Capes premia tese da UFPel sobre impacto da obesidade na doença periodontal
Uma pesquisa de doutorado da Universidade Federal de Pelotas recebeu o prêmio Capes de Tese 2016 na área de Odontologia, em cerimônia realizada nesta quarta-feira (14), às 18h, na sede da Capes, em Brasília. O Prêmio Capes de Tese 2016 é concedido às melhores teses de doutorado defendidas em 2015 em cada uma das 48 áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes nos cursos de pós-graduação do país.
A tese “Impacto de sobrepeso e obesidade ao longo da vida na ocorrência de doença periodontal: evidências de revisões sistemáticas e de estudos transversais e longitudinais”, do pesquisador Gustavo Giacomelli Nascimento, é resultado de estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Odontologia, com a cooperação do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel. O trabalho contou com a orientação do professor Flávio Demarco e coorientação dos professores Marco Aurélio Peres e Marcos Britto Corrêa.
O estudo apresenta evidências do impacto da obesidade sobre o desenvolvimento da doença periodontal – doença inflamatória que acomete os tecidos da gengiva e estruturas de suporte do dente, podendo levar à perda dentária. “O excesso de peso e a obesidade têm sido associados ao aumento do risco de periodontite. O que não está bem claro é a relação de causa entre ambas as condições. Nosso trabalho é o primeiro a fornecer evidências dessa relação em um estudo de longo prazo que acompanha os participantes desde o nascimento”, informa o autor.
O grupo de pesquisa analisou dados da coorte de nascimentos iniciada com aproximadamente seis mil bebês nascidos na cidade de Pelotas (RS) em 1982. Dados sobre episódios de excesso de peso e obesidade foram coletados aos quatro, 15, 24 e 30 anos dos participantes. Uma equipe de dentistas realizou o exame oral de 539 participantes, aos 31 anos, para avaliação da ocorrência de doença periodontal.
Com base nos dados, os pesquisadores investigaram a associação entre os episódios de sobrepeso ou obesidade e doença periodontal entre os participantes. O grupo incluiu análises de fatores de risco para a periodontite, como tabagismo, consumo excessivo de álcool e dieta rica em açúcares e gorduras, considerados tanto isoladamente como agrupados em diferentes combinações entre si e com os quadros de excesso de peso.
Os resultados apontam para relação de causa entre excesso de peso e/ou obesidade ao longo da vida e a ocorrência de doença periodontal na idade adulta. De acordo com os dados, o risco de periodontite é 11% maior entre pessoas com histórico de excesso de peso e 22% maior entre aquelas com histórico de obesidade. A obesidade teve maior impacto do que o cigarro sobre o risco de periodontite – o risco da doença foi de 17,78% entre os obesos e de 16,24% entre os fumantes. “É um resultado importante, uma vez que o tabagismo já é um fator de risco bem estabelecido para a doença”, afirma Giacomelli.
Quando combinado a comportamentos prejudiciais à saúde, o impacto da obesidade e do excesso de peso sobre a doença periodontal é ainda maior. No grupo com a combinação de obesidade, fumo, consumo de álcool e dieta rica em açúcar e gorduras, o risco da doença aumentou em 62%.
Segundos os autores, os comportamentos prejudiciais à saúde relacionados ao risco de doença periodontal são também os que aparecem como fatores de risco estabelecidos para doenças cardiovasculares, câncer e morte prematura, por exemplo. “Isso quer dizer que, assim como outras doenças crônicas, também esta condição oral é similarmente influenciada por fatores sistêmicos. Por isso, nosso estudo é também um alerta para importância de pensar o tratamento de doenças bucais em sua relação com questões de saúde e comportamento do paciente como um todo”, conclui o autor.