Aluno da Enfermagem desenvolve pesquisa nos EUA
Estudante de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Allan Palheta tem muita experiência nova para trazer na bagagem de volta ao Brasil no final de agosto. O acadêmico, integrante do programa Ciência Sem Fronteiras, está nos Estados Unidos e, dentre outras realidades e oportunidades com as quais tem se deparado, uma das mais valiosas tem sido a participação em uma pesquisa nova. O estudo deverá dar origem a um instrumento de avaliação sobre autocuidado em relação à população presa ou que possui experiência de encarceramento.
O acadêmico está morando na cidade de Storrs, estado de Connecticut, e estudando na Universidade de Connecticut (UCONN). Desde quando chegou, em agosto do ano passado, ele tem se aprofundado em disciplinas diferentes das que existem no Brasil, conhecido melhor as particularidades do sistema de saúde norte-americano – em comparação com o brasileiro – e se envolvido em ações na comunidade.
Há menos de um mês, Palheta começou a trabalhar com duas professoras da UCONN em uma pesquisa desenvolvida num centro que trabalha com questões de saúde envolvendo populações vulneráveis (Center For Correctional Health Networks). As docentes criaram um modelo (Re-Discovery Self-care Model) que engloba o entendimento de que pessoas que passam certo tempo na prisão aos poucos perdem algumas habilidades essenciais para lidar com situações desfavoráveis quando estão novamente entrando na vida em comunidade. Assim, os profissionais de Enfermagem devem atuar na avaliação dessas habilidades e perceber quais potencialidades desse indivíduo podem ajudá-lo na vida social fora da prisão, para que não volte a ser preso. “Por exemplo, se uma pessoa está presa e possui histórico de alcoolismo, quando está na prisão não tem acesso a meios para adquirir bebida. Quando ela sai da prisão – digamos que mora próximo a um estabelecimento que venda bebida -, de que maneira esse sujeito vai lidar com essa situação? Que características dele podemos trabalhar para que seja capaz de promover seu autocuidado?”, explica o estudante.
No entanto, segundo ele, ainda não existe um instrumento que meça as características para o autocuidado nessa população. É isso que a pesquisa vem estudando.
Nesse momento inicial, o acadêmico da UFPel tem procurado todos os instrumentos relacionados a autocuidado e comparado as variáveis desses instrumentos com as esperadas de acordo com o modelo das docentes. “Queremos, com isso, construir um instrumento para essa população específica, o que pode contribuir muito no trabalho da Enfermagem com essa população e na redução da reincidência na prisão”, destaca.
Desafios e oportunidades
Segundo Palheta, a experiência tem sido única. “É uma oportunidade enorme estudar um período fora do seu país de origem”, diz.
Para ele, o aspecto mais desafiante foi a diferença da metodologia em relação ao currículo do curso. De acordo com ele, a Faculdade de Enfermagem da UFPel vem apostando num currículo construtivista, que envolve o aluno através de práticas ativas de ensino e avaliação. Nos Estados Unidos, conta ele, a formação tem uma visão muito imediatista e voltada pro mercado de trabalho, o que deixa os alunos constantemente preocupados com notas. “O currículo participativo que temos na Faculdade de Enfermagem, com turmas reduzidas e práticas voltadas para o sistema público de saúde, nos instiga e nos estimula a sermos profissionais melhores. Não apenas preocupados em garantir uma vaga no mercado de trabalho, mas também em fazer a diferença nos espaços em que estivermos inseridos. Mas em momento nenhum a diferença da metodologia reduz a qualidade das aulas aqui. Sempre aprendi muito”, avalia.
Ao mesmo tempo, o acadêmico ressalta a experiência adquirida em disciplinas, especialmente relacionadas a metodologias de pesquisa e saúde pública. Esta última rendeu ao estudante uma intervenção na comunidade, realizada com base em um programa nacional de saúde dos EUA, conhecido como “Healthy People 2020”. A atividade em que o estudante brasileiro esteve participando compreendia crianças na pré-escola, com idades entre três e cinco anos. O foco foi a alimentação saudável e foram desenvolvidas atividades lúdicas envolvendo alimentos e a presença deles no cotidiano dessas crianças. O objetivo era fazer com que elas reconhecessem os alimentos apropriados para um desenvolvimento saudável, através da construção de um prato que considerariam apropriado.