Comissão estuda seleção especial para surdos
Como parte do caminho de tornar-se mais acessível e inclusiva, a UFPel trouxe outra temática importante nesse sentido para debate e deliberação: foi instituída pelo reitor, no fim do mês de julho, comissão especial para elaboração de proposta de processo seletivo específico para estudantes surdos em vagas específicas de determinados cursos. A sistemática terá inspiração na sistemática já adotada para membros de comunidades quilombolas e indígenas, que selecionou seus primeiros estudantes para a Universidade, reafirmando o compromisso em proporcionar o acesso à formação a grupos que anteriormente tinham dificuldade em entrar e permanecer no ensino superior público.
O grupo foi composto por membros da Administração Central da UFPel ligados ao trabalho de acessibilidade, inclusão e políticas afirmativas, à Pró-Reitoria de Graduação e também pelas docentes surdas que fazem parte do quadro da Universidade, entre elas a presidente da comissão, professora Ivana Gomes da Silva. O objetivo é dar prosseguimento no processo de elaboração, visto que as discussões em torno dessa demanda já vêm sendo realizado no âmbito da Universidade, bem como na comunidade que a circunda, especialmente dentro dos grupos que atendem aos surdos. Todas as reuniões, segundo as representantes, foram realizadas sob chamadas gerais, onde houve ampla convocação. “A comunidade envolvida deve ser protagonista”, explica Miriam Bohrer, chefe do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da UFPel.
Dentre as deliberações realizadas junto às comunidades consultadas, estiveram os cursos nos quais seria solicitada a abertura de vagas especiais para os deficientes auditivos. Foram escolhidas graduações como Educação Física e Artes Visuais.
Devido à especificidade do processo de ensino-aprendizagem dos surdos, o reitor Mauro Del Pino pontuou a importância em buscar a estrutura necessária para que seja feita a acolhida a esse público, motivando as comunidades dos cursos a encararem o desafio de recebê-los e ajudá-los em sua formação. Outra limitação é a necessidade de intérpretes, ainda em número pequeno na UFPel. De acordo com o reitor, como não há previsão de novas vagas, é necessário aguardar espaços gerados por aposentadorias para que seja realizado novo concurso.
Assim como as vagas especiais para quilombolas e indígenas, o desejo é que também seja pensado um mecanismo de acompanhamento desses novos estudantes. Além disso, é preocupação a permanência dos ingressantes. Dessa forma, devem ser elaboradas, segundo Del Pino, estratégias, como a oferta de Libras como disciplina optativa nos cursos que abrirão vagas, de forma que os colegas sejam protagonistas na acolhida dos surdos.
Apesar de considerar essa ação difícil e complexa, o processo é de conquista coletiva, segundo o reitor. Já a professora Ivana considera isso um avanço no que tange ao acesso da comunidade surda à Universidade. Ela considera esse um primeiro passo em um caminho que poderá incluir seleções para mestrados e doutorados no futuro.
O grupo tem dois meses para a conclusão dos trabalhos a partir da data de instituição da comissão, no dia 26 de julho. Após a elaboração do projeto, a proposta seguirá para o Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão (Cocepe), órgão que poderá institucionalizar o projeto, tornando-o permanente na Universidade.