Diabetes gestacional mais do que dobra em Pelotas em onze anos
A proporção de mulheres diagnosticadas com diabetes gestacional em Pelotas aumentou de 3%, em 2004, para 7,5%, em 2015, de acordo com dados dos estudos de Coortes de Nascimentos de Pelotas, realizados pela Universidade Federal de Pelotas.
“Esse crescimento está associado ao aumento de sobrepeso e obesidade entre as gestantes”, afirma um dos coordenadores da pesquisa em 2015, Marlos Domingues, da Escola de Educação Superior em Educação Física da Universidade Federal de Pelotas.
Os estudos acompanharam mais de 19 mil nascimentos ocorridos em Pelotas nos anos de 1982, 1993, 2004 e 2015, coletando dados sobre a saúde e as condições socioeconômicas de mães e recém-nascidos.
De modo semelhante aos demais tipos de diabetes, o diabetes gestacional se caracteriza pelo excesso dos níveis de açúcar no sangue – com a diferença de que a condição se instala durante a gravidez e normalmente desaparece em até seis semanas após o parto.
Entretanto, mulheres que desenvolvem diabetes gestacional estão mais propensas a apresentar diabetes tipo 2 no futuro.
Se não tratado, pode levar à morte fetal
Se o diabetes gestacional não for tratado, o açúcar em demasia pode fazer mal para a saúde da mãe e do bebê.
O quadro aumenta os riscos de aborto, parto de feto morto e complicações para a vida do recém-nascido. O excedente de açúcar atravessa a placenta e pode levar à formação de um bebê com excesso de peso (acima de 4kg) e grande demais para a idade gestacional. O tamanho exagerado pode também dificultar o parto normal. Aumentam as chances de cesarianas e de parto prematuro, por causas naturais ou por recomendação médica. A criança também fica mais propensa à obesidade e ao diabetes no futuro.
Logo após o parto, é comum o bebê ter hipoglicemia (queda abrupta nos níveis de açúcar) e crises respiratórias. “Isso porque a quantidade de insulina que o corpo do bebê está produzindo é excessiva para lidar com a quantidade de açúcar disponível fora do útero”, comenta o pesquisador.
Além disso, o diabetes gestacional está associado à hipertensão e à chance de pré-eclâmpsia, aumentando os riscos para mãe e bebê.
O diagnóstico é feito por meio de exames de rotina durante a gravidez, como glicemia de jejum, curva glicêmica e hemoglobina glicada. São testes que medem as taxas de açúcar no sangue e identificam a ocorrência de níveis elevados de glicemia durante períodos prolongados.
Prática de atividade física estimula hormônio que imita a insulina
Entre os fatores de risco para o diabetes gestacional, estão idade materna, excesso de peso, herança genética e história pessoal, como diabetes gestacional em gravidez prévia.
Quanto maior a idade, maior a chance, além disso, correm mais risco aquelas que já engravidam acima do peso ou engordam muito na gestação, que já tiveram diabetes gestacional ou parto anterior de bebê com mais de 4 kg, irmãs e filhas de pessoas com diabetes tipo 2, ou mulheres com histórico prévio de hiperglicemia ou resistência à insulina.
O tratamento inclui monitoramento dos níveis de glicemia, adoção de dieta saudável e prática regular de atividade física na gestação. Se a dieta e o exercício não forem suficientes, o médico irá prescrever injeções de insulina para manter o açúcar no sangue em níveis adequados.
“A prática regular de atividades físicas contribui duplamente para baixar o açúcar no sangue. Ao mesmo tempo em que aumenta o gasto energético, estimulando a quebra de açúcar pelo organismo, a contração muscular facilita a absorção de glicose pelas células musculares e, durante a atividade, são liberados hormônios que imitam a ação da insulina [IGF’s – Insuline-like Growth Factors], favorecendo ainda mais o transporte da glicose para dentro da célula”, explica Domingues.