Começa processo seletivo de quilombolas e indígenas

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está recebendo 42 candidatos das comunidades quilombolas e indígenas para o processo seletivo específico para estes povos. São dez vagas disponíveis em dez cursos de graduação, apontados pelas próprias comunidades como preferenciais. Nesta terça-feira (11), os candidatos fizeram uma prova de redação, primeira etapa do processo.

Representantes dos povos quilombolas e indígenas do Rio Grande do Sul e outras partes do Brasil vieram à UFPel em busca do sonho da formação superior. Há candidatos de Canguçu, Piratini, Tavares, Pelotas, Palmares do Sul, Rodeio Bonito, Erechim, Tenente Portela, Ronda Alta, Três Palmeiras, Redentora, Constantina, Iraí e Liberato Salzano, além de Santa Catarina, Minas Gerais, Pernambuco e Acre.

São ofertadas cinco vagas para quilombolas e cinco para indígenas. Os cursos são Administração, Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Pedagogia e Zootecnia – cada qual com uma vaga. O mais concorrido é Medicina, com 12 candidatos por vaga, seguido por Agronomia, com nove.

Segundo o coordenador de Ações Afirmativas e Políticas Estudantis da UFPel, professor Rogério Rosa, o processo está transcorrendo com tranquilidade e houve boa adesão das comunidades. “É um passo decisivo que a Universidade está dando. Havia uma expectativa dessas comunidades em relação a isso”, pontuou. De acordo com ele, os próximos passos são aprimorar o diálogo das pró-reitorias com os cursos que receberão estes estudantes. “Sabe-se que haverá uma série de novas demandas a partir da presença deles e nos sentimos preparados para atendê-las”, avaliou.

Neste processo seletivo, são 26 candidatos quilombolas e 16 indígenas. Para Alex Dias Schug, 17 anos, do Quilombo Passo do Lourenço, em Canguçu, cursar Medicina representa uma chance para curar e salvar vidas. “São muitas as dificuldades, mas estou disposto a superá-las e vencer”, disse.

Para Marcos Jardel Soares, 27 anos, do Quilombo Manoel do Rego, de Canguçu, que disputa uma vaga em Agronomia, as comunidades precisam de um suporte qualificado na área. Sua irmã, Nara Beatriz Soares, 24, pretende cursar Medicina Veterinária. “Essas vagas são extremamente importantes, porque os conhecimentos adquiridos poderão ajudar as comunidades”, disse ela. “Historicamente, era praticamente inviável o negro entrar na Universidade. Quero exercer o que aprender na comunidade, até mesmo para resgatar a cultura que está se perdendo no campo”, afirmou Joel Porto, 29 anos, do Quilombo Rincão do Couro, em Piratini, que disputa uma vaga em Agronomia.

Damião Lopes de Souza viajou mais de três mil quilômetros com o filho, candidato a uma vaga para Medicina. “Para ele é um sonho. Vejo como o início de um trabalho que precisa ser ampliado”, disse o pernambucano. Opinião compartilhada pelo kaingang Júlio Ribeiro, da Aldeia São Roque, de Erechim, que acompanhava as três filhas, duas candidatas a Medicina e uma à Odontologia.

Antes do início da prova, o reitor da UFPel, Mauro Del Pino, esteve no local para desejar boa sorte aos candidatos. “É um orgulho para nós, depois de uma longa luta histórica, estar participando deste momento. Estamos construindo um papel muito importante: o da inclusão”. De acordo com Del Pino, o processo ainda é novo e a intenção é, futuramente, ampliar o número de vagas. “Queremos que essa ação se multiplique. Para isso, o papel de vocês nos próximos quatro ou cinco anos será importante. Estamos em constante diálogo com vocês e seus povos, criando condições de estarem aqui”, salientou.

Memorial
Depois da prova de redação, cujas duas opções de tema giravam em torno das lutas e concepções ideológicas ligadas à questão quilombola e indígena, a próxima etapa do processo seletivo é a defesa do memorial descritivo. Trata-se de um relato acerca da história de vida do candidato, incluindo elementos como a trajetória escolar, a vivência em comunidade, as expectativas de ingresso na Universidade e a importância dessa formação para a realidade da comunidade quilombola ou indígena. As apresentações ocorrem durante esta quarta-feira (12), nos três turnos.

O resultado final está previsto para ser divulgado até a próxima semana.