Academia Brasileira de Ciências elege professor da UFPel como membro afiliado
Pela terceira vez em sua história, a Universidade Federal de Pelotas tem pesquisadores do seu quadro eleitos como membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências. A assembleia geral da entidade, reunida na última quinta-feira (6), escolheu o professor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico Tiago Collares para participar de sua composição durante o período de 2018 a 2022.
A deferência concedida ao professor, de membro afiliado, é voltada para cientistas de até 40 anos de idade, especialmente líderes de pesquisas em áreas de fronteira da ciência. Nomes indicados por membros titulares passam pelo escrutínio da assembleia geral da entidade, que escolhe, então, os nomes por região brasileira. O docente foi escolhido por meio da região Sul e foi categorizado dentre os nomes pertencentes às Ciências Biomédicas.
Além de Tiago Collares, já foram eleitos para esse posto outros dois pesquisadores da UFPel: o atual reitor, professor Pedro Curi Hallal, cujo mandato foi de 2009 a 2013, e o professor do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos (CCQFA) Diego Alves, admitido neste ano, permanecendo até 2021. Além disso, a UFPel também conta com um membro titular na ABC, o professor emérito César Victora, cujo mandato é vitalício.
O vínculo do novo afiliado à Academia Brasileira de Ciências passa a ser válido a partir do primeiro dia de 2018. No entanto, solenidade de posse ainda será realizada em data ainda não definida.
Um percurso feito junto à UFPel
A indicação e escolha levam à ABC um pesquisador cuja trajetória entrelaça-se à UFPel, visto que a totalidade de seus estudos foi realizada dentro da instituição: Tiago é graduado em Biologia e Medicina Veterinária e mestre e doutor em Biotecnologia. “Esse reconhecimento também é para a UFPel, de tudo que foi desenvolvido aqui dentro, desde a graduação até o pós-doutorado que ela me propiciou”, diz.
Ao mesmo tempo, esse mesmo entrelaçamento ocorreu junto à área de Biotecnologia, local no qual, desde o seu primeiro semestre letivo, o docente desenvolveu atividades de pesquisa. E já no primeiro ano conquistou sua primeira bolsa de Iniciação Científica: “Foi um grande impulsionador”. Outro marco citado pelo novo membro da Academia foi o primeiro prêmio recebido como IC. “Ganhar prêmios motivava cada vez mais a permanecer na ciência”, relembra.
De fato, foi grande a motivação: após a conclusão dos dois cursos de graduação, a trajetória prosseguiu nos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, período no qual Tiago Collares publicou, em parceria com a Sociedade Brasileira de Genética, um livro, o primeiro material em português sobre pesquisa voltada para produção de animais transgênicos.
Também são frutos do trabalho do docente do CDTec os quase 80 artigos científicos de sua autoria ou coautoria e os mais de 30 pedidos de patentes nos quais consta o seu nome.
Pensar a ciência de forma coletiva
“Não consigo pensar em fazer ciência de uma forma individualizada”, pontua o novo membro da ABC. De acordo com Tiago, o grande segredo para a ciência é a colaboração. Dessa forma, segundo ele, será possível responder às grandes perguntas trazidas pela humanidade.
O docente da UFPel trabalha em ambas as frentes. Responder a uma dessas grandes perguntas é uma delas: seu maior foco de trabalho é desenvolvido no Laboratório de Biotecnologia do Câncer do CDTec. Lá, integra uma equipe multidisciplinar que busca encontrar novos modelos de estudo do câncer, especialmente aquele que atinge a bexiga. A forma encontrada é usar os chamados “oncopigs”, porcos geneticamente editados cujos organismos possuem respostas mais próximas às produzidas pelo corpo humano. Também se busca encontrar paralelos entre o desenvolvimento das células-tronco cancerígenas com as células-tronco embrionárias de bovinos e suínos, comparando os processos, o que possibilitaria um maior entendimento de como a doença funciona.
E a metodologia é a do compartilhamento. O trabalho é desenvolvido em parceria com diversas instituições, especialmente a Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Mas também nas diversas áreas profissionais que convergem no laboratório: “Sentar e discutir as situações com a equipe é muito fértil, pois abre um campo muito amplo de novas ideias e parcerias”. Dessa forma, as consequências emergem, conforme explica o professor.
A mesma rede de contatos e colaboração é o que é esperado por Tiago Collares ao se tornar membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências. “Acredito que vai ser uma oportunidade de conhecer mais pessoas e mais ideias”, afirma. Por isso, ao lado do sentimento lisonjeiro, está a inquietação dos novos desafios, daquilo que será oportunizado por essa nova colocação: “Fico pensando em quais serão os desafios para os próximos 40 anos”.
Pesquisa que gera inovação
Para o reitor da UFPel, a eleição do novo acadêmico vem coroar uma época de boas notícias para a pesquisa da Universidade, juntamente com o reconhecimento do conceito máximo do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e a conquista dos Prêmios Capes de Tese, um deles da área. “É um grande motivo de orgulho para nós e talvez o maior reconhecimento que um jovem cientista possa receber no Brasil”, diz Curi Hallal.
O pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Flávio Demarco, também visualiza nessa escolha a trajetória de crescimento do PPGB, que consolida na excelência de seu trabalho. Já o coordenador de Pós-Graduação da PRPPGI, Rafael Vetromille-Castro, destaca o trabalho desenvolvido pelo pesquisador é mais um reconhecimento da qualidade e da necessidade da universidade pública brasileira.
Para Rodrigo Krüger, coordenador de Pesquisa da pró-reitoria, um dos diferenciais da pesquisa desenvolvida pelo PPGB é a possibilidade de que seus conhecimentos se transformem em inovação; opinião da qual comunga o coordenador de Inovação Vinícus Campos, que vê na escolha o fato de a Academia enxergar que essa inovação deve ser um dos carros chefes e objetivos finais da ciência.