Inauguradas fotos dos ex-reitores Borges, Del Pino e Hallal
Quase metade da história da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) foi relembrada e exaltada na cerimônia de descerramento das fotografias de três ex-reitores da Instituição. Antônio César Gonçalves Borges (gestões 2005 a 2009 e 2009 a 2013), Mauro Augusto Burkert Del Pino (2013 a 2017) e Pedro Rodrigues Curi Hallal (2017 a 2021) passaram a figurar na galeria de artífices dos caminhos da Universidade. Na solenidade, que ocorreu na sexta-feira (16), no Campus Anglo, também foi descerrada a foto do reitor eleito, mas não nomeado, Paulo Roberto Ferreira Júnior, atual pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, cujo mandato estaria ocorrendo.
Ao relembrarem suas trajetórias, conquistas e desafios, os gestores fizeram questão de ressaltar a importância e o papel da UFPel para a comunidade, pela atuação e expressividade local e nacional. Precedendo o cair do pano que revelava a fotografia, cada homenageado teve seu mandato e suas marcas ressaltadas por pessoas significativas em suas caminhadas.
A vice-reitora, Ursula Silva, abriu a solenidade destacando que o momento era de celebrar os feitos, a história e a memória dessas pessoas que levaram à frente muitas lutas da instituição.
César Borges
Dando início às homenagens, Manoel Maia, que foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, falou sobre César Borges, de quem, em diversos momentos, destacou a amizade. Comprometimento, confiança, seriedade e respeito foram palavras utilizadas para retratar o ex-reitor, que esteve à frente da UFPel por três gestões. Como destaques, Maia lembrou sobre a liderança no projeto binacional encabeçado pela Agência da Lagoa Mirim (ALM) e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que oportunizou um salto no número de cursos, alunos e servidores, transformando a UFPel de uma Universidade municipal para uma entidade de expressão nacional. “O que sempre me chamou a atenção foi a coragem desse homem, mesmo sabendo das dificuldades e limites que enfrentaria”, disse. Maia também destacou a humanidade e a solidariedade com que o ex-reitor exerce a Medicina – sua área de formação. Sobre aceitar o desafio de assumir a reitoria, Maia lembrou a resposta de Borges: “vou devolver à Universidade o que ela me deu”. “Todos deixam uma parcela muito grande de sua vida na reitoria. Me sinto honrado de ser protagonista de uma pequena parte dessa história”, finalizou.
Ao começar suas palavras, César Borges destacou que todas as realizações de seus períodos de gestão não foram feitas por seu trabalho exclusivamente, mas por sua equipe e todos os servidores da instituição. O dirigente pontuou também o Reuni como um marco desse período, que oportunizou que a UFPel “passasse de uma Universidade medíocre, de sete para 22 mil estudantes, mudando o perfil da instituição no estado e no país”. O ex-reitor mencionou também o convívio com vários presidentes da República e a abertura desses para com a UFPel. Mencionando ainda o papel decisivo da ALM na internacionalização da Universidade à época, ele também recordou a decisão de trazer a reitoria, até então localizada no Campus Capão do Leão, para Pelotas, com o desenvolvimento da região do Porto e revitalização de diversos prédios. O início das obras da Biblioteca do Capão, a construção do prédio da Química e a ampliação das Engenharias também foram citados. “A Universidade nada mais é do que a soma de sucessivas ideias que vão sendo transformadas e utilizadas ao longo do tempo. Buscamos e continuamos buscando o desenvolvimento da região. A Universidade precisa do apoio de todos, sem divisão ideológica”, sublinhou.
Mauro Del Pino
O ex-reitor Mauro Del Pino foi apresentado pela sua chefe de gabinete, Margarete Marques. Ela disse preferir não se ater ao Currículo Lattes do pesquisador nem aos feitos do administrador, mas às características, qualificação e formação política que levaram Del Pino à reitoria. Para falar do dirigente, Margarete usou palavras como escuta, serenidade, democracia, trabalho, educação, pesquisa, afeto e respeito. Ao mencionar diálogo, saber ouvir e saber dizer, ela recordou a liderança de Del Pino a um grupo alinhado pelas mesmas causas, trabalhando em prol de quatro eixos: democracia, qualidade acadêmica, melhores condições para servidores docentes e TAEs e compromisso com a região e a sociedade brasileira. Ações de relevância social também foram lembradas, como representatividade dos servidores, participação de mulheres em cargos de chefia, um gabinete de portas abertas e o enfrentamento de dificuldades orçamentárias. Ainda foram mencionados, dentre outros pontos, o estabelecimento do nome social na UFPel, o primeiro processo seletivo para quilombolas e indígenas, concurso para tradutores intérpretes de Libras, calouradas, criação da Universidade Aberta para Idosos (Unapi), Escola de Inclusão, Mestrado Profissional em Administração Pública (Profiap), Bienal Internacional de Artes e Cidadania e a criação da incubadora Conectar. “Certamente não fizeste tudo o que querias, mas tudo que fizestes foi na busca de uma UFPel mais democrática, justa e inclusiva”, disse, referindo-se ao também ex-reitor Amílcar Gigante, para quem a Universidade pode ser afetada por vários tipos de pobreza, mas jamais pode ser pobre em esperança, carente de ousadia e desprovida de vontade.
