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Pesquisa da UFPel analisa comportamento sexual de jovens durante a pandemia

A pandemia de Covid-19 mudou muita coisa na vida das pessoas, em diferentes aspectos. As relações sociais e de formação dos pares sofreram transformações pelo distanciamento social. Para se aprofundar mais nesse tema, especialmente durante a adolescência, período de formação de laços e identidades, o curso de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) deu início a uma pesquisa que investiga o comportamento sexual dos jovens durante a pandemia. (Veja como participar abaixo). Para além de compreender como isso se passa, o estudo trará elementos para oportunizar ações de promoção da saúde e prevenção entre os jovens.

O estudo contempla o público dos 14 aos 24 anos, residentes do município de Pelotas. São investigados aspectos como sexo, idade, religião, comportamento sexual antes e durante a pandemia, acesso à educação sexual, uso de aplicativos de relacionamento, comportamento de risco, uso de preservativo ou métodos contraceptivos e comportamento autoerótico.

Segundo as pesquisadoras, essa fase da vida é caracterizada por uma série de mudanças físicas, psicológicas e sociais do sujeito, que tende ao início das relações sociais, experimentações sexuais e percepção da autoimagem, fundamental para a construção da identidade. Daí a importância de entender esses processos num período cheio de particularidades, como é o momento de pandemia, fator implicador no desenvolvimento dos jovens.

Assim, o projeto busca compreender a forma como as relações afetivas e sexuais na adolescência ocorrem e de que modo essas relações influenciam no comportamento sexual, de risco à saúde e a si próprios na continuidade na pandemia de Covid-19.

Pesquisa e atuação na comunidade
O estudo integra o projeto de extensão “Se Toca”, que realiza intervenções com jovens nas escolas de Pelotas, abordando a temática da educação sexual como processo de promoção da saúde e intervenção precoce para que não haja comportamentos sexuais de risco.

A coordenadora da pesquisa, professora Ana Laura Cruzeiro Szortyka, destaca que a partir dos resultados do estudo o projeto “Se Toca” poderá trabalhar as questões mais importantes identificadas. Além disso, o projeto pretende elaborar cursos de formação para professores.

De acordo com a pesquisadora Isabella Fonseca, com o cenário de aulas on-line e sem festas e aglomerações – pelo menos oficialmente -, a pesquisa busca entender como as relações funcionaram nesse período e como são usados recursos on-line quando se trata de sexualidade – o que pode ser um risco também.

Dentre os aspectos investigados estão a idade de iniciação sexual – que pode ter sido postergada -, uso de preservativo e métodos contraceptivos, consumo de pornografia e masturbação durante a pandemia, aderência e uso de aplicativos de relacionamento. Além disso, estão sendo avaliados também uso de chats de redes sociais, jogos e plataformas educativas, medidas de biossegurança e a prática de sexting (envio de textos de conteúdo erótico) e envio de nudes.

Para a pesquisadora Mariana Castro, com a pandemia, o aumento do acesso a sites pornográficos pode ter aumentado, o que acaba por não contribuir para uma educação sexual de qualidade, já que aspectos como uso de preservativos, por exemplo, não são levados em consideração. “Os jovens muitas vezes não têm contato com esse tema na escola, mas quando têm, mostram interesse em saber”, destaca, lembrando que o assunto por vezes é tratado como tabu.

A pesquisadora Eduarda Malüe salienta que a pandemia pode ter deixado uma lacuna na formação dos jovens, visto que esse aprendizado deve ter ocorrido por meio de recursos virtuais. Segundo ela, além de proporcionar ações de prevenção e elucidação ao público jovem, o trabalho irá contribuir também para ampliar a literatura disponível a respeito. De acordo com a pesquisadora, os estudos que avaliam o impacto da pandemia no comportamento sexual abrangem um público muito geral – o estudo da UFPel fará um recorte significativo para a compreensão do fenômeno nos adolescentes, com variáveis específicas dessa faixa etária. A expectativa é encontrar resultados semelhantes a estudos com a população adulta na Espanha e na China, que apontam, por exemplo, o aumento do comportamento autoerótico, a continuação das relações estáveis e relações sexuais mediadas por tecnologia. Em relação a risco, com a diminuição das festas e encontros presenciais, o comportamento sexual de risco também tende a diminuir, mas isso não necessariamente se estenderia para depois da pandemia.

Para participar
A participação se dá através de um formulário on-line. Os jovens de 18 a 24 anos podem acessar o questionário diretamente aqui. Já os adolescentes de 14 a 17 anos precisam da autorização dos pais para responder a pesquisa, o que pode ser feito aqui. As respostas são sigilosas.