Projeto de pesquisa busca animais com dioctofimatose, o verme gigante do rim
A Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está pesquisando opções de tratamento para animais com dioctofimatose, doença causada pelo Dioctophyme renale, o verme gigante do rim. O estudo, liderado pelo Projeto “Dioctophyme renale em Cães e Gatos (PRODIC)”, busca alternativas para tratar da patologia, que, segundo os pesquisadores, tem em Pelotas a maior incidência no mundo.
De acordo a médica veterinária do Hospital de Clínicas Veterinárias da UFPel e organizadora do estudo, Pâmela Caye, a dioctofimatose é uma doença com potencial zoonótico, ou seja, uma doença infecciosa de animais que pode ser transmitida para o ser humano.
O Dioctophyme renale, maior nematódeo que parasita animais, pode chegar a um metro de comprimento por 0,4 a 1,2 cm de largura. O verme gigante do rim conta com hospedeiros intermediários, de transporte e definitivos. O grupo de hospedeiros definitivos abrange uma grande diversidade de espécies, como felinos, equinos, suínos, bovinos e o ser humano. Entre as espécies consideradas domésticas, os cães são os principais atingidos.
Os vermes adultos são encontrados no rim de seus hospedeiros definitivos, onde as fêmeas realizam a postura dos ovos que são eliminados no ambiente pela urina. No meio aquático, os ovos se desenvolvem, e o ciclo reinicia.
Quando o cão é infectado, a larva passa para a cavidade abdominal e se aloja, geralmente, no rim direito, onde cresce e se desenvolve se alimentando do órgão. É comum que as infecções resultem em total destruição renal.
Contaminação e Sintomas
A contaminação dos hospedeiros definitivos ocorre por meio do consumo da carne crua ou mal passada dos hospedeiros de transporte (como sapos, rãs e peixes de água doce) ou por ingestão de água contaminada com os hospedeiros intermediários (oligoquetas aquáticos).
A maior parte dos animais afetados é assintomática, ou seja, não apresenta sinais clínicos. Contudo, quando apresentam, os sintomas mais frequentes são desconforto ou dor para urinar, sangue na urina, dor lombar, anorexia, relutância em caminhar, sede excessiva e depressão.
Os animais infectados não têm a capacidade de passar a doença para os seres humanos. Ambos são contaminados da mesma forma.
Registros
Existem relatos de humanos contaminados na América, Europa, Ásia e Oceania. No Brasil não há nenhum registro recente – o único fichado data de 1945.
Uma pesquisa realizada em 2015 encontrou inúmeros espécimes de tartarugas de água doce que apresentavam a larva do verme na área urbana de Pelotas. Isso significa um alto risco de contaminação da população de áreas urbanas, que têm contato com o local onde esses animais habitam.
Considerando que a fase de desenvolvimento do Dioctophyme renale depende da presença de água, há muita preocupação com a situação de populações ribeirinhas e com cidades como Pelotas, que apresentam alto potencial de alagamento.
De acordo Pâmela e a orientadora da pesquisa, professora Josaine Rappeti, Pelotas é a cidade com mais registros de animais infectados no mundo como hospedeiros definitivos. Elas dizem acreditar que justamente pela característica de alagamentos, a cidade é considerada uma região endêmica. Há cerca de dois anos foi publicado o último artigo com relatos sobre casos registrados em Pelotas, que já somavam 195. O PRODIC, entretanto, continuou monitorando a situação e acredita-se que, atualmente, já passam de 300 os casos registrados da doença.
Alternativa à cirurgia
Ainda não foi descoberta nenhuma medicação que realmente mate o verme gigante do rim. Atualmente o único tratamento é cirúrgico.
O projeto tem foco em cães que foram resgatados da rua e adotados ou semidomiciliados, isto é, que têm acesso à rua, já que estes são os que correm mais riscos de infecção.
Considerando essas condições e os altos valores para cirurgia, a retirada do verme é praticamente impossível para alguns tutores. Nesse contexto se encaixa o projeto de pesquisa, que tem como objetivo geral encontrar uma solução que não seja cirúrgica. “Queremos testar uma medicação veterinária que seja comercial, que cause a morte do verme e interrompa a eliminação de ovos pela urina, seja barata e de fácil acesso”, destacou a pesquisadora. “É um estudo piloto, mas que vai abrir muitas possibilidades para outros estudos”, observou.
Para fazer parte do projeto é necessário que sejam encontrados ovos na urina do animal, porque a eliminação é controlada durante o tratamento, e é primordial que o tutor tenha certa disposição, pois o cão precisará fazer um acompanhamento no período de cerca de 15 dias, em que serão feitos exames, tratamentos e cirurgia.
O tratamento é gratuito e o valor cirúrgico é reduzido para os pacientes participantes do projeto, mas os custos de consultas e diagnósticos são responsabilidade total do tutor.
Seu pet pode ser um paciente em potencial?
Como a doença pode ser assintomática e alguns dos sinais clínicos são comuns de várias doenças, o diagnóstico não se baseia totalmente nesses pontos.
É feita a análise do histórico, que inclui, por exemplo, se o animal foi adotado e tem contato direto com a rua. Para o diagnóstico também é feita a coleta de urina, em busca de ovos, e ultrassonografias, pois podem existir apenas vermes machos no corpo do cão, e, dessa forma, não haveria presença de ovos na urina.
Em caso de suspeitas, os tutores podem fazer o diagnóstico com qualquer médico veterinário, ou levar seus pets para consulta no Hospital de Clínicas da UFPel para fazer os exames, arcando com o custo. Se o verme gigante do rim for encontrado, o animal passará por uma consulta específica para o projeto.
Para mais informações, contato pode ser feito com a pesquisadora, Pâmela Caye, pelo e-mail pamiscaye@gmail.com ou pelo número (53) 98113-3214. O Hospital de Clínicas Veterinárias da UFPel fica no Campus Capão do Leão e pode ser contatado pelos telefones (53) 3275.7510 ou 3275.7292.