Mais de 40% dos idosos usam medicamentos inapropriados
Em Pelotas, 42,3% dos idosos consumiram, entre janeiro e julho de 2014, no mínimo um medicamento que pode fazer mais mal do que bem para a saúde de pessoas na faixa etária a partir dos 60 anos.
O dado provém do trabalho de dissertação desenvolvido pela médica Bárbara Heather Lutz, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel (PPGE), sob orientação da farmacêutica e docente do programa, Andréa H. Dâmaso.
A pesquisa investigou a prevalência do uso de medicamentos potencialmente inapropriados na população idosa de Pelotas. Os dados foram coletados entre janeiro e julho de 2014, através do inquérito populacional COMO VAI? (Consórcio de Mestrado Orientado para a Valorização da Atenção ao Idoso), que realizou entrevistas domiciliares com mais de 1,4 mil idosos residentes na zona urbana de Pelotas.
Medicamentos potencialmente inapropriados para idosos são fármacos que apresentam alto risco de provocar efeitos colaterais, superiores aos seus benefícios. Nesses casos, o profissional deve optar pela prescrição de outros fármacos mais seguros disponíveis para substituir os potencialmente inapropriados.
Os resultados da pesquisa mostram que nove em cada dez idosos utilizaram algum tipo de medicamento. Do total de fármacos utilizados pelos entrevistados, 60,3% foram prescritos por médico ou dentista em atendimentos por consulta particular ou convênio e 37,6% foram prescritos por médico ou dentista em atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apenas 2,1% dos medicamentos foram consumidos por automedicação.
Quase a metade (47,1%) dos idosos que utilizaram medicamentos consumiu no mínimo um medicamento considerado potencialmente inapropriado. O grupo de medicamentos para o sistema nervoso aparece em primeiro lugar entre as ocorrências de uso de medicamentos potencialmente inapropriados, correspondendo a 48,9% do total de casos. Dentre os 898 medicamentos utilizados para o sistema nervoso pelos participantes da pesquisa, 458 foram considerados inadequados, entre eles estão Diazepam e Clonazepam. O segundo grupo com maior número de fármacos considerados potencialmente inadequados foi o dos medicamentos para o sistema músculo-esquelético, entre os quais se destacam Diclofenaco e Ibuprofeno.
“O medicamento é um importante instrumento de manutenção e recuperação da saúde em idosos. A prescrição inadequada de medicamentos para idosos é considerada um problema de saúde pública, devido à ocorrência de reações adversas e o aumento do risco de morbidade e mortalidade entre os pacientes”, afirma a autora do estudo.
A análise dos resultados sugere que ainda existe desconhecimento dos prescritores sobre as consequências do uso de medicamentos potencialmente inapropriados na faixa etária a partir dos 60 anos. “A maior divulgação pode contribuir para que os profissionais direcionem a prescrição para medicamentos que tenham um perfil mais adequado para utilização em idosos, tendo em vista o processo de envelhecimento da população cada vez mais evidente nos últimos anos”, acrescenta a pesquisadora.
Entre as ações elencadas para prevenir o uso de medicamentos potencialmente inapropriados entre idosos, o estudo aponta para a inclusão de listas específicas de medicamentos para uso na faixa etária a partir dos 60 anos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), a elaboração de critérios de prescrição nacionais, que contemplem fármacos disponíveis no Brasil, além da ampliação da oferta de medicamentos mais adequados para essa faixa etária aos usuários do SUS.
Título: Inadequação do uso de medicamentos entre idosos na cidade de Pelotas, RS
Orientador: Andréa Dâmaso
Banca: Iná Santos e Luiz Roberto Ramos
Apresentador: Bárbara Lutz
Data: 23/02/2015
Local: Auditório Kurt Kloetzel
Hora: 9h