A Sala recebe a exposição “Problemas de Pintura”
Abre nesta quinta-feira, dia 5 de abril, na Galeria A Sala, do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a exposição “Problemas de Pintura”. A mostra conta com a participação de dez artistas que pesquisam as possibilidades da pintura em suas investigações poéticas.
A proposta da exposição é de autoria do professor do curso de Artes Visuais da UFPel, Clóvis Martins Costa, que coordena a pesquisa “Problemas de Pintura: Especificidades e Distensões”. O estudo tem como objetivo refletir sobre o campo da pintura, desde suas bases elementares até os transbordamentos e contaminações que constituem as distensões dessa prática no contexto artístico contemporâneo.
A mostra, portanto, aborda questões bastante específicas da pintura como a cor, a superfície e a produção de imagens ligadas aos gêneros tradicionais (paisagem e retrato, por exemplo), e aponta a expansão do campo da pintura por meio da intersecção com o desenho, gravura, fotografia e a arquitetura. Observa-se, no conjunto de trabalhos apresentados, um panorama bastante abrangente dos questionamentos que engendram a produção pictórica contemporânea e coloca-se a urgência/emergência do fazer pintura na atualidade.
A abertura está marcada para as 19h do dia 5. O período de exposição vai de 6 de abril a 2 de maio. No dia 16 de abril ocorre uma conversa com os artistas, às 14h. A Galeria A Sala fica na rua Alberto Rosa, 62.
Os artistas participantes são Ana Júlia Vilela, Clóvis Martins Costa, Felipe Góes, Flávio Michelazzo, José Luiz de Pellegrin, Kelly Wendt, Lauer Alves Nunes dos Santos, Maíra Makiyama, Marilice Corona e Pedro Elias Parente.
Serviço
Exposição “Problemas de Pintura”
Local: Galeria A Sala – Centro de Artes da UFPel (Rua Alberto Rosa, 62) – Pelotas/RS
Abertura: 5 de abril, às 19h
Período de Exposição: de 6 de abril a 2 de maio
Conversa com os Artistas: 16 de abril, às 14h
Proposição e Curadoria: Clóvis Martins Costa
Coordenação da Galeria A Sala: Clóvis Martins Costa e Kelly Wendt
Artistas Participantes:
Ana Júlia Vilela
Clóvis Martins Costa
Felipe Góes
Flávio Michelazzo
José Luiz de Pellegrin
Kelly Wendt
Lauer Alves Nunes dos Santos
Maíra Makiyama
Marilice Corona
Pedro Elias Parente
Exposição Integrada ao Projeto de Pesquisa “Problemas de Pintura: Especificidades e Distensões” – coordenação: professor Clóvis Martins Costa (UFPel)
Saiba mais sobre os artistas e seus trabalhos:
ANA JÚLIA VILELA
Ana Júlia Vilela // Brasileira, belo-horizontina, atualmente vive, estuda e trabalha em Pelotas – RS; Nascida em 18/04/1996. Aluna do curso de Artes Visuais – Bacharelado pela UFPel
O meu processo criativo tem por procedimento um olhar para a pintura (moderna e contemporânea) e depois disso um olhar para o mundo. Isso ocorre porque acredito que é a pintura que me faz enxergar o mundo, pensando suas relações de cores, organizações, espacialidades e atmosferas. A minha pintura procura ser uma resposta à conversa que tento estabelecer entre os pintores que me encorajam junto a minha visão de mundo. Ao mesmo tempo que uma “geometria volpiana” de fatura rala me provoca, o requinte cromático e estrutural de Paulo Pasta também. E para além da história da arte, a minha paleta de cor parte de uma influência da pintura religiosa tibetana (budista), em que as cores são quentes e climatizadas, ou seja, elas esquentam de uma maneira mais amena, não beirando a nossa tropicalidade, produzindo silêncios diferentes. Então depois de completar meu procedimento, procuro selecionar o que acho mais encantador. E muita coisa passa a ser encantadora pra mim, coisas que estão dentro do cotidiano, piscinas e afins, como também imagens que beiram a abstração e a sugestão de paisagem. Meu trabalho procura girar em torno da cor e da estruturação que é feita por ela.
