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Crianças e adolescentes do Hospital Escola têm a oportunidade de continuarem os estudos durante a internação

O pequeno Theodoro Alves, carinhosamente apelidado de Theo, está com oito anos e precisou ficar internado no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel/Ebserh) por 18 dias para o tratamento de uma pneumonia com derrame pleural, entre os dias 25 de outubro a 11 de novembro de 2022, período que impossibilitou a sua ida à escola. A internação, entretanto, não o distanciou do conhecimento. Ele foi beneficiado pelo Projeto “Pedagogia nas Classes Hospitalares”, desenvolvido a partir da parceria entre o Curso de Pedagogia da UFPel com o HE-UFPel/Ebserh, por meio da Unidade da Criança e do Adolescente (UCA) e da Gerência de Ensino e Pesquisa, promovendo um espaço didático para a continuidade da aprendizagem do paciente. Theo participou do projeto piloto, aplicado entre os meses de outubro de 2022 até fevereiro de 2023. E na última quarta-feira, dia 29 de março de 2023, o projeto inseriu oficialmente oito graduandas da Pedagogia, que iniciaram o desenvolvimento de ações pedagógicas com as crianças internadas em idade escolar.

Tudo acontece na Brinquedoteca, espaço lúdico escolhido para esse momento de aprendizado. Esse é um local de incentivo à criatividade, envolvendo também os brinquedos no processo de ensino, além de livros e outros materiais impressos. Os voluntários do projeto são acadêmicos da UFPel, principalmente do curso de Pedagogia, mas, atualmente, três estudantes de Artes Visuais e uma de Psicologia também participam. No cronograma deste ano, os encontros entre voluntários e pacientes ocorrem nas quartas-feiras e quintas-feiras, das 9h às 11h30min.

O orientador do projeto, professor Lui Nornberg, do Departamento de Fundamentos da Educação na Faculdade de Educação da UFPel, reforça que essa iniciativa propõe ao paciente a continuidade do processo ensino-aprendizagem mesmo enquanto está em tratamento. “Este é um projeto que une duas áreas fundamentais para o desenvolvimento humano: a saúde e a educação. É, portanto, a humanização do processo de hospitalização desse paciente, permitindo que ele continue aprendendo”, explica.

A pedagoga da UCA Adriana Coutinho é a preceptora do projeto no Hospital e explica que os conteúdos são desenvolvidos respeitando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Uma das responsabilidades da pedagoga é estabelecer o contato com as Secretarias Municipal e Estadual de Educação e com a escola do paciente para se informar sobre o que está sendo ministrado em sala de aula e, com isso, aplicar as atividades enviadas pela instituição e/ou as planejadas por ela. Adriana ressalta que esse momento de resolução dos exercícios contribui para o bem-estar geral do paciente: “Um dos maiores benefícios desses momentos é a criança sair da enfermaria para realizar as atividades, liberando-a do estresse da internação e fazendo com que a sua reinserção na escola após a alta seja mais agradável”.

A irmã de Theo, Nathalya Esteves, de 31 anos, acompanhou de perto a internação dele e testemunhou os frutos colhidos pelo projeto. Ela contou que foi bastante significativo ter esse espaço para que ele pudesse permanecer estudando: “Foi muito importante para o desenvolvimento dele. Notei que ele desenvolveu principalmente na grafia e no incentivo daquilo que ele mais gosta, que é a matemática. E ele adorou vivenciar isso”, disse. Theo se recuperou da pneumonia e conseguiu acompanhar a turma quando voltou à escola, concluindo o seu segundo ano do Ensino Fundamental.

Ensinar e aprender, uma via de mão dupla
A estudante Rita Santos está no quinto período de Pedagogia e é voluntária desde o início do piloto do projeto, em 25 de outubro de 2022, acompanhando, inclusive, Theo. A experiência, segundo ela, tem sido enriquecedora para os acadêmicos e pacientes, com momentos de aprendizado mútuos: “Acredito que todos têm a ganhar com o projeto. Nós, graduandos, ganhamos conhecimento; e o hospital e os pacientes ganham qualidade de atendimento”, ressaltou.

A prática desenvolvida pelo projeto tem sido exitosa a ponto de gerar vínculos que ultrapassam as paredes do hospital: “Uma aluna de cinco anos, ao receber alta, perguntou se eu iria junto para casa; outro paciente chorou quando recebeu alta porque não queria ir embora; outro perguntou quando poderia voltar à nossa sala. Ouvir da equipe assistencial e dos pais que nós trouxemos vida para a Pediatria é muito gratificante”, disse Rita.

Segundo a chefe da UCA, Sueine Valadão, é no momento da Classe Hospitalar que a criança consegue se distrair, expressar seus sentimentos e estimular sua criatividade. O Projeto “melhorou muito o processo de acolhimento e humanização”, refletiu. E isso repercute na própria resposta dos pacientes à abordagem terapêutica dos profissionais, porque, conforme Sueine explicou, eles se tornam mais colaborativos e tranquilos diante das intervenções necessárias à saúde.

Mais sobre o projeto
Os estudos sobre a Pedagogia Hospitalar começaram na Faculdade de Educação da UFPel, em 2018, como um projeto de ensino de Nornberg. As discussões acadêmicas amadureceram, estabelecendo teorias e práticas consistentes sobre o desenvolvimento de atividades pedagógicas no ambiente hospitalar, recebendo, em 2021, a nomenclatura “Classes Hospitalares”. Em 2022, além de ensino, tornou-se um Projeto de Extensão, podendo ser vivenciado no HE-UFPel com apoio da UCA e da GEP. “A ideia não é reproduzir a escolarização, porque o papel da escola é fundamental, mas sim trazer o lúdico e promover momentos de aprendizagem próximos das condições que a criança vive naquele momento no hospital”, ressaltou o professor Nornberg.

Serviço
Para mais informações sobre o projeto, é possível entrar em contato pelo e-mail: classehospitalarfaeufpel@gmail.com.

Sobre a Rede Ebserh
O Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) é filiado à Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.

Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.

Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Hospitalar Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.