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Covid – Pesquisa analisa interiorização da doença e estrutura hospitalar do RS

O grupo de pesquisa Covid-19 – Estudos Geográficos/LEUR/UFPel realizou levantamento que busca analisar as concentrações populacionais, o processo de interiorização do Covid-19 e a estrutura hospitalar no Rio Grande do Sul.

Ao analisar a densidade demográfica total, pode-se observar uma concentração populacional na região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e sua espacialização para áreas do norte do estado (seguindo as rodovias BR – 116 e BR – 386) e ao centro do Rio Grande do Sul (através da BR-287 e 290).

Observa-se que os  principais centros urbanos, como por exemplo Porto Alegre, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Bento Gonçalves, Santa Maria, Pelotas, entre outros, apresentam números mais elevados de habitantes por quilômetro quadrado; contudo é possível visualizar uma tendência de concentração populacional em municípios menores que direcionam-se para a porção norte do estado, os quais possuem como caraterística a proximidade entre seus núcleos urbanos e áreas rurais densamente povoadas quando comparados com os municípios da porção sul.

O autor Heidrich (2000) corrobora com esta perspectiva ao demonstrar que o norte  gaúcho, por apresentar municípios menores e com maior proximidade entre seus núcleos urbanos, evidencia significativos movimentos populacionais e fluxos comerciais diários. Retomando uma lógica já exposta em notas anteriores, fica claro que a concentração de casos segue esta linha de tendência que direciona-se para as áreas com maiores índices de população por quilometro quadrado.

Se faz necessário demonstrar que, além das características demográficas, as formações territoriais dos municípios no estado são distintas: Na parte sul e região da campanha os municípios possuem extensões territoriais maiores, com grandes distâncias intermunicipais e áreas rurais menos povoadas; esta característica destoa da porção norte do estado, onde os municípios possuem menor extensão, áreas rurais mais povoadas e proximidades mais significativas entre seus núcleos urbanos, o que facilita a circulação dos fluxos econômicos e populacionais.

Isto evidencia que o processo de interiorização do vírus pode ocorrer de forma diferente entre os municípios fora das áreas com densidades demográficas significativas, ocasionando um movimento de interiorização mais lenta na parte sul e região da campanha e uma aceleração da dispersão do Covid-19 na parte norte do estado.

No que tange à densidade demográfica do grupo de risco (população acima dos 60 anos), aponta-se não somente para a concentração no eixo primário de dispersão do Covid-19 (Correspondente a RMPA e o prosseguimento da BR-116 até a Região Metropolitana da Serra Gaúcha), mas também para áreas com municípios menores da região norte do Rio Grande do Sul, seguindo a mesma tendencia da densidade demográfica total.

Os mapeamentos demonstram que ocorre no cenário atual uma maior centralização dos casos confirmados em regiões que apresentam as maiores concentrações do grupo de risco, o que evidencia uma preocupação latente com este cenário.

A prerrogativa do aumento de casos em determinadas áreas também traz para a discussão o processo de interiorização veloz do coronavírus no estado e, acompanhando esta perspectiva, o relatório produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (2020) demonstra a tendência de expansão do Covid-19 para cidades menores com maior rapidez atualmente no Brasil.

No Rio Grande do Sul, o processo de dispersão do vírus atingiu no primeiro momento áreas com maiores índices populacionais e, na conjuntura atual, visualiza-se  um processo de dispersão de casos da Covid-19 para municípios menores de forma acelerada,  demostrando que o processo de interiorização leva de quatro a seis semanas.

Em áreas interioranas existe uma maior aceleração de casos confirmados pela SES-RS, ultrapassando os números das Regiões Metropolitanas de Porto Alegre e da Serra Gaúcha. Destacamos que a Covid-19 teria se dispersado seguindo as redes urbanas integradas, atingindo primeiramente a metrópole regional Porto Alegre, posteriormente as Capitais Regionais e os Centros Sub-regionais, ou seja: a lógica de disseminação do vírus tente a atingir cada vez mais municípios menores no Rio Grande do Sul.

Também salienta-se que, mesmo com densidades demográficas menores, estes municípios possuem taxas de urbanização significativas, evidenciando a característica atual do estado sulino, no qual cerca de 85% da população reside em áreas urbanas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010).

Acompanhando a tendência de crescimento dos casos confirmados em municípios menores do estado, o grupo de pesquisa realizou uma análise do número de leitos em UTIs Adultos no Rio Grande do Sul , a qual demonstra uma centralização de estruturas médico-hospitalares em áreas que possuem os maiores contigentes populacionais, o que evidencia a dependência dos municípios menores no que tange as estruturas de saúde.

Os dados demonstram que apenas 50 municípios do Rio Grande do Sul possuem estruturas hospitalares com leitos de UTIs (tipo I, II e III), o que levanta a preocupação com o avanço da Covid-19 no interior do estado e a possível saturação destas estruturas.

Ao averiguar-se atentamente o número de leitos, destaca-se que 15 municípios detêm cerca de 77% dos mesmos, os quais concentram-se principalmente em Porto Alegre, Caxias do Sul, Passo Fundo, Pelotas, Canoas e Santa Maria.  Esta análise é acompanhada pelos dados disponibilizados através da pesquisa “Regiões de Influência das Cidades” desenvolvida pelo IBGE (2018), os quais demonstram as ligações entre os municípios na busca por serviços de saúde. Logo, evidencia-se a existência de pólos regionais que possuem poder de concentração dos serviços hospitalares, produzindo movimentos populacionais diários em busca destas estruturas.

Dentro desta perspectiva, a pandemia do Covid-19 traz a tona os históricos problemas relacionados às desigualdades do sistema técnico hospitalar no estado, e demonstra que a concentração das estruturas de saúde desenvolvem uma  distribuição territorial desigual entre os municípios e, caso aumente/evolua os casos da Covid-19 para quadros graves, acarretara uma saturação do sistema no Rio Grande do Sul.

Próximo passo do Grupo de Pesquisa

Como próximos passo, o grupo esta debruçado sobre as Redes Urbanas e o processo de dispersão/interiorização do Covid-19 no Rio Grande do Sul.

Esta e outras análises do Grupo de Estudos COVID-19/Estudos Geográficos/LEUR, inclusive os gráficos e mapas, podem ser acessados na página: https://wp.ufpel.edu.br/cidadeecidadania/ .

Notas metodológicas

Para o levantamento dos dados foram consultados órgãos oficiais, como – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –  selecionados dados referente a população absoluta municipal relativa ao censo de 2010 e sua área em quilômetros quadrados- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Selecionados dados referentes a população acima dos 60 anos (IBGE, 2010) e a área municipal em quilômetros quadrados – Cadastro Nacional de Estabelecimentos Hospitalares (CNES) – Selecionados dados relativos a número de leitos em UTIs (Tipo I, II e III). – Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul  (SES-RS) – Selecionados dados relativos ao numero de casos confirmados e número de leitos em UTIs por município.

Equipe do projeto.  Dr. Tiaraju Salini Duarte,  Dr. Sidney Gonçalves Vieira,  Drª. Erika Collischonn, Dr. Mauricio Meurer, Me. Mateus Marzullo,  Mestrando Adriel Costa da Silva,  Mestrando Antonio Lourence Kila de Queiroz, Graduando Eduardo Schumann.

Publicado em 18/05/2020, na categoria Notícias.
Marcado com as tags Ciências Humanas, coronavirus, Covid-19, Geografia, ICH, Leur, RS, saúde, sistema de saúde.