CLÓVIS MARTINS COSTA
Artista plástico, Doutor em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui graduação em Pintura pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998). É mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005). Professor da Universidade Federal de Pelotas, é docente no magistério superior desde 2003, atuando principalmente nas seguintes áreas: pintura, arte contemporânea, desenho, linguagem tridimensional e museologia. Em 2015, realizou o Programa de Doutorado-Sanduíche na Universidade de Lisboa – Portugal. Foi propositor e gestor do Plataforma Espaço de Criação entre 2011 e 2014, na cidade de Porto Alegre – RS. Desenvolve pesquisa ligada à pintura e suas distensões por meio da experiência direta na paisagem.
A pintura apresentada resulta de uma série de experimentações em litorais onde o suporte da pintura é atravessado pela fotografia por meio da impressão de imagens (fotografias da própria paisagem experienciada impressas em tecidos dispostos em margens e paisagens costeiras). A potência entre as margens é dinamizada através do entrelaçamento de tempos e lugares, experimentos entre distâncias que tramam com a pintura um novo lugar.
FELIPE GÓES
Felipe Góes, SP (1983), trabalha com pintura buscando discutir a produção e percepção de imagens na contemporaneidade. Realizou exposições individuais no Instituto Moreira Salles (Poços de Caldas, 2017), Galeria Virgílio (São Paulo, 2016), Central Galeria de Arte (São Paulo, 2014), Phoenix Institute of Contemporary Art (Arizona, EUA, 2014), Galeria Transversal (São Paulo, 2013), e Usina do Gasômetro (Porto Alegre, 2012).
Apresenta trabalhos realizados a partir de uma intenção inicial de imagem, mas que se dissolve ao longo do processo da pintura: áreas alagadas podem tornar-se planícies, e nuvens transformam-se em manchas indefinidas de cor, por exemplo. O processo de criação do artista e suas proposições conceituais justapõem figuração e abstração, clareza de significado e ambiguidade. Os trabalhos buscam desconstruir os processos tradicionais da pintura de paisagem ao recusar práticas como a utilização de fotografias de referência, a observação de lugares existentes e a aplicação de títulos que direcionem a interpretação das imagens. Existe uma recusa à nomeação de índices e indicadores de significado, e, nesse sentido, os trabalhos interrogam tanto a tradição formalista de uma arte autônoma quanto os maneirismos herdados da arte conceitual. Procura-se ativar outras maneiras do público se relacionar com as imagens, traçando relações entre as pinturas e seu próprio repertório de lembranças e experiências.
FLÁVIO MICHELAZZO
Natural de São João da Boa Vista – SP, Flávio Michelazzo é mestre e bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas. Sua poética gira em torno da temática da pintura problematizando as questões do retrato e do autorretrato na contemporaneidade, envolvendo a fotografia e o desenho. Paralelamente, pesquisa também sobre gênero e história da arte.
Dando continuidade às minhas pesquisas envolvendo questões do retrato e autorretrato na contemporaneidade, após realizar uma série de retratos de pessoas desconhecidas e uma série de retratos de autorretratos (selfies de outras pessoas), parto para o desenvolvimento de uma série de autorretratos, problematizando este fazer nos tempos atuais, buscando maior envolvimento com minha própria imagem, traduzindo-a da fotografia à pintura e escrutinando a produção de artistas afins do ontem e do hoje, intentando diálogos com meus referenciais em busca de uma maior autorreflexão tanto sobre o meu próprio ato de pintar quanto sobre o meu eu.
