36ª Encontro de Debates sobre o Ensino de Química ocorre na sexta (14) e no sábado
Pelotas recebe, sexta (14) e sábado, a 36ª edição do Encontro de Debates sobre o Ensino de Química (EDEQ), que é um dos eventos tradicionais do campo da Educação em Ciências no Brasil. Presente desde 1980 e realizado anualmente, ele foi um dos pioneiros na disponibilização de um espaço e tempo para o compartilhamento de experiências, ações e pesquisas desse campo. O Encontro será realizado no IFSul.
Sediado no Rio Grande do Sul e itinerante entre instituições de ensino dessa região, em suas 35 edições o evento contou com a mobilização da comunidade da Educação Química em sua organização, participação e avaliação. Mais do que local, o EDEQ caracteriza-se como um evento com participantes de diferentes regiões, incluindo sujeitos para além da fronteira sul do Brasil, contemplando outros estados e países (principalmente Uruguai e Argentina).
Retornando depois de 16 anos à cidade de Pelotas, o 36º EDEQ é organizado pela parceria estabelecida entre a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSUL, campus Pelotas e campus Pelotas Visconde da Graça – CaVG), tendo a sede das atividades no campus Pelotas do IFSUL.
Como temática, o 36º EDEQ traz as “novas e antigas práticas encontrando-se com a comunidade e sua criatividade”. Eleger esse tema para o evento implica em valorizar três aspectos fundamentais da Educação Química, a valorização da prática e dos saberes docentes; a ênfase na dinâmica da comunidade que cria modos de ação originais; e o reconhecimento da potencialidade do aspecto de encontro do evento.
Acerca do primeiro, colocar em destaque a prática e os saberes da atividade docente em química significa compreender a presença de um revezamento complexo que exige ações para além da simples execução de tarefas, encaminhando movimentos de planejamento, teorização, avaliação, adaptação, etc. É nesse processo que surgem intrínsecas relações entre aquelas práticas já consolidadas e outras mais recentes. Reconhecer a presença dessa articulação não recai numa ode à inovação e deslegitimação de questões tradicionais.
No sentido oposto ao da crítica vazia e improdutiva, evidenciar essa relação conduz a um pensamento de maturidade do campo, o qual apresenta condições de avaliar as experiências já vivenciadas e reconhecer suas potencialidades, suas limitações, a necessidade de manutenção ou de produção de novas experiências. Essa maturidade e relação entre diferentes práticas são evidenciadas na Educação Química quando, por exemplo, se analisam projetos como o PIBID, em que é inegável o contato entre diferentes sistemáticas de ensino, propostas epistemológicas, metodologias e concepções didáticas coexistindo num mesmo espaço. Igualmente, modificações nas bases legais da formação de professores (BRASIL, 2015), em especial de professores de química (BRASIL, 2001), têm trazido distintas formas de compreender a prática docente. Nesse sentido, a temática do evento propõe o destaque à imbricação de novas e antigas práticas que são ressignificadas ao nível de experiência (LARROSA, 2011) de um campo, de modo que pensar sobre elas, conversar a seu respeito e problematizá-las implica em uma qualificação de uma comunidade que as desenvolve, assume e legitima.
O segundo aspecto do campo da Educação Química que a temática traz está em admitir que conhecer, problematizar e propor o desenvolvimento de experiências no campo docente em química (nível da prática) visibiliza a emergência da questão da criatividade de uma comunidade preocupada com a qualificação de suas ações. Se, desde 1981, no segundo EDEQ, já emergia a questão da criatividade (cuja temática centrava-se na questão: “como tornar o ensino de química mais criativo?”), em 2016 essa proposta é reatualizada num conjunto de uma comunidade aprendente mais bem desenvolvida, ampliada e problematizadora de suas ações.
Conforme aponta Pastoriza (2015), o campo da Educação Química se modificou intensamente desde o momento de sua constituição em nível de Brasil, o que assinala a capacidade dessa comunidade produzir diferentes abordagens de trabalho, idealizar novas metodologias, assumir distintos referenciais teóricos para a elaboração de pesquisas e ações, etc. Desse modo, mais do que a busca por um ensino de química mais criativo, faz-se presente a compreensão da potencialidade que essa comunidade vem desenvolvendo em analisar suas produções já realizadas, seus impactos e, assim, buscar novos meios de propor e, efetivamente, criar as transformações objetivadas.
Por último, o terceiro aspecto trazido pela temática refere-se à própria característica de encontro inerente ao evento.
Mais do que uma simples alusão ao espaço de reunião, associar a questão do encontro tanto à valorização da prática quanto ao destaque à criatividade implica em reconhecer o espaço e tempo positivos de produção de saberes e conhecimentos que são os EDEQs. A comunidade, entendida como aprendente e em constante formação, encontra-se em cada uma de suas edições; faz parcerias; cria relações de amizade; conhece novos trabalhos; divulga suas pesquisas; compartilha seus problemas; comunga das necessidades; elabora ações conjuntas; enfim, compreender o EDEQ enquanto um encontro é tomá-lo como espaço de constituição da comunidade. Esta reúne-se nele e, desse modo, novas e antigas práticas também encontram-se com essa comunidade e sua criatividade.
Tendo em vista esses elementos, a temática do 36º Encontro de Debates sobre o Ensino de Química busca possibilitar à comunidade um espaço de reencontro, de conversa, de fruição e de estabelecimento de parcerias ao mesmo tempo em que objetiva e valoriza a problematização das ações que já foram realizadas e aquelas que a cada momento são criadas, buscando que a comunidade possa sobre elas produzir e qualificar cada vez mais as suas ações.
Aliado à temática geral, as linhas temáticas do evento possibilitam que as diferentes investigações dialoguem entre si e com o plano geral das atividades propostas. Nesse sentido, as linhas temáticas são: Currículo; Criação, criatividade e propostas didáticas; Avaliação; Educação Ambiental; Ensino; Aprendizagem; Saberes e Cultura; Inclusão; Espaços Não-Formais; Experimentação; Formação de Professores; História e Filosofia da Ciência; Linguagem e Cognição; Materiais Didáticos; Programas de Início à Docência e Relatos de Sala de Aula; e Tecnologia da Informação e Comunicação.
Ao enfatizar esses três elementos da Educação Química, compreendidos nas linhas temáticas, o 36º EDEQ propõe o desenvolvimento dessa comunidade, dos debates, das estratégias para a melhoria de uma Educação por meio da Química (CHASSOT et. al., 1993). Isso se dará pelo contato entre professores-pesquisadores já experientes, professores atuantes no ensino básico, professores formados recentemente, alunos de graduação, alunos de Ensino Médio, corpo diretivo de escolas, membros de sociedades científicas, autores e editores de livros, dentre tantos outros sujeitos que dos EDEQs participam.
Dessa interação, a comunidade se articula, cria-se, reforça-se, enfim, desenvolve-se sobremaneira, tanto socializando suas produções quanto encontrando, a partir desse contato com outras experiências, novos caminhos investigativos ou antigas propostas que podem auxiliar na melhor apropriação de cenários particulares da prática de cada um.
Confira a programação do evento em http://36edeq.edeq.com.br/index.html .