Peça Teatral “Alívio Imediato” inicia 3ª temporada nesta sexta(4)
O Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Processos Criativos em Artes Cênicas (GEPPAC/UFPel) dá início à terceira temporada do espetáculo teatral “Alívio Imediato”. As encenações estão programadas para esta sexta-feira(4) e para os dias 11 e 18 deste mês, no Tablado (Tamandaré, 275), às 23h15min. O experimento poético foi criado a partir de uma pesquisa intitulada “O Trabalho do Ator com Síndrome de Asperger”, desenvolvida pelo graduando em Teatro Carlos Eduardo Pérola, sob a orientação do professor Adriano Moraes.
Carlos é o único ator em cena. O experimento acontece num espaço e, ao longo da apresentação, o público se vê conduzido pelo ator através da transformação de um m mesmo espaço em diferentes lugares.
Alívio Imediato pode ser visto como uma grande brincadeira onde o ator se diverte ao pronunciar cada palavra, ao emitir cada som, ao realizar cada gesto, cada movimento, não se importando com o significado do que está sendo dito e nem mesmo com o uso de uma língua específica. Desse modo, ou seja, divertindo-se de maneira sincera diante dos espectadores, o ator possibilita que os mesmo se divirtam também. O público, assim, participa também da brincadeira, “aliviando-se” junto com o ator.
O título Alívio Imediato faz referência ao sentimento de “alívio” que o Teatro proporciona ao ator portador da Síndrome de Asperger. Tal síndrome faz com que o indivíduo tenha dificuldade para se comunicar e interagir com as pessoas no dia a dia. No teatro, porém, essas dificuldades são amenizadas. O fato de o Teatro acontecer numa dimensão diversa à da “vida real” permite ao indivíduo realizar no Teatro coisas que geralmente lhe são difíceis de realizar fora dele.
A dramaturgia do experimento é de Adriano Moraes; direção de Adriano Moraes e Elias Pintanel; cenários e figurinos de Marcelo Silva.
Alívio Imediato estreou em outubro de 2012 e desde então já foi visto por cerca de 80 espectadores ao longo de sete apresentações. Cada sessão do experimento poético podia ser vista por 10 espectadores.
O Sentido de Ter Feito “Alívio Imediato”, por Carlos Eduardo Pérola
O experimento poético Alívio Imediato foi, ao longo de 15 apresentações ocorridas entre outubro de 2012 e maio de 2013, apresentado ao público como sendo “uma grande brincadeira”. O espaço onde aconteceu o experimento foi comparado a um playground e o figurino assemelhava-se a uma roupa infantil. Assim, os primeiros “Alívios” acabaram sendo de fato uma brincadeira, sem grandes preocupações técnicas, estéticas, etc. Entretanto, à medida que aconteciam as apresentações, foi-se percebendo a necessidade de transformar a brincadeira em algo mais “sério”, com regras menos rígidas (pra não tornar a brincadeira chata), porém elaboradas de tal modo a tornar a brincadeira interessante tanto para aquele que brinca, como para aqueles que observam o seu brincar.
Experimentaram-se diferentes modos de fazer cada cena, de realizar cada movimento, de pronunciar cada palavra, de ocupar o espaço. Desse modo, a busca da “cena perfeita” (“Não é por aí, é por aqui”) acabou acontecendo não só de uma cena para outra em uma mesma apresentação, mas também no âmbito de uma mesma cena, entre uma apresentação e outra.
Essa flexibilidade nas cenas, permitida pelo “experimento poético”, possibilitou-me experimentar coisas novas a cada apresentação. Os novos “desafios” que iam sendo propostos a cada ensaio, permitiram, desde a primeira até as últimas apresentações, uma gradativa melhora no meu trabalho como ator e, consequentemente, na qualidade do experimento como um todo. Se todos esses desafios tivessem sido propostos logo no início, todos de uma vez só, creio que teria sido muito mais difícil lidar com eles.
Comparando as primeiras apresentações com as últimas, percebo que passei a controlar melhor meu olhar em cena, assim como a tensão em minhas mãos. As variações de ritmo de uma cena para outra ficaram mais evidentes. As ações/gestos/movimentações de algumas cenas, que inicialmente eram feitas quase que “de qualquer jeito”, foram melhor organizadas/partiturizadas.
Poucas dessas mudanças foram propostas por mim. Creio que nesse aspecto ainda tenho muito que melhorar. Acostumei-me demais com as “regras iniciais da brincadeira” e, mesmo quando já estava as achando meio chatas/repetitivas, fiquei esperando alguém dizer que elas poderiam ser mudadas. Só nas últimas apresentações, depois que começaram a haver mais ensaios, que me senti mais a vontade para criar algumas pequenas ações por conta própria.
Aliás, refletindo agora sobre todo o processo, uma das conclusões a que chego é que deveriam ter acontecido mais ensaios, com a presença do diretor. Percebo que nesse aspecto o experimento foi falho desde o início, posto que passei os dias antes da estreia ensaiando sozinho. A meu ver, as melhores mudanças aconteceram nos ensaios que antecederam as últimas apresentações e acredito que se esses ensaios tivessem acontecido com mais frequência, desde o início, as cenas teriam chegado mais perto do “por aqui” almejado.
Mas mesmo sabendo que o resultado “final” poderia ter sido melhor, de modo algum creio que ele chegou a ser ruim. Houve sim apresentações em que eu poderia ter me esforçado mais, me concentrado mais, gastado mais energia, mas mesmo com as falhas/problemas presentes em qualquer processo criativo, agrada-me perceber que a qualidade das últimas apresentações foi bem melhor que a das primeiras. Senti-me mais vivo em cena, mais crente no que eu estava fazendo. Até os elogios dos espectadores pareceram mais sinceros nas últimas apresentações.
Encerrando esse trabalho, espero agora que o teatro continue a me trazer os seus alívios, porém de outras formas. E espero também que a “brincadeira” vá, aos poucos, conforme se mostrar necessário, sem pressa nem procrastinações, transformando-se cada vez mais em “coisa de gente grande”.
Peça Teatral: “Alívio Imediato” (experimento poético)
Ator: Carlos Eduardo Pérola
Direção de Ator: Elias Pintanel
Direção Geral e Dramaturgia: Prof. Dr. Adriano Moraes
Cenários e figurinos: Marcelo Silva
Sinopse: Para um ator com síndrome de Asperger o teatro pode funcionar como um alívio imediato. Nessa peça teatral o ator experimenta a linguagem como um jogo em que os ingredientes principais são movimentos e voz.