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Elas na ciência e a ciência sobre elas

Embora todas as lutas travadas pela igualdade de gênero e algumas conquistas relacionadas aos direitos das mulheres, sabe-se que a realidade da presença feminina em certos ambientes é reduzida. A igualdade ainda é uma realidade distante, por exemplo, as mulheres ganham em média 20,5% a menos do que os homens de acordo com IBGE e esta média cai ainda mais considerando as mulheres que são mães, que recebem 40% a menos.

Inevitavelmente, esta realidade é refletida dentro da Universidade. Dois importantes eventos que ocorreram na UFPel em 2019 mostram um pouco sobre como se dá esta realidade das mulheres dentro da Universidade, com a pesquisa, o ensino e a extensão.

Elas na ciência

O evento “Elas na Ciência” motivou o levantamento sobre a presença discente e docente feminina na vida acadêmica e na pesquisa, visando a construção de políticas que incentivem e promovam a maior participação das mulheres dentro da Universidade. Os dados revelam que, apesar do grande número de mulheres estudando na UFPel, no topo da vida acadêmica, são os homens que acabam tendo destaque.

De acordo com o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Flávio Demarco, alguns fatores explicam os dados levantado pela Pró-Reitoria, como a entrada posterior no ambiente científico, a maternidade e o assédio moral e sexual. “Os dados são importantes para que a administração consiga construir ações para diminuir estas disparidades, como a Resolução sobre assédio que está sendo preparado pelo Núcleo de Gênero e Diversidade, o Manual de Boas Práticas em pesquisa que está em fase final de elaboração e a Política para as mães ou adotantes, implantada em 2019”, explicou.

SIIEPE

Ocorreu entre os dias 21 e 25 de outubro o maior evento acadêmico da UFPel, a Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (SIIEPE) que contou com a apresentação de mais de 4 mil projetos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos na Universidade nas mais diversas áreas de conhecimento.

Um dos eventos da SIIEPE, o Encontro de Pós-Graduação (Enpos), por exemplo, recebeu 1151 inscrições de pesquisas, sendo que cerca de 800 foram realizadas e apresentadas por mulheres que atuam nas mais diversas áreas. Nas salas destinadas às apresentações das Ciências Agrárias dos 324 trabalhos, 231 foram apresentados por pesquisadoras. As salas das Engenharias, área considerada preponderantemente masculina, das 41 pesquisas apresentadas, 20 eram realizadas por mulheres.

Pesquisas sobre elas

Analisando o que foi apresentado é possível ver a força das pesquisadoras, além do grande número de pesquisas que são desenvolvidas tendo como objeto de estudos o tema mulher, feminismos, feminismo negro, estudos étnico-raciais, interseccionalidades entre outros aspectos dos estudos de gênero. Pelo menos 70 trabalhos no Enpos foram direcionados para estes temas, fora os outros 3 mil trabalhos dos outros eventos da SIIEPE. Na área de saúde, cerca de 20 pesquisas estão relacionadas com a saúde e bem-estar da mulher.

Algumas destas pesquisas receberam os destaques de sala, que são os trabalhos mais bem avaliados pelos debatedores. Com a temática “Educação Infantil para as Relações Raciais: Potencialidades das Professoras Negras”, a pesquisa da mestranda em Educação, Carolina Duarte, recebeu o destaque de uma das salas da área de Ciências Humanas. Ainda desta área, uma importante pesquisa que está sendo desenvolvida sobre violência contra mulher também recebeu o destaque. Intitulada “Vidas Femininas Importam”, o estudo da doutoranda em História, Elisiane Chaves, analisa os casos de feminicídios ocorridos entre 2014 e 2019 em Pelotas. Já a mestranda em Antropologia, Ediane Oliveira, recebeu o destaque da área de Humanas com a pesquisa “Nós também escrevemos essa história” – Escrevivências e narrativas biográficas de mulheres negras em Pelotas.

Nas Ciências Sociais Aplicadas, um dos destaques foi para a pesquisa sobre Empreendedorismo Social Feminino: O caso do Grupo de Redeiras, que está sendo desenvolvido pela mestranda em Administração da FURG, Marina da Fonseca.

Na área de Saúde, um dos destaques foi para o estudo que está em curso no doutorado em Odontologia, que trata das “Desigualdades relacionadas a percepção materna sobre a saúde bucal dos filhos aos 4 anos: resultados parciais da Coorte 2015”, da pesquisadora Sarah Karam. Ainda na área de saúde, a mestranda Franciéle Ribeiro recebeu o destaque pela pesquisa “Percepção de professoras do currículo sobre as turmas participantes do projeto Jogando para aprender”.

Sua Tese em 3 Minutos

Ainda dentro da SIIEPE, ocorreu o evento Sua tese em 3 Minutos, um desafio aos doutorandos da Universidade para conseguir apresentar ao público leigo as suas pesquisas com uma linguagem simples em apenas três minutos. Foram 18 inscritos, selecionados previamente pelos programas de Pós-Graduação, sendo que apenas dois eram homens. A premiação ocorreu para três mulheres que estão desenvolvendo dentro da UFPel importantes pesquisas que buscam novas tecnologias para tratamentos de saúde. O primeiro e segundo lugares, escolhidos pelos jurados, representantes da comunidade externa da UFPel, foram para as doutorandas Ângela Maria Casaril e Fernanda Teixeira, respectivamente.

Ângela apresentou a pesquisa que está realizando no PPG em Biotecnologia. Intitulada “Em busca da Felicidade…”, a pesquisa analisa o tratamento para depressão a partir de um produto que contém selênio. Na apresentação, na qual a doutoranda aborda as questões sobre a gravidade da doença e sobre os tratamentos que são utilizados atualmente, Ângela afirma que a pesquisa em busca de um tratamento eficaz segue, pois “todo mundo merece ser feliz…”.

Outra doença que afeta uma boa parte da população é o objeto de estudo da segunda colocada, Fernanda Teixeira, doutoranda do PPG de Bioquímica e Bioprospecção, que está desenvolvendo e testando um novo tratamento para o Alzheimer. Sua pesquisa é intitulada “Efeitos do tratamento com Unosina em parâmetros comportamentais e bioquímicos em modelos experimentais in vitro e in vivo para a doença de Alzheimer”.

A plateia presente no auditório da FAEM escolheu a terceira colocada, a doutoranda Débora Duarte Ribes, do PPG em Ciência e Engenharia de Materiais, com a pesquisa “Artificial Skin produzida através de Gel Nanofibrilar de Celulose Vegetal – Ensaio in Vitro”. A pesquisadora está desenvolvendo em laboratório uma pele artificial, capaz de substituir os tratamentos atuais que necessitam de pele, como feridas e queimaduras, tendo em vista que os Bancos de Pele têm estoque pequeno e as tecnologias artificiais existentes são muito caras.

 

Publicado em 01/11/2019, na categoria Notícias.