JOSÉ LUIZ DE PELLEGRIN
Morro da Fumaça/SC – 1953
Vive e trabalha em Pelotas desde 1976. Formado em Licenciatura e Bacharelado em Artes Visuais com Especialização em Desenho Artístico pela Universidade Federal de Pelotas/UFPel/RS. Possui Mestrado e Doutorado em Artes pela Escola de Comunicações e Artes/ECA da Universidade de São Paulo/USP. Atua como professor do Centro de Artes/Universidade Federal de Pelotas/UFPel desde 1982. Desenvolve Projetos de Extensão e tem realizado coordenação e curadoria de exposições em espaços alternativos e em museus desde 2002. Atuou como diretor do Departamento de Arte e Cultura da Pró-Reitoria de Extensão da UFPel. Integrou a Comissão de Acervo e a Comissão de Assessoria do Museu de Arte do Rio Grande do Sul/MARGS/Porto Alegre. Integra atualmente a Comissão de Curadoria do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo/MALG. Participa de mostras coletivas no Brasil e no exterior desde 1980.
Possui obras nos seguintes acervos:
Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo. Pelotas/RS; Prefeitura Municipal de Santa Vitória do Palmar/RS; Prefeitura Municipal de Pelotas/RS; Museu de Arte Contemporânea/MAC/RS; Museu de Arte Moderna/MAM/SP; SESC. Avenida Paulista/SP; Centro Cultural Vergueiro. São Paulo/SP; Acervos particulares.
Dar corpo à cor é buscar uma espessura que se assemelha ao do couro esticado do tambor. No limite, vibra firme. A cor deve habitar a superfície, coincidir. Apresentar-se entranhada. A concretude visa à busca da coincidência entre a área de cor e a da superfície de cada módulo do suporte, assim o quadro como objeto se apresenta no mundo, sobre a parede e pode expandir, de modo sutil, já que nesse momento o motivo vem da paisagem dos dias “pelotenses”. Os acinzentados dão espessura ao tempo contaminando as cores com rebaixamento sutil.
KELLY WENDT
Artista Visual, pesquisadora e professora na Universidade Federal de Pelotas, área de Gravura. Doutora em Poéticas Visuais, PPGAV/UFRGS. Mestre em Artes Visuais pela UFSM e bacharel em Artes Visuais pela UFPel. Desenvolve trabalho de pesquisa por meio de sua poética visual, discutindo a cidade e meios de capturá-la. Nos trabalhos desenvolve a reflexão sobre o espaço e a cartografia. Explora temas como inventário/coleções, mapeamentos, impressão e denomina os espaços de apreensão como “espaços experienciados”. É colaboradora do projeto de pesquisa “Percursos Poéticos: Técnicas e Grafias na Contemporaneidade” na linha Gravura Contemporânea Não-tóxica junto à UFPel/CNPq. Participa de exposições coletivas desde 2002, tendo realizado diversas exposições individuais. É bacharel em Ciências Sociais e especialista em Memória, Identidade e Cultura Material. Vive e trabalha em Pelotas-RS, Brasil.
LAUER ALVES NUNES DOS SANTOS
(Santa Vitória do Palmar, RS, 1969)
Vive e trabalha em Pelotas, Rio Grande do Sul. Artista multimídia, bacharel em Pintura pela UFPel, mestre em Artes Visuais pela UFRGS, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Participou de várias exposições no Brasil e exterior além de ter realizado cursos, estágios e residências na Alemanha, França e Suíça, onde também atuou como professor convidado na ECAV. Artista, professor e pesquisador, desenvolve pesquisas na área de arte, design e semiótica. Dentre suas atuações foi diretor do Centro de Artes da UFPel, coordenou os cursos de Artes Visuais e Design, curador e diretor adjunto do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo e líder do grupo de pesquisas Semiótica, design e arte.
Apresenta uma pintura que integra uma série de estudos realizados após alguns anos de afastamento de produção em pinturas e que se caracteriza pelo tratamento realista de detalhes presentes em espaços domésticos e imagens repetidas com variações mínimas, em ambientes que evocam a intimidade ou os limites entre o público e o privado.