Foi também citando Gigante, o primeiro reitor eleito e nomeado na UFPel, que Del Pino iniciou seu discurso, lembrando que sua gestão teve origem política e ideológica baseada no trabalho desenvolvido por Gigante, que se agrupava em torno de um projeto de transformação social cujo mote era “a Universidade é da comunidade”. “Foi pela afirmação e continuação dessa história que essa gestão trabalhou, ainda trabalha e milita”, pontuou. Abordando realizações, projetos e partilha, marcada também por oposições e momentos difíceis, o ex-reitor ponderou que não cabia retomar o que já foi apresentado em relatórios, mas destacou a alegria e a felicidade pelo momento histórico de retomada da democracia. “Reconstruir a educação e enfrentar as forças do mercado é decisivo para nossa nação. A democracia retornará às universidades brasileiras”, disse, recordando que as instituições viveram momentos extremamente difíceis. Sobre seu período de gestão, Del Pino destacou que a UFPel cresceu em qualidade e comprometimento social, e, apesar de recheado de desafios, o período trouxe uma Universidade arejada e de qualidade, que dialoga com a comunidade e movimentos sociais, com transparência e construção coletiva. “Tudo nos é permitido, exceto cruzar os braços”, disse, citando Eduardo Galeano. “A luta continua. Viva a Universidade pública, viva a UFPel”, conclamou.
Pedro Hallal
Paulo Ferreira Júnior, ao se referir a Pedro Hallal, se disse emocionado e grato ao recordar a “brilhante carreira acadêmica” do ex-reitor, que aos 36 anos já era renomado pesquisador e foi convidado a representar um projeto feito a muitas mãos. Segundo ele, no período de gestão de Hallal os grandes pilares da instituição – ensino, pesquisa, extensão e inovação – tiveram grandes avanços, assim como o desenvolvimento de sistemas, o estabelecimento dos principais Museus no centro da cidade e a ida da Conectar para o Parque Tecnológico. “Contudo, priorizou incansavelmente os estudantes, implementando ações que impactaram significativamente”, disse, fazendo referência à implantação da frota própria de ônibus do Transporte de Apoio, o Restaurante Universitário (RU) do Campus Anglo, o novo prédio da Casa do Estudante e as formaturas institucionais. “Ele sempre usou uma frase: ‘nós fazemos gestão para quem mais precisa’”, destacou. Ferreira recordou os momentos difíceis vivenciados, quando as universidades públicas foram vilipendiadas pelo governo federal. “Ele [Hallal] foi incansável contra os desmandos dos vários ministros da Educação, levou a Universidade para as ruas em uma das maiores manifestações que se viu e enfrentou a pandemia com segurança e protagonismo”, destacou. Para Ferreira, Hallal foi um dos mais combativos cientistas do período da pandemia e, baseado em evidências, enfrentou os desafios com resiliência e determinação, sofrendo, inclusive, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) por ter enfrentado um governo que não nomeou o reitor eleito – no caso, o próprio Ferreira, que seria sucessor de Hallal. E lembrou outra fala do homenageado: “quem manda na UFPel é a sua comunidade”. “Que a sua foto seja um lembrete de seu legado, dedicação aos estudantes e busca pela excelência acadêmica”, encerrou.
Ao subir ao púlpito, Hallal começou sua fala recordando seu slogan de gestão: uma UFPel diferente. Embora, disse, pudesse falar sobre as conquistas e desafios dos quatro anos à frente de uma “equipe espetacular”, o ex-reitor ponderou que a UFPel tem centenas de anos de história – 54 como Universidade – dedicando-se ao mais importante: a educação. “Para a comunidade, a UFPel não funciona de quatro em quatro anos [períodos de cada gestão] mas continuamente. Não para e não é centrada nas pessoas que estão aparecendo nessas fotos, mas no que ela causa na sociedade”. Segundo ele, a instituição mudou efetivamente de patamar nos últimos anos, sendo a mais falada do país. “Ela mudou a vida de muita gente”, afirmou, fazendo referência às famílias que via nas formaturas institucionais, que muitas vezes tinham seu primeiro integrante com curso superior. “Durante todas as decisões difíceis, a gente tem que pensar que fazemos gestão para quem mais precisa. Tentei botar essa marca, que custa caro do ponto de vista pessoal”, salientou, relatando que passou inclusive por perseguições e ameaças. “Ao longo do tempo dei tudo que pude para que essa instituição seguisse avançando”, garantiu.
