Universidade Mais Humana: Alcoolismo e Drogas
A Universidade Federal de Pelotas está cada vez mais caminhando em direção à valorização da vida. Nesta série de matérias de boas-vindas ao ano letivo, estão sendo apresentadas práticas, histórias de vida e maneiras de colaborar para que tenhamos cada vez mais uma instituição de ensino superior comprometida com a vida e mais humana.
Estão sendo abordados temas como racismo, homofobia, xenofobia, violência contra a mulher, AIDS e Doenças Sexualmente Transmissíveis, Alcoolismo e Drogas, Solidariedade, Cuidado com os Animais, Desperdício, Trote Solidário e Sustentabilidade.
São os estudantes, os professores e os servidores que fazem a UFPel ser o que ela é – e tornar-se tudo o que pode ser. Ao acolher sua comunidade acadêmica, a Universidade Federal de Pelotas deseja que cada um possa fazer de 2016 uma oportunidade para construir uma universidade mais humana.
Álcool: uma armadilha perigosa
O uso de drogas psicoativas, sobretudo o álcool, está comumente ligado ao desejo de prazer, beleza e sucesso, muitas vezes alardeado em anúncios publicitários, atraindo jovens ao consumo indiscriminado. Profissionais da saúde alertam para os malefícios do álcool contra a integridade física e psicológica das pessoas.
O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), em 2012, constatou que, no Brasil, 64% dos homens e 39% das mulheres adultas consomem álcool regularmente e que dois em cada dez dos bebedores apresentaram critérios para abuso e/ou dependência alcoólica. A estimativa é que 11,7 milhões de pessoas sejam dependentes de álcool no país.
O LENAD também mostra que os estudantes universitários apresentam consumo de drogas mais intenso e frequente do que outras parcelas da população. Segundo a professora Beatriz Franchini, do curso de Enfermagem da UFPel, a fase universitária é marcada pela emancipação e pela experimentação. “Por este motivo, a Universidade deve estar muito próxima dos alunos, principalmente os que se encontram longe da família”, alerta. Ela conta que seu trabalho como professora facilita a percepção do abuso de substâncias tóxicas entre os estudantes. “A Faculdade de Enfermagem tem a tradição de acompanhar de perto os alunos. Estamos sempre próximos para dar apoio e encaminhar em caso de necessidade para um atendimento especializado”, relata Beatriz.
A ausência de cuidado e o uso de drogas
Rafaela Ferrari, estudante do segundo semestre de enfermagem, admite que existe um assédio muito grande no meio acadêmico para o consumo de álcool. “O pessoal está no meio da aula combinando de sair para beber, isto sem falar nas festas onde rola muita bebida,” comenta a estudante. Para ela, a pessoa precisa ser orientada pela família mesmo antes de ingressar na universidade. “Quem tem a orientação da família consegue ter mais controle,” constata Rafaela.
Para Amélia Nonticuri, coordenadora do Núcleo Psicopedagógico de Apoio ao Discente (NPAD), a família é considerada um fator de proteção que, ao ausentar-se coloca o estudante em situação de vulnerabilidade. Neste caso, a coordenadora sugere que o estudante ingresse em outros grupos que supram esta falta. “Um grupo de dança, de teatro, um grupo de estudos, prática de atividades físicas são fatores de proteção nos quais o aluno deve investir,” afirma Amélia.
A equipe do NPAD acredita que, no ambiente acadêmico, os professores devem ter um olhar cuidadoso sobre os alunos, incentivando e encaminhando para projetos que visem suprir as necessidades de apoio e proteção. Dentro do Núcleo, o trabalho é sempre voltado para a prevenção. “Nós investimos no treinamento para que o aluno aprenda a cuidar de si mesmo, como tratamento preventivo, não só ao uso de drogas, mas também a todos os perigos que o acompanham, como as DSTs, a gravidez indesejada… O usuário geralmente perde as condições psíquicas para exercer o autocontrole,” alerta Renata Schramm, enfermeira do NPAD.
As drogas e a aprendizagem
O Núcleo é composto por uma equipe com diversos profissionais competentes para atender as dificuldades apresentadas pelos alunos. Em sua maioria, os atendimentos se dão por dificuldade de aprendizagem. Juliana Souza, psicóloga do Núcleo, conta que o uso de drogas está relacionado a muitos problemas de ordem cognitiva, como falta de memória, de concentração, perda do apetite, entre outros. Entre os casos registrados, alguns foram encaminhados para atendimento especializado na rede pública. Os critérios adotados nos questionários para avaliar os fatores de risco são a quantidade, a freqüência e a periodicidade do uso.
Segundo Juliana, a queixa principal nunca é diretamente relacionada ao uso drogas, mas ao longo do acompanhamento, isto vai se evidenciando. “O estudante começa a esquecer os horários, perde aulas, perde provas […] vai apresentando problemas de higiene,” relata a enfermeira que também alerta para os riscos do uso prolongado de narcóticos para o desenvolvimento cognitivo. “Os danos provocados pelas drogas não são imediatos, mas em longo prazo, a cognição vai sendo impactada,” afirma.
A moderação como solução
Ainda que o uso de álcool possua grande aceitação social, sendo até mesmo estimulado pela sociedade, ele não deixa de ser uma droga psicotrópica que atua no sistema nervoso central, que pode causar dependência e mudança de comportamento. O consumo de álcool pelo público adolescente é uma preocupação mundial, pois esta substância está fortemente relacionada ao aumento da violência e é fator que contribui com 21% das mortes no trânsito, segundo dados do Detran RS.
Entretanto, o consumo de álcool revela uma necessidade humana de se sociabilizar. Amélia Nonticuri acredita que não é possível incentivar a abstinência de álcool, mas seu uso consciente. “Dentro do contexto universitário, o álcool é frequente como forma de socialização. O caso é sempre estabelecer um limite. Cinco doses, geralmente já é considerado embriaguez,” alerta a coordenadora.
A professora Beatriz Franchini sugere algumas ações para redução dos danos causados pelo álcool. Não ingerir álcool sem estar alimentado, não dirigir depois de consumir bebida alcoólica, eleger o motorista da rodada, não sair com grupos desconhecidos, não aceitar bebida de estranhos, beber bastante água. “Estes cuidados podem aliviar os danos provocados pela ingestão de bebidas alcoólicas”, ensina Beatriz.
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