Pesquisa da UFPel está entre os cem clássicos da ciência sobre doença pulmonar
Trabalho da UFPel é o único da América Latina em ranking de clássicos da ciência mundial sobre doença pulmonar crônica, segundo revista especializada
Pesquisadores do Departamento de Medicina Respiratória do Hospital Público de Xangai (China) elaboraram o ranking dos cem clássicos científicos sobre doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) – enfermidades que podem levar à perda progressiva da capacidade respiratória, como bronquite crônica e enfisema pulmonar. Publicada na edição de março do Internacional Journal of Chronic Obstrutive Pulmonary Disease, a listagem apresenta os cem trabalhos mais citados na literatura científica da especialidade desde 1945. Confira o texto do Jornal em COPD-74911-a-bibliometric-analysis-of-the-100-most-influential-papers-o_032515(4) .
A pneumologista Ana Baptista Menezes é a única representante da pesquisa brasileira entre os cem primeiros autores dos clássicos, e o trabalho da docente da Universidade Federal de Pelotas à frente do Projeto Latino-Americano de Investigação em Obstrução Pulmonar (PLATINO), o único latino-americano a figurar no ranking.
Para chegar à lista dos “cem papers mais influentes em DPOC”, os autores do estudo utilizaram dados da versão eletrônica do Science Citation Index (SCI), com informações sobre o número de citações de artigos publicados em mais de dez mil periódicos científicos de alto impacto. Um índice baseado na média de citações por ano foi determinado para cada artigo do ranking, de modo a considerar o impacto do tempo de publicação sobre o número de citações.
Publicados entre 1966 e 2010, os cem clássicos são originários de 32 países. Estados Unidos, com 38, e Inglaterra, com 34, concentram o maior número de trabalhos no ranking. Canadá (20), Holanda (12), Itália (10), Bélgica (9), Espanha (8), Dinamarca (7), Austrália (6) e Escócia (5) fecham o grupo de países que contribuíram com cinco ou mais artigos. Entre os cem trabalhos, 63 referem-se à clínica médica e sistema respiratório.
“Em suma, a principal razão para serem tão amplamente referenciados é que as conclusões e os resultados relatados nestes documentos produziram influência histórica no tratamento da DPOC e na história da pesquisa”, comenta um dos autores do estudo, Wenchao Gu, no texto do artigo.
Primeiro levantamento da doença pulmonar crônica na América Latina
O estudo coordenado pela pneumologista da UFPel realizou o primeiro levantamento de base populacional sobre doenças pulmonares obstrutivas crônicas na América Latina. A coleta de dados, com emprego de espirometria (“teste do sopro”), envolveu mais de 5,3 mil pessoas com 40 anos ou mais de idade em cinco cidades geograficamente representativas da América Latina: São Paulo (Brasil), Santiago do Chile (Chile), Cidade do México (México), Montevidéu (Uruguai) e Caracas (Venezuela). Publicados na revista médica The Lancet, em 2005, os resultados revelaram a alta prevalência de DPOC na região – variando aproximadamente de 8%, na Cidade do México, a 20%, em Montevidéu – valores acima dos 4 a 10% esperados com base em revisão internacional de dados sobre a prevalência de DPOC. Os níveis de tabagismo na população foram de quase 40%, em Santiago do Chile, 28%, em Montevidéu, 25,5%, na Cidade do México, 24%, em São Paulo e 28,8%, em Caracas.
Nova fase do estudo mostra níveis estáveis na América Latina; diagnóstico precoce requer “teste do sopro”
Um novo acompanhamento realizado com a mesma população em Montevidéu, em Santiago do Chile e em São Paulo, respectivamente aos 5, 6 e 9 anos após a primeira fase do estudo, mostrou níveis estáveis da doença pulmonar na América Latina. Utilizando um critério mais adequado para o cálculo de prevalência em estudos de acompanhamento, a análise dos dados revelou aumento de 0,9%, em Montevidéu, e de 0,4%, em Santiago do Chile e em São Paulo. Uma possível explicação para esse aumento é que cerca de ¼ da população diagnosticada com DPOC continuava a ser fumante – e o tabagismo é a principal causa do desenvolvimento e da progressão da doença.
A análise dos dados revela que o diagnóstico clínico tem sensibilidade de apenas 20% para a identificação da doença, em comparação com o uso da espirometria, ou “teste do sopro” – o que reforça a necessidade de adoção do uso da espirometria nos serviços de atendimento à saúde da população.