Concursos docentes da UFPel passam a adotar bancas diversas
A Universidade Federal de Pelotas realiza, nestas primeiras semanas do mês de novembro, concursos públicos para o preenchimento de dezenas de vagas docentes. Costumeiramente, tal atividade não seria alvo de notícia; no entanto, os processos seletivos ligados aos editais 17, 18 e 19 de 2022 trazem consigo uma importante novidade na trajetória da Universidade: pela primeira vez, estão sendo adotadas as chamadas bancas diversas, iniciativa que pretende reduzir os preconceitos escondidos no dia-a-dia de nossa sociedade.
Fruto da Resolução n° 40/2022, do Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão (COCEPE) da UFPel, a nova configuração das bancas de avaliação dos concursos públicos para preenchimento de vagas para o magistério superior prevê que componham o grupo pelo menos uma mulher e uma pessoa negra ou indígena.
A medida busca amenizar preconceitos que podem ocorrer de forma implícita, afetando julgamentos e decisões, explica a coordenadora de Diversidade e Inclusão da UFPel, Airi Sacco. Ela explica que há estudos na Psicologia que apontam que muitas pessoas nem ao menos percebem que trazem tais discriminações.
A ideia de realizar bancas minimamente inclusivas é justamente reduzir ao máximo as intolerâncias arraigadas socialmente, ao trazerem diversidade às bancas. “Não é surpresa que em algumas áreas só haja homens brancos”, pontua Airi, ao lembrar que são estes os que mais se encontram nessas comissões.
Os resultados são percebidos nos números: desde a adoção da lei que estabelece cotas raciais em concursos públicos federais, em 2015, reservando 20% do total de vagas em cada edital para candidatos autodeclarados pretos e pardos, foram destinadas 56 posições ao grupo; no entanto, foram preenchidas apenas nove. Apesar de hipóteses de que não haja inscrições ou comparecimento de negros nos concursos, também pesa a possibilidade de não haver aprovação. “E nessas vagas para negros acabaram entrando pessoas brancas”, ressalta a vice-reitora da UFPel, Ursula Silva, que preside o COCEPE.
As mudanças em prol de um processo seletivo docente mais equânime não ficaram apenas na composição das bancas. Também foram alteradas as grades de avaliação entregues às bancas: no momento em que o jurado realiza algum desconto na nota, este passa a dever ser justificado; outra alteração é a redução dos intervalos de pontuação e o acréscimo de mais itens avaliativos. “Isso faz o avaliador refletir ainda mais sobre a nota a ser dada e força que sejam usados os critérios mais objetivos”, explica Airi.
Além disso, passam a ser adotados critérios compensatórios nas notas dos exames de títulos para candidatos inscritos por ações afirmativas e para mulheres que tenham se tornado mães nos últimos anos, tanto por gestação quanto por adoção.
Compromisso com a diversidade
A adoção dessas novas regulações para os concursos docentes é um novo passo dado pela Universidade Federal de Pelotas em seu comprometimento com a diversidade. Desde que a legislação que versa sobre as ações afirmativas em concursos, a UFPel vem a colocando em prática de uma forma que o maior número de vagas possível voltado para as cotas seja colocado à disposição. “Sempre tentamos juntar cinco vagas, apenas realizando o concurso quando houver reserva”, explica a chefe do Núcleo de Gerenciamento de Vagas e Concursos (NUGEC), Roselaine Trens. “A UFPel é uma das instituições que está comprando a ideia e brigando por isso”, complementa. Tanto ela quanto Airi contam que algumas instituições acabam fazendo exatamente o oposto, abrindo mais concursos com menos vagas, de forma que não haja um número que garanta a aplicação da porcentagem prevista por lei.
No entanto, a coordenadora de Diversidade e Inclusão pensa que a Universidade deve ir além: “A lei determina que se reserve, mas a reserva apenas não nos interessa; nossa meta é realmente preencher esses 20%”.
“A gente não acha que essas vagas deixaram de serem preenchidas por falta de competência dos candidatos. A gente acha que foi o racismo estrutural mesmo”, afirma Airi. Por isso a gestão da UFPel deseja que a correção das falhas existentes atualmente, de distorções na avaliação, seja apenas o primeiro passo. Ursula e Airi adiantam que é desejo da Administração Central da Universidade realizar concursos com uma reserva maior de cotas ou até mesmo lançar um edital específico para candidatos pretos e pardos.