Paulo Ferreira Júnior
A surpresa da cerimônia foi reservada para o final, quando o reitor eleito, mas não nomeado, Paulo Ferreira Júnior, também teve sua fotografia descerrada no rol de reitores da UFPel.
Coube a Pedro Hallal apresentar o homenageado, revisitando o momento em que foi negado a ele o exercício do cargo. Naquela situação, Isabela Andrade, a atual reitora, fazia parte da lista tríplice e integrava o mesmo grupo de trabalho. “Em um dos momentos mais difíceis, a Isabela tomou uma decisão que mudou a história. Ela disse ‘não vou entregar a UFPel na mão de um interventor’”, salientou, aludindo ao que aconteceria caso a gestora tivesse se negado a assumir o cargo. Ele teceu elogios à maneira como Isabela e Paulo, junto com a vice-reitora Ursula, conseguem, sintonizados, administrar a Universidade. “Outras universidades não foram a público dizer que estão fazendo gestão compartilhada ou descerrou placa para o reitor não nomeado”, disse, destacando a atuação indispensável de Ferreira para a UFPel. “Não tenho noção do que tu passaste, mas tenho do que tu representas para a UFPel. Felizmente, a Universidade, com todo o protagonismo que teve nos últimos anos, sabe bem que o discurso de reitor eleito e não nomeado é algo sério. O caminhar vai fazer a reparação histórica, não só em discurso, mas em ação”, finalizou.
Visivelmente emocionado, Ferreira agradeceu a homenagem e se disse feliz com o reconhecimento. “Nós não escolhemos passar por isso”, pontuou, aludindo também às 20 instituições brasileiras que vivenciaram essa situação. Ele lembrou que o grupo de reitores não nomeados judicializou a questão junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas não conseguiu sucesso. “A lei está errada. O que aconteceu na nossa história não vai se repetir no Brasil. Estamos lutando pela mudança na legislação”, afirmou. De acordo com ele, há um compromisso sobre o tema com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e Ministério da Educação (MEC). “É coisa de um passado que não se quer viver mais”.
A coragem de fazer gestão
A reitora Isabela Andrade falou sobre o momento marcante e cheio de significado que reuniu quase a metade da história da UFPel como Universidade. “20 anos estão contados nesse espaço, simbolizando nosso reconhecimento e agradecimento pelos colegas que em diferentes períodos ousaram se colocar à disposição da nossa Universidade. Porque ousar fazer gestão é uma mostra pública de coragem e abnegação”, sublinhou. De acordo com a reitora, os dirigentes abrem mão de muitas coisas para se dedicarem a algo em que acreditam: uma universidade pública, gratuita e de qualidade. “Com a firmeza de saber aonde queremos chegar, lutamos sem arrefecer o espírito de resistência”, disse, fazendo referência a uma intervenção caso não assumisse a reitoria. “Continuamos nossa jornada em prol da Universidade cada vez mais plural, comprometida com a região, mas com o olhar voltado para o mundo e as necessidades da população”, afirmou a gestora.
Para ela, a trajetória de Borges é marcada pelo Reuni, mas também pela aquisição de prédios históricos que representam a preservação da história, memória e identidade. “Se a instituição pública não fizer isso, quem fará?”. Ela destacou, na caminhada de Del Pino, a adesão do Hospital Escola à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh): “uma decisão difícil, mas acertada”. Sobre Hallal, mencionou o olhar atento aos estudantes, marcado pela juventude e humanidade.
Por fim, sintetizou a natureza de Ferreira em uma palavra: generosidade. “Certamente não seria qualquer pessoa que faria o que ele fez. Ele tinha sonhado e se dedicado para estar hoje reitor. Em nome de um projeto, era a melhor atitude”, pontuou, destacando que ele está em todo o tempo, em todas as decisões e à disposição lado dela e da vice-reitora Ursula, fazendo uma gestão compartilhada. “Não há palavras para definir e agradecer. Não foi fácil nem simples, mas a gente teve coragem, ousadia e maturidade o suficiente para lidar com a situação”, afirmou. A dirigente diz vislumbrar momentos melhores que possibilitarão que a UFPel siga avançando. “Temos muito orgulho de ser UFPel e fazer parte da história da Universidade”.
A Galeria
As galeria das fotografias dos reitores da UFPel está localizada quarto andar do Campus Anglo, no corredor em frente ao Gabinete da Reitoria. Figuram, além dos dirigentes homenageados na recente cerimônia, Delfim Mendes Silveira (1969 – 1973 / 1973 – 1977), Ibsen Wetzel Stephan (1977 – 1981), José Emílio Gonçalves Araújo (1982 – 1984), Ruy Brasil Barbedo Antunes (1984 – 1988), Amílcar Gigante (1989 – 1993), Inguelore Scheunemann de Souza (1997 – 2004) e André Luiz Haack (2004 – 2005).