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Projeto de extensão da UFPel aborda sexualidade de jovens

O projeto de extensão “Se Toca”, coordenado pelo curso de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), voltou a visitar as escolas públicas de Pelotas para a realização de aulas sobre sexualidade durante a adolescência neste ano de 2023.

O “Se Toca” é um projeto de extensão, coordenado pela professora Ana Laura Sica Cruzeiro Szortyka, objetivando acompanhar e orientar os adolescentes da rede pública de ensino de Pelotas, com o intuito de elucidar para os jovens, de forma clara, objetiva e saudável, assuntos relacionados à sexualidade, sobretudo nesta fase de desenvolvimento.

Por meio das aulas ministradas pelas integrantes do projeto, os estudantes participantes podem compreender melhor as questões relacionadas à sexualidade. Dessa forma, participam de maneira interativa nas aulas, aprendendo assuntos relacionados à educação sexual, entre eles o que são as doenças sexualmente transmissíveis (DST’s) e seus efeitos, formas de prevenção, uso de métodos anticoncepcionais, ciclo menstrual, consentimento sexual, gravidez indesejada, entre outros temas.

O projeto também conta com linhas de pesquisa relacionadas aos comportamentos sexuais dos jovens, com o objetivo de analisá-los e compreendê-los. Assim, o projeto apresenta suas aulas com conhecimento do perfil sexual dos adolescentes de modo geral, e passa a orientar e esclarecer os jovens de forma dinâmica, descontraída, leve e interessante, proporcionado um ambiente onde todos os presentes se sintam à vontade para perguntar, debater e aprender de maneira construtiva sobre sexualidade e assuntos relacionados.

Comportamento sexual dos jovens durante a pandemia
Uma dessas pesquisas desenvolvidas pelo projeto “Se Toca” trata do comportamento sexual dos jovens durante a pandemia de Covid-19. O estudo é coordenado pela professora Ana Laura e as alunas de psicologia Eduarda Malüe, Mariana Castro e Isabella Fonseca.

A pesquisa, realizada em 2021 e divulgada em revista científica e apresentada em artigos, trouxe dados exclusivos e preocupantes quanto ao não uso de preservativos, feminino ou masculino, entre os jovens de 14 a 24 anos durante a pandemia de Covid-19: de 472 jovens entrevistados, constatou-se que 40,7% não usaram preservativos em pelo menos uma das últimas três relações sexuais que tiveram. A investigação encontrou resultados significativos para comportamento sexual menos protegido associado com o sexo feminino, em relação ao sexo masculino, podendo estar relacionado o menor uso de preservativos pelo sexo feminino por diversos fatores, dentre eles a dificuldade de negociação, devido a vulnerabilidade do gênero feminino e a dominação masculina, afetividade sexual, desejo de ter filhos, imprevisibilidade da relação sexual e a relação médico-paciente, associada ao uso de métodos contraceptivos. Além destes dados também foi relatado, nessa mesma pesquisa, que 62,8% dos jovens tiveram encontros afetivos durante a pandemia, apesar das restrições de isolamento e lockdown.

Em uma pesquisa maior, também realizada em 2021 pelo projeto, foi constatado um aumento de consumo de educação sexual por parte dos jovens, com destaque para os meios de comunicação, durante a pandemia. Dos 963 jovens de 14 a 24 anos de idade, 68% afirmaram ter obtido informação a partir dos meios de comunicação, 48,5% pelos pais, 43,4% de amigos, 41,1% da escola, 24,6% de parceiros sexuais e 11,2% de outros familiares. Assim sendo, constatou-se uma maior procura por educação sexual através dos meios de comunicação, enquanto foi revelada uma menor frequência de educação sexual orientada pelos pais dos jovens.

Entretanto, apesar de ter havido um aumento em relação a educação sexual, a pesquisa revelou um crescimento negativo entre os adolescentes: o uso da pornografia. Dos 963 jovens participantes 68,5% afirmaram ter consumido conteúdo pornográfico durante a pandemia. De acordo com a pesquisa, 44,3% dos jovens consumiam pornografia mais de uma vez por semana antes da pandemia e durante a pandemia esse número passou para 54%, um aumento de quase 10%. Os resultados acendem alerta, já que esse comportamento indica que a pornografia pode ser o primeiro contato que o adolescente, iniciando sua vida sexual, tenha com o tema. Aliada à falta de informações corretas sobre sexualidade e educação sexual, a pornografia pode causar consequências negativas no desenvolvimento sexual dos jovens, uma vez que a realidade é diferente da que é apresentada pelos vídeos pornográficos.

Estudos continuam no pós-pandemia
Atualmente o projeto está realizando uma segunda pesquisa para os jovens de 14 a 24 anos, chamada “Comportamento Sexual de Jovens Após a Pandemia de Covid-19” e tem como objetivo contribuir com a comunidade científica pelotense e, sobretudo, a comunidade jovem do município. O questionário pode ser respondido aqui. “A pesquisa viabiliza o mapeamento de um assunto importante e ainda não pesquisado em Pelotas, assim como o impacto da pandemia de Covid-19 na sexualidade dos adolescentes”, pontua Alana. Essa nova pesquisa, assim como a anterior, é totalmente anônima e sigilosa. Caso não se sinta confortável em responder a alguma questão, o participante pode deixá-la em branco. Também é possível desistir da pesquisa a qualquer momento.

As escolas participantes do “Se Toca” possuem autorização para abordarem assuntos sobre sexualidade entre os adolescentes. Todos os estudantes que participam do projeto têm a devida autorização da escola e também dos pais, caso sejam menores de 18 anos.