MAÍRA MAKIYAMA
Artista visual natural de Ubatuba/SP. Mora atualmente na cidade de Pelotas/RS, focada na pintura, escultura e deslocamento. Graduanda do curso de Bacharelado em Artes Visuais na Universidade Federal de Pelotas.
O mote da minha poética surge de questões de identidade, fator determinante para meu processo criativo. meu trabalho surge de questões étnicas, com um carácter autobiográfico. Assim como a maioria dos brasileiros pertenço ao grupo dos “mestiços”, descendente de japoneses por parte de pai e de portugueses por parte de mãe. Meu trabalho advém de experiências em relação ao meu enfrentamento com as minhas características físicas e de um olhar que a sociedade me impõe.
Busco a partir de um revelar do meu interior um desvelamento a matéria primordial que liga todos nós seres humanos, a carne. O interior de nossos corpos, nossa carne é o cordão umbilical que nos une e nos torna iguais. O que nos separa é a cultura que surge por diferenças geográficas e históricas na formação de identidade de um povo. O corpo está extremamente ligado a isso, pois é através dele que experienciamos o mundo e o outro. Porém, em um mundo diversificado e globalizado ainda existem preconceitos pré concebidos sobre as etnias que as pessoas carregam. Ser descende de japoneses não me torna japonesa. Nasci no Brasil e por mais que carregue traços de ascendência na parte física não deixo de ser brasileira.
Minha poética parte do meu enfrentamento com o mundo, sobre minhas percepções e reflexões que percorrem o viés de questionamentos perante gênero, etnia e arte. Sobre como ser uma mulher, brasileira, amarela descendente de japoneses. Como o corpo externo nos representa perante as pessoas e tudo que acarreta carregá-lo. Busco lugares entre, o entre pintura/escultura, onde trago a potência do suporte à tona, onde a configuração se dá pela fragmentação e a junção dessas partes, frente e verso, nada é livre de significado.
MARILICE CORONA
É artista plástica, possui graduação em Artes Plásticas Bacharelado Pintura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988), graduação em Artes Plásticas Bacharelado Desenho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e mestrado em Poética Visuais pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002). É Doutora em Poéticas Visuais pelo PPG- AV do Instituto de Artes da UFRGS (2009), tendo realizado seu estágio doutoral em l´Université Paris I – Panthéon Sorbonne. É professora de Pintura do Departamento de Artes Visuais e Professora do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da UFRGS. Atua, principalmente, nos seguintes temas: pintura, desenho, representação e imagem.
As pinturas têm como assunto os rebatimentos entre o espaço de produção e o espaço de apresentação; as interconexões entre o espaço de criação e o espaço dedicado à conservação da memória e da cultura. Imagens geram imagens e, nesse caso, o acervo de um museu tem papel fundamental. A dama de branco de Artur Timotheo da Costa, O vestido verde e o Nu com luva de João Fahrion, entre outras, fazem parte da alfabetização do meu olhar e, ainda hoje, a cada visita ao MARGS esse olhar se renova ao descobrir novos aspectos.
