Início do conteúdo

Quilombolas e indígenas participam de processo seletivo especial para ingresso na UFPel

Valdenir Morais chegou a Pelotas na tarde dessa sexta-feira (16) em busca de um sonho: ingressar na Faculdade de Medicina. O estudante pertence à comunidade quilombola de Ilha São José e Madureira, da cidade de São Vicente Ferrer, Maranhão. Além dele, outros 48 candidatos quilombolas e indígenas de diversas regiões do país estão participando do Processo Seletivo Especial para estes povos. A seleção ocorre entre os dias 16 e 18 e conta com prova de redação, elaboração de memorial descritivo e defesa individual do memorial para as bancas de avaliadores.

Valdenir percorreu mais de 4 mil quilômetros de ônibus para participar do Processo Seletivo. “Saí da minha cidade no domingo e cheguei aqui hoje, mas creio que o sonho vale esse esforço”, contou. Ao chegar, o candidato foi recepcionado pela reitora Isabela Andrade e pela coordenadora de Diversidade e Inclusão, Airi Sacco.

O sonho de fazer Medicina vem da infância e ficou ainda mais forte na juventude, quando Valdenir passou a acompanhar os seus avós que necessitavam de atendimento médico. “Comecei a participar dos processos de ingresso como o Enem, mas diante da minha realidade nunca consegui tirar uma nota suficiente para passar em Medicina. Em 2015, fiquei sabendo do processo seletivo da UFPel que é adaptado à minha realidade, principalmente por ter o memorial descritivo que permite mostrar essa realidade e as dificuldades que poderiam ter feito com que eu desistisse de tudo”, destacou.

Contudo, só agora, em 2021, que Valdenir teve coragem de atravessar o Brasil para participar da seleção. Para viajar até Pelotas, contou com o apoio financeiro da comunidade quilombola e é para lá que ele pretende retornar após formado. “Na minha região vivem mais de 60 famílias quilombolas e eu estou lutando por esse sonho para ajudar a minha comunidade na área da saúde e inspirar outras pessoas a se dedicarem aos estudos”, finalizou.

Airi Sacco explica que ao contrário dos outros processos seletivos que a Universidade oferece, a seleção para estudantes indígenas e quilombolas valoriza os conhecimentos dessas comunidades tradicionais que, tradicionalmente, não ingressam na Universidade por outras vias. “Então, esse processo é uma forma de garantir que essas pessoas consigam entrar na UFPel. Na escrita e na defesa do memorial eles têm a oportunidade de mostrar a forma como estão inseridos nas comunidades, como eles vivem os valores, o que eles sabem sobre os cursos que escolheram e como a inserção deles na Universidade vai impactar nessas comunidades. Além disso, a entrada deles faz com que a nossa instituição cresça muito, eles trazem outros tipos de conhecimentos que não são aqueles acadêmicos que estamos acostumados”, explicou.

Infraestrutura

Os candidatos começaram a chegar ao Campus Capão do Leão, local das provas, no decorrer da tarde dessa sexta-feira (16) e para dar suporte aos estudantes que são de diversas regiões do país, a UFPel preparou a infraestrutura necessária para garantir a biossegurança dos candidatos e trabalhadores durante todo o processo.  Além de alojamento, transporte e alimentação, a UFPel realizou adequações nos espaços utilizados e nos protocolos de limpeza.

De acordo com o chefe do Núcleo de Processos Seletivos da Coordenação de Registros Acadêmicos, Francisco Kieling, uma das preocupações da equipe é com o conforto dos candidatos durante o período de realização da prova. “Para isso, uma das preocupações foi encontrar salas para os alojamentos com ar-condicionado. Além disso, buscamos a doação de cobertores”, explicou.

A reitora Isabela Andrade realizou a entrega dos 80 cobertores no Campus Capão do Leão junto com a equipe da empresa Elevato que fez a doação. Após o processo, os cobertores serão destinados às entidades cadastradas no Fórum Social. “É importante receber e acolher muito bem esses candidatos que vêm de longe, como é o caso do Valdenir que está viajando desde domingo para participar do nosso processo seletivo. Queremos que eles tenham uma boa memória da nossa Instituição e consigam realizar as provas tranquilamente”, disse.

O processo seletivo oferece dez vagas para quilombolas e dez vagas para indígenas, os cursos foram escolhidos pelas comunidades.