressão em um lugar onde se formam intelectuais e doutores, isso me dói,” confessa a estudante, que presenciou episódio da pichação homofóbica na porta do banheiro do RU, em julho do ano passado.

Atualmente, a Universidade conta com muitos coletivos que atuam de forma significativa para romper com o preconceito em relação à população LGBT. Há também estudantes mobilizados, grupos, núcleos e projetos de pesquisa e extensão fomentando a discussão.

A professora Alessandra é a favor da promoção de mais ações que valorizem esta temática. Ela defende a criação de órgão específico para receber denúncias em relação à prática de qualquer tipo de preconceito, tais como homofobia, transfobia, machismo e racismo. “E acho que a inclusão destas temáticas nos currículos dos cursos de graduação é fundamental, especialmente no caso das Licenciaturas. A formação de professores não pode prescindir de uma discussão qualificada sobre homofobia e respeito às diferenças de gênero e orientação sexual”.

A estudante Márcia acredita que só através da educação e do debate filosófico se pode superar a questão do preconceito, que é fruto da desinformação. Questionada sobre suas expectativas, Márcia disse que pretende formar-se, ser professora de Teatro, continuar trabalhando com o que gosta e lutando para que a sociedade se sensibilize mais com a causa LGBT. Sobre suas angústias, disse que  seu maior medo é sofrer uma agressão gratuita, “como tem acontecido em tantos casos por aí”.

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Publicado em 22/02/2016, nas categorias Destaque, Notícias.
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