Para esta exposição escolhi dois gêneros que se interligam: o retrato e o atelier do artista. Escolhi alguns retratos femininos que conformam a instalação que intitulei Em jogo – O retrato de Tatiana (2015) e que fora acrescentada de mais peças. São obras que se tornaram ícones do acervo e que, em um novo arranjo, homenageiam os guardas do museu. Para o tema do atelier do artista selecionei quatro pinturas: Interior de Atelier de João Fahrion, Ateliê de Carlos Petrucci, Interior de Edson Motta e Atelier Julian de Pedro Weingartner. Essa seleção está vinculada ao tema e à qualidade pictórica, sendo que algumas obras têm uma história especialmente significativa para estar presente nessa mostra. Seja por algo relativo ao seu autor ou pela imagem representada. Edson Motta, por exemplo, entre os anos de 1945 e 1980, foi professor de teoria, técnica e conservação da pintura na UFRJ. Foi o primeiro restaurador brasileiro e autor de livros essenciais para minha formação como o conhecido Iniciação a Pintura, (1976). Na exposição ele integra a instalação A história e a arte. Esse trabalho fala de minha história pessoal e da própria história da arte. A síntese de planos e formas, tão cara ao modernismo, reverbera entre as pinturas e a escultura Inca de Fernando Corona. O Atelier Julian, (da Academia Julian de Paris), por sua vez, representado por Weingartner foi a primeira academia de Belas Artes a aceitar mulheres em suas aulas. São obras que se referem ao campo ao qual pertencem. A representação do atelier, com a presença do pintor ou não, trata-se de uma alegoria do próprio processo de criação, da gênese do trabalho do artista. Espaço privado do trabalho manual e da elaboração mental. O espectador, como um voyeur, aproxima-se e espia, adentra a imagem e a intimidade do pintor, tomando contato com toda sorte de objetos, imagens e instrumentos que povoam o estúdio. O cenário de produção oferece pistas sobre o contexto no qual o pintor está inserido. Tudo está nos detalhes. Atelier como estúdio, studiolo. Nesse jogo especular muitas imagens se desdobram, cabe ao espectador reativar a partida construindo novos sentidos.
PEDRO ELIAS PARENTE
Os trabalhos que aqui apresento são pinturas feitas com graxa que possuem configurações abstratas. Realizadas seguindo a estrutura que está dada no suporte por conta dos processos anteriores que ali ficaram gravados, possuem como característica o grande acúmulo de matéria e a variação de tons de: amarelo, marrom e verde. Elas surgem de um interesse pela matéria pictórica, pelos materiais que ao longo da história da arte foram utilizados para ativar os mais diversos temas na pintura e pelo tempo, em específico o lento, que parece ser próprio da mesma. Esses fatores foram motes para a realização desses trabalhos que funcionam como um comentário sobre a materialidade e o tempo da pintura.
Para fazer um comentário na contemporaneidade acerca dos meios da pintura, fui em busca de materiais do mundo para criar correspondências e experimentações nessa linguagem, no caso, o material eleito para estes trabalhos foi a graxa patente.
A graxa é um material do mundo, que é utilizado para reduzir atritos e aumentar a durabilidade de máquinas que operam a partir de um grande esforço e embate de corpos. Sua especificidade se assemelha com a da tinta óleo, sendo ela: viscosa, apresentando-se em diversas cores, além de ser possível criar variações de tom dependendo da forma que é trabalhada. Passei utilizar esse material como tinta na confecção de pinturas, trazendo-o para o contexto da arte e da pintura.
A graxa é empregada sobre suportes (telas) com uma desempenadeira de pedreiro e com espátulas. Ela é aplicada ao suporte e retirada dele inúmeras vezes, É um trabalho que gera um compromisso de fazer, desfazer e refazer, o que acaba por conferir uma memória ao suporte e a graxa, dos processos realizados anteriormente. O tempo lento e de espera, próprio da tinta óleo na constituição das camadas de uma pintura se fazem presentes quando utilizo a graxa como meio. Porém, é uma espera que não tem fim, pois ela nunca atinge um estágio estável ou seco, está sempre tencionada, passível de transformação, conferindo aos trabalhos um dado de impermanência.
O resultado são pinturas, com a materialidade evidente, com variações de cores e tons, de: verdes, amarelos e marrons. A materialidade se mostra na superfície, como sendo um corpo que tenta sair do suporte, adquirindo um caráter próximo ao que Léo Steinberg chama de flatbad (STEINBERG,1997). Ao mesmo tempo, elas são superfícies que possuem uma transparência que revela o que está por trás, no caso a tela e as marcas de outras vezes que o trabalho fora montado. Essa transparência se dá pela materialidade da graxa, que não é um material opaco ou sólido, que faz o trabalho se assemelhar a um âmbar, que conserva e revela em seu interior os processos que a matéria sofre. O caráter de não secagem da graxa e a utilização de um suporte fixo como a tela, que está ligada a história da arte, gera uma pintura que está sempre em transformação, em processo, viva e que resiste na contemporaneidade.