UFPel forma sua primeira mestre indígena
Kuawá Apurinã, mais conhecida como Pietra Dolamita, é a primeira mestra indígena formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Com a orientação do professor Jorge Eremites de Oliveira, Pietra defendeu sua dissertação de mestrado no último dia 31 de outubro. “Terra, Vida, Justiça e Demarcação: Mulheres Kaiowá e a luta pela Terra Indígena Taquara, município de Juti, Mato Grosso do Sul, Brasil” foi o tema do trabalho.
Também mestre em Educação pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul), Pietra explica seu incomodo pelo fato de que as pesquisas antropológicas sobre índios não serem feitas por indígenas. Kuawá nasceu na aldeia Camicuã, que fica em Boca do Acre, no Amazonas, e decidiu relacionar a antropologia com os povos indígenas em sua tese de mestrado. Para isso, escolheu a tribo Kaiowá, situada no Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Pietra foi a campo e participou dos movimentos de retomada junto ao grupo. Ela conta a história da colonização e como isso afetou o povo indígena. Em sua tese fala também sobre a antropologia colonial, o que ela chama de antropologia da violência, e traz o que considera a realidade dura e visceral do dia a dia do povo indígena. A maior referência em sua tese são as indígenas que vivem esse quadro. Ela explica que não se foca em autores conhecidos para a composição do trabalho, mas sim nas mulheres reais que passam por todas as situações.
Kuawá cita como uma coautora da dissertação Valdelice Veron, indígena Kaiowá. Ela também agradece seu tio, Cacique Umanary.
Kuawá acredita que a UFPel está avançando e constantemente inovando em relação às mudanças sociais: “Percebo uma disponibilidade da Universidade hoje, a gente consegue ter um diálogo mais rápido com a Reitoria”.
Sobre as cotas, Pietra lembra da grande luta pelo direito das vagas para negros, indígenas e quilombolas. Ela aponta a reivindicação de espaço como uma das importâncias do uso da reserva. “A gente estuda por conta da necessidade de proteção e de luta pelos nossos direitos. Nós, indígenas, nos fazemos necessários em todos os espaços, uma vez que temos essa garantia constitucional. E não só uma garantia constitucional, mas uma garantia ancestral. Não existe privilégio, existe reparação histórica”, pontua Kuawá Apurinã.
Pietra diz que a ideia é dobrar as vagas de cotas na Universidade, porque, de acordo com ela, desse modo há acesso ao conhecimento e, quando isso ocorre, a população deixa de ser enganada e de sofrer com a violência epistemológica. Sobre ser a primeira mestra indígena pela Universidade e ter participado da luta pelas reservas de vagas, ela diz: “É sempre muito gratificante pra mim, porque eu sei que faço parte da história dessa Universidade”.