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Epidemiologia terá defesa de tese sobre mobilidade social e transtornos mentais

Mudanças na condição social ao longo da vida e fatores contemporâneos interferem na saúde mental das pessoas? Essa é a pergunta que norteia o trabalho de Lenice de Castro Muniz de Quadros, que defende nesta quarta-feira (30) sua tese de doutorado em Epidemiologia na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O trabalho, que envolve mobilidade social e transtornos mentais em adultos jovens membros da coorte de nascimentos de Pelotas de 1982, será apresentado às 9h, no Auditório do Prédio B do Centro de Saúde Dr. Amílcar Gigante.

Na atualidade é muito comum ouvir pessoas relatando problemas de “nervos”, “estresse” e problemas “emocionais”. Estes sofrimentos psíquicos muitas vezes se traduzem em sintomas como ansiedade, depressão ou outros que podem provocar somatizações, que são o desenvolvimento de outras doenças relacionadas com o estado psíquico do indivíduo. Esses sintomas de ansiedade e depressão são conhecidos como transtornos mentais comuns.

Estudos apontam que a situação socioeconômica atual e também a do passado pode influenciar as condições de saúde e a ocorrência de transtornos mentais comuns nos indivíduos ao longo da vida. Diante disso, a mobilidade social, que é a mudança de indivíduos ou grupos de um estrato social para outro, em determinado período de tempo, tem sido de interesse em pesquisas na área da saúde.

Esse estudo foi realizado a fim de avaliar a relação entre mobilidade social e transtorno mental comum em adultos jovens que participam de uma das Coortes de Nascimento de Pelotas. O transtorno mental comum foi avaliado quando os membros dessa Coorte estavam com 30 anos de idade, por meio de um questionário específico (Self Report Questionnaire – SRQ-20) e para a mobilidade social foram utilizadas as informações de renda familiar desde o nascimento até os 30 anos.

A Coorte de 1982 da cidade de Pelotas é considerada o primeiro estudo epidemiológico de grande porte do Brasil. Este tipo de estudo se caracteriza por acompanhar uma população por longos períodos e observar as mudanças no seu estado de saúde.

O acompanhamento dos 30 anos foi realizado entre junho de 2012 e fevereiro 2013, quando cerca de 70% daqueles que nasceram na zona urbana de Pelotas, em 1982, foram localizados, representando quase quatro mil pessoas estudadas desde o seu nascimento. Nesse acompanhamento foi possível observar que 1.548 participantes, cerca de metade dos adultos jovens da Coorte de 82, apresentaram alguma mobilidade social.

O transtorno mental comum foi observado em um de cada quatro indivíduos da Coorte, entrevistados aos 30 anos. Esse problema foi mais frequente nas mulheres, naquelas pessoas que não apresentaram mobilidade social e permaneceram “pobres” nos três acompanhamentos e naquelas que sofreram algum trauma no ano anterior à entrevista, como morte de parente próximo ou pessoa próxima sem ser parente, problema de saúde sério do entrevistado que tenha impedido suas atividades, dificuldades financeiras mais graves que as habituais, mudança de casa contra a vontade, término de namoro firme, noivado ou casamento e relato de problema de nervos ou emocional, considerados como eventos estressores.

Os resultados encontrados no estudo de Lenice estão de acordo com outros realizados no Brasil ou mesmo em outros países. Nesse sentido, ações devem estar voltadas para a prevenção e controle desses transtornos, por meio de políticas públicas propostas nas áreas de atenção básica, saúde mental e educação, de forma a identificar precocemente as pessoas em sofrimento, seja pela condição socioeconômica ou por eventos específicos tratando-as adequadamente em cada uma das situações para  prevenir problemas futuros, a cronicidade ou mesmo reduzir o seu sofrimento.

A banca avaliadora será composta pelos professores Alicia Matijasevich, Elaine Tomasi e Luciane Prado Kantorski. A orientação é das professoras Denise Gigante e Luciana de Ávila Quevedo.

Publicado em 28/03/2016, na categoria Notícias.