Slogan da UFPel é tema de conversa com Vitor Ramil
“Não estamos à margem de um centro, mas no centro de uma outra história”. O fragmento final da frase, um dos trechos mais significativos do livro A Estética do Frio, de Vitor Ramil, foi adotada como slogan pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Essa concepção foi tema da última roda de conversa da Bienal Internacional de Arte e Cidadania da Universidade, no final da tarde deste sábado (21). O próprio Vitor Ramil, acompanhado do professor Luís Rubira – que recentemente lançou um livro sobre a obra do artista -, o reitor Mauro Del Pino e a pró-reitora de Extensão e Cultura, Denise Bussoletti, participaram dos debates. O evento marcou o lançamento simbólico do slogan.
O professor Rubira abriu as discussões fazendo um resgate histórico local, evidenciando a integração já existente há muito tempo entre Pelotas e a região Sul da América. Segundo ele, Vitor Ramil será o primeiro artista a pensar essa unidade enquanto lugar, geografia, clima e outros aspectos compartilhados.
Ao agradecer a Ramil por emprestar a frase à Universidade, o reitor Mauro Del Pino falou sobre o contexto histórico e presente que leva a instituição a adotar o conceito “no centro de uma outra história”. “Nos permite estabelecer um nova diretriz para a UFPel e resgatar o papel histórico que a cidade e a Universidade têm prestado”, disse, destacando que a concepção abre um horizonte importante e desmistifica a existência de eixos culturais mais específicos. Entre os “grandes centros” Rio de Janeiro-São Paulo e Montevidéu-Buenos Aires, está Pelotas. “Propor uma nova história tem a ver com a atual realidade da UFPel, relacionada com o que hoje se tem constituído e que potencialmente pode ser”, observou.
De acordo com o reitor, a UFPel está cada vez mais multicultural, recebendo estudantes, professores e visitantes de diversos lugares do país e do mundo. Conforme Del Pino, o compromisso é transformar a UFPel em uma universidade da comunidade. “Queremos propor políticas e ações que deem sentido a isso. Que extrapolem os muros da Universidade. Que seja permanentemente aberta e, através dela, se expressem as mais diferentes manifestações culturais e iniciativas que possibilitem o diálogo”, afirmou. Isso estaria sintonizado com a formação de profissionais comprometidos e uma sociedade mais inclusiva.
Segundo o reitor, a Bienal é uma iniciativa que dá sentido ao slogan, porque agrega o protagonismo da América Latina e estabelece a UFPel como um grande centro de convivência.
A Estética do Frio
Bem-humorado, Vitor Ramil falou aos presentes sobre a concepção da ideia, que surgiu despretensiosa, intuída, quando morava no Rio de Janeiro e percebeu que a região Sul “sempre se sentiu um pouco excluída da tropicalidade brasileira”. Depois, explicou, quando a ideia ficou conhecida, precisou desenvolver o conceito – que não está encerrado, mas caracteriza-se como uma “provocação”.
De acordo com ele, Pelotas está em uma posição geográfica bastante privilegiada. “Quando formulei essa ideia, pensava no Rio Grande do Sul como um todo. Nossa história sempre é contada como se só existisse o eixo Rio-São Paulo”, disse.
O artista disse sentir-se lisonjeado pela adoção da expressão pela UFPel. “Fico feliz em ver esse tipo de ideia ser aproveitada pela academia. Pelotas é uma cidade que pode passar por períodos de marasmo, mas sempre ressurge. É uma potência principalmente no sentido cultural. É extremamente saudável ver a Universidade agindo culturalmente e colaborando com a cidade”.
A pró-reitora Denise Bussoletti comentou, na ocasião, que a Bienal instiga e nela reside a possibilidade de reinventar o cenário cultural. “Essa frase [o slogan] é para pensar que história é essa, que centro é esse, que cidade é essa”, pontuou.
Prosseguindo no debate, o professor Rubira destacou que, na Filosofia, de Parmênides a Nietzsche, há a concepção de que “o centro está em toda parte”. “Quando pensamos nisso, vemos que podemos estar no local adequado. Essa frase conferiu à Universidade uma identidade”.