UFPel e IFSul iniciam luta conjunta contra assédio com roda de conversa
Uma roda de conversa, realizada na tarde desta quinta-feira (29) no saguão do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul), marcou o início de luta conjunta dessa instituição e da Universidade Federal de Pelotas contra o assédio em todos os seus âmbitos. Esta foi a primeira de uma série de ações em parceria a serem desenvolvidas ainda em 2018 e durante todo 2019.
Essa primeira ação ocorreu no contexto do 5º Seminário de Direitos Humanos do IFSul, realizado durante toda a quinta-feira, e reuniu grande público. Para ilustrar o tema, foram convidadas as debatedoras Lisandra Osório, psicóloga da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFPel, Mariana Schardosim, advogada e servidora do Gabinete do Reitor da UFPel, e Djeniffer Coradini, responsável regional por políticas de equidade em saúde da 3ª Coordenação Regional de Saúde (CRS).
Antes, no entanto, lideranças de ambas as instituições usaram a palavra para ressaltar a importância desse novo processo na necessária luta contra o assédio nas instituições federais de ensino. O reitor do IFSul, Flávio Nunes, que tal mobilização passa também pela forma de recebimento e encaminhamento das denúncias nas instituições: “A velocidade com que as coisas acontecem frustra às vezes”.
O vice-reitor da UFPel, Luis Amaral, considera que a inclusão é o tema desse momento que vive nossa civilização humana. Por isso, a existência da prática do assédio é algo muito grave para a sociedade. “Ele nos faz menores enquanto civilização”, pontua.
A chefe do Núcleo de Gênero e Diversidade da UFPel, Eliane Pardo, que idealizou a campanha conjunta, explicou que sua motivação foi o fato de que não é possível combater a prática sozinho. Por isso, a ideia de unir as duas gestões: “O que discutimos na UFPel e no IFSul tem força e repercussão na região”.
Finalizadas as falas, foi iniciada a roda de conversa. Em um primeiro momento, Lisandra esclareceu o assédio pela perspectiva da saúde mental de quem o sofre. Ela destacou que muitas das vítimas já sofre por vulnerabilidades diversas surgidas pelas mudanças trazidas pelo ingresso no ensino superior, muitas vezes acompanhadas por fatores como a distância da família. “Encontramos um jovem perdido e confuso”, explica.
Mariana, em sua fala, trouxe subsídios da legislação, para pensar o assédio dentro da perspectiva jurídica. Ela explicou que, criminalmente, ainda é difícil enquadrar atitudes do tipo, devido ao fato de que a tipificação na lei apenas leva em consideração relações de trabalho, mas que já estão sendo encontradas jurisprudências que levam a interpretação para relações professor-estudante.
Já Djeniffer lembrou uma máxima que ligou com o tema: “Uma brincadeira só é brincadeira quando todos brincam; caso contrário, é opressão”. Ela lembrou que o assédio sempre é pautado sobre relações de poder, sendo que a ponta fraca geralmente é desacreditada, sendo esta a vítima. Outro fato grave levantado pela representante da Secretaria de Saúde é o fato da reprodução de práticas, exemplificadas pelo trote violento: o estudante sofre quando é calouro, mas repete quando é a sua vez de ser veterano. Por isso, todo o debate sobre o tema é necessário. “Não é preciso ser um oprimido para fazer essa reflexão”, disse.