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Pesquisa evidencia como o desmatamento na Amazônia está relacionado com a ausência de cores nas borboletas

 

Borboleta do gênero Morpho (Foto – Cristiano Agra Iserhard)

Uma pesquisa de autoria brasileira feita na Floresta Amazônica, em parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Programa de Pós-Graduação em Ecologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Centro para a Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter no Reino Unido, evidencia que borboletas são menos coloridas em áreas recentemente desmatadas em comparação aos ambientes que não são perturbados.

As borboletas são organismos sensíveis a mudanças ambientais repentinas, por estarem intimamente associadas às espécies vegetais do ambiente e chamam muita atenção por sua estética visual, por isso, suas cores

Prepona narcissus (vista ventral, macho) (Foto – Ricardo Luís Spaniol)

podem ser um indicativo para o estado de saúde e conservação de um ambiente. Sendo assim, os pesquisadores observaram que, em locais recentemente desmatados, a cor das borboletas era pardacenta ou acinzentada, comparada à tonalidade da floresta não desmatada, que apresentava uma riqueza em cores tons azuis, brilhantes, transparentes, vermelhos e alaranjados nas asas.

O biólogo Ricardo Spaniol, um dos principais autores da pesquisa, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRGS, explica que o início do estudo focava em verificar como o desmatamento afetaria as borboletas em diferentes aspectos, mas no decorrer do trabalho foi notado que as características das borboletas estavam

Armadilha para captura de borboletas frugívoras. (Foto – Camila Goldas)

correspondendo às mudanças no ambiente. “Tudo começou de uma ideia um pouco diferente, não necessariamente aplicada às cores, mas as cores nos chamaram a atenção naquele momento e buscamos investigar mais a fundo o que estava acontecendo com a coloração”, explicou.

Desta forma, o estudo foi feito em uma área do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, pertencente ao Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), que possui fragmentos de florestas originais, áreas desmatadas e um grande contínuo de Floresta Amazônica preservada, tornando-se essencial para o estudo. Os cientistas analisaram as cores nas asas de 60 espécies de borboletas encontradas em diferentes pontos da mata com impactos humanos distintos para a classificação. Logo, cada espécie foi classificada por sua composição geral e seu provável contato com o ambiente visual.

Os resultados do estudo demonstram que a composição colorida das borboletas acompanha as características do “habitat”. As florestas não afetadas pela ação humana apresentam uma diversidade e riqueza de plantas para alimentação destes insetos, que não ocorre em áreas desmatadas por terem sua vegetação limitada, acarretando no desaparecimento de espécies com papel ecológico fundamental na manutenção de ecossistemas florestais

Cithaeria andromeda (Foto – Cristiano Agra Iserhard)

e sobrevivendo as espécies de tons semelhantes ao ambiente queimado e que conseguem se camuflar melhor no ambiente.

Para além, Ricardo Spaniol explica que foi possível notar que em áreas que estão passando há 30 anos por uma regeneração florestal, apontam características de padrões e diversidades de cores parecidas com a de uma floresta não desmatada. “Um dos resultados que destacamos é que quando conseguimos fazer programas de regeneração e de restauração florestal na Amazônia, nós temos condições de recuperar boa parte da fauna das diversidades expressas, como também da diversidade de cores”, ressalta o biólogo.

Historis acheronta (Foto – Cristiano Agra Iserhard)

O professor do curso de Ciências Biológicas da UFPel e coorientador da pesquisa, Cristiano Agra Iserhard, ressalta a importância dos resultados obtidos como alerta ao ritmo desenfreado de destruição dos ambientes e a necessidade de transmitir tais descobertas para além dos ambientes acadêmicos, informando a população da importância de valorizar a pesquisa no Brasil e trabalhar pela defesa dos ecossistemas no país. “É importante chamar atenção e trazer a população local para trabalhar pela conservação e ajudar efetivamente no cuidado com a riqueza gigante de plantas e animais do Brasil, levando o conhecimento gerado pela pesquisa básica para sua aplicação de forma coerente, correta, inclusiva e necessária para além dos muros da universidade”, destaca.