Aventura das Cores no Corredor Arte
O psiquiatra suíço Carl Jung descobriu que as mandalas expressavam conteúdos interiores do ser humano. Em um estudo das manifestações do inconsciente, seus pacientes produziam de forma espontânea desenhos de mandalas, sem ter conhecimento anterior sobre elas. Ele dizia que isso tende a acontecer com pessoas que progridem no seu processo de autoconhecimento e individuação, observando o efeito de auto-cura que elas exerciam, inclusive em si mesmo.
Ele verificou que a mandala possui dupla eficácia: conservar a ordem psíquica, se ela já existe; ou restabelecê-la, se ela desapareceu. Neste último caso, exerce uma função estimulante e criadora.
A psicóloga Maria Helena Conceição Silveira se aventura pela primeira vez no mundo da arte, produzindo mandalas através da pintura sobre vidro. A exposição “Aventura das Cores”, pode ser visitada até o dia 5 de agosto, no Corredor Arte do Hospital Escola UFPel.
Maria Helena justifica seu trabalho com os estudos de Jung e afirma que a contemplação e criação de uma mandala pode inspirar a serenidade e auxiliar a reorganização de sua ordem psíquica interna. “O que construo são experimentos com essa pintura que sempre me foi extremamente encantadora. Antes, apenas olhava embevecida. Agora me atrevo a tentar”, comenta.
Para ela, a pintura no vidro lança o desafio e a liberdade de deixar as cores seguirem seu rumo e seu ritmo. “E este é um dos grandes lances da vida. Como me segurar ante a vontade e o condicionamento cultural de controlar racionalmente o que estou pintando?”, questiona a psicóloga.
“Mesmo quando faço um falso vitral, com um contorno pré-definido, eu preciso deixar a tinta livre para poder seguir seu curso e se aconchegar nas margens que a delimitam. Se eu não conseguir me conter nessa interferência, as cores não me darão uma boa resposta. Até quando tem um limite, elas exigem liberdade de ação. E quando isto lhes é ofertado, os efeitos e as nuances magicamente ofertadas transcendem qualquer expectativa que eu poderia ter esboçado anteriormente.”, reflete.
Nestas peças, Maria Helena se atreve a cursar o caminho das misteriosas mandalas e sua energia, a reproduzir traçados que compõem molduras e a deixar as cores se entrelaçarem livremente em círculos de vidro. Ela garante que em todas estas vivências, a satisfação é indescritível. E dá a dica: “qualquer um de nós, que tenha afinidade com esses materiais (tintas, cores, pincéis, vidro) pode também arregaçar as mangas, abrir as janelas da casa e da alma para ventilar os resíduos tóxicos das tintas e dos entraves pessoais, como o medo de tentar, ideia pré-fabricada que não tem condições, concepção absolutamente fora da realidade humana que não tem criatividade, etc, e se lançar na aventura das cores”.
Para a Psicóloga, as cores e seus significados são fundamentais. Segundo a cromoterapia, todas as cores têm propriedades que nos afetam diretamente. Tanto física: cada cor vibra em um órgão, reequilibrando-o, de forma curativa; quanto emocionalmente: interferindo em nosso humor e nosso ânimo.
Sobre o Corredor Arte, Maria Helena filosofa: “Sabe, quando a gente vai caminhando, envolvidos em sentimentos desconfortáveis, de tensão, preocupação, medo, muitas vezes sem perceber com muita nitidez o que se passa à volta? E aí, repentinamente, somos surpreendidos por algo fora de nós que nos puxa para outra gama de sentimentos? E, momentaneamente, ficamos absorvidos por esses outros estímulos “do bem” e quando retomamos nossa caminhada, parece que estamos um pouquinho mais aliviados… Eis um dos objetivos de um espaço de arte dentro de uma instituição em que muita alegria e realização acontecem. Mas também, onde passamos por situações desafiadoras. O Hospital Escola merece parabéns por manter essa prioridade e por valorizar tudo isto que o Corredor Arte representa.
Manter por tantos anos, um espaço de arte dentro do Hospital, se constitui num esforço persistente de fazer valer o olhar para o belo, para a criatividade, tornando possível aos que ali passam, uma pausa para conectar com outras sensações, um estímulo à conexão consigo mesmo, auxiliando na superação dos momentos difíceis, fazendo crer que é possível otimismo e alegria, mesmo que talvez numa das situações mais complexas e desafiadoras da vida.”