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Começa o segundo processo seletivo de quilombolas e indígenas

2As ações afirmativas vêm se consolidando na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Nesta segunda-feira (15), teve início o segundo processo seletivo específico para candidatos quilombolas e indígenas. A seleção começou com uma prova de redação e prossegue terça e quarta-feira com a apresentação dos memoriais descritivos. São 26 candidatos inscritos – nove quilombolas e 17 indígenas.

1Uma das novidades deste segundo processo seletivo foi a divisão de vagas entre os grupos. Na seleção anterior, quilombolas e indígenas disputavam as mesmas vagas. Nesta edição, são cinco lugares destinados a cada grupo, uma adequação solicitada pelos próprios participantes.

3Candidatos quilombolas estão pleiteando vagas nos cursos de Medicina, Enfermagem, Direito, Pedagogia e Agronomia – sendo Pedagogia o mais concorrido, com três por vaga. Representantes dos povos indígenas disputam cadeiras nos cursos de Medicina – o mais concorrido, com 11 por vaga -, Enfermagem, Antropologia e Gestão Ambiental – o curso de Direito foi oferecido, mas não teve candidatos inscritos.

Antes do início do processo, os participantes foram acolhidos e receberam orientações sobre o processo seletivo, a cidade e os avanços na área de ações afirmativas.

Presente nas boas-vindas, o reitor Mauro Del Pino destacou que o processo específico para quilombolas e indígenas é uma conquista, trabalhada pela Universidade com grande carinho. Essa importância, salientou, vem do entendimento a respeito do papel que uma universidade pública tem para o país, não só na formação de profissionais, mas de pessoas que contribuam para relações sociais que tratem dos direitos dos cidadãos. A inversão da lógica de chegada ao ensino superior, que oportunize a todas as pessoas o ingresso na universidade, também foi destaque na fala do dirigente. E, para além disso, não apenas ingressar, mas concluir o curso – tarefa para a qual, adiantou, a UFPel está bastante empenhada. “Queremos que vocês sejam um grupo que abra espaço para outros, nos ajudem a mudar as relações de poder na sociedade brasileira e mostrar que esse tipo de política dá certo e precisa ser implantado em outras universidades”, disse.

Conforme o coordenador de Ações Afirmativas e Políticas Estudantis da UFPel, professor Rogério Rosa, os docentes dos cursos que receberam quilombolas e indígenas têm elogiado o desempenho desses estudantes. “Nossa expectativa em relação a vocês é, para além de um crescimento profissional, um profundo retorno social às suas comunidades ou outras aonde vocês venham a trabalhar”, pontuou.

Presença
Os participantes vieram de diferentes partes do país. Welma Daianny Limeira Diniz, 20 anos, veio de Curaçá, na Bahia, para tentar uma vaga no curso de Medicina. Pertencente à etnia atikum e moradora da Aldeia Fazenda Altamira, ela espera, com uma formação superior, contribuir para a área de saúde da população local, que, contou, é “precária”. Se for aprovada, será a primeira de sua aldeia a cursar Medicina.

Da etnia kaingang, Débora Ribeiro, 19, estava confiante. Sua irmã é estudante de Odontologia na UFPel e ingressou no primeiro processo específico para quilombolas e indígenas, realizado em agosto do ano passado. Débora, que veio da Aldeia Campo do Meio, no município de Gentil, chegou a ser chamada para o curso de Nutrição, mas preferiu tentar mais uma vez o sonhado curso de Medicina. A mãe, a enfermeira Carmelinda Ribeiro, 41, aprovou o processo seletivo específico da UFPel, que, segundo ela, promove maior chance a todos. “É importante a forma como estão fazendo”, avaliou.

Os candidatos passarão, ainda, por defesa do Memorial Descritivo – um relato acerca da história de vida do candidato que contenha elementos como a trajetória escolar, a vivência em comunidade, as expectativas de ingresso na Universidade e, ainda, sobre o curso escolhido e a importância dessa formação para a realidade da sua comunidade. Os resultados devem ser divulgados em breve.

 

Publicado em 16/02/2016, nas categorias Destaque