Estudo mostra que discriminação leva à mortalidade excessiva de meninas em países de baixa e média renda
Meninas menores de cinco anos recebem menos cuidados de saúde do que meninos da mesma idade e estão morrendo mais do que o esperado em países de baixa e média renda devido à discriminação de gênero, segundo estudo realizado pelo Centro Internacional de Equidade em Saúde da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
A conclusão faz parte da dissertação de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, de autoria da nutricionista Janaína Calu, sob orientação do professor Cesar Victora.
“A ciência já comprovou que os meninos são biologicamente mais frágeis do que as meninas, especialmente no primeiro ano de vida. Por isso, a mortalidade de meninos é universalmente maior do que a de meninas na primeira infância, em condições naturais”, explica a autora.
De acordo com ela, o estudo identifica países em que desigualdades de gênero – práticas alimentares inadequadas ou falta de cuidados de saúde para meninas – estão invertendo a relação natural, fazendo com que a mortalidade de meninas seja maior, o que não é esperado, por exemplo, quando todas as crianças recebem o mesmo cuidado.
A pesquisa utilizou dados sobre a procura por serviços de saúde e taxas de mortalidade de crianças de até cinco anos em 60 países de baixa e média renda. A análise dos dados foi dividida em duas partes. Em uma delas, o grupo de pesquisa avaliou se as taxas de mortalidade de meninas estavam maiores do que o esperado, em comparação com estimativas estabelecidas em dois estudos prévios. Na outra, os pesquisadores compararam a proporção de meninos e meninas levados para atendimento profissional quando estavam doentes ou apresentavam sintomas comuns na infância, como diarreia, febre e suspeita de pneumonia.
Os resultados mostram que um terço dos países apresenta taxas excessivas de mortalidade de meninas. Os países do Sul da Ásia, do Oriente Médio e do Norte da África concentram esse excesso. Na Índia, por exemplo, houve 88,2 mortes por mil meninas nascidas vivas, o que chega a ser 33% acima do valor esperado se a discriminação de gênero não ocorresse.
De acordo com as análises, as meninas são menos propensas do que os meninos a serem levadas a um profissional de saúde em seis países – Colômbia, Egito, Índia, Libéria, Senegal e Iêmen. Países pobres – com menor renda per capita – e com predomínio da religião muçulmana são os que apresentam as maiores iniquidades na busca por cuidados de saúde para meninas.
“Nosso estudo detecta a discriminação de gênero na busca por cuidados de saúde para meninas. Precisamos, ainda, explorar mais profundamente os elementos presentes em cada cultura que podem levar a essas diferenças”, conclui a autora.
A defesa da dissertação está marcada para o dia 21 de novembro, às 14h, no Auditório do Prédio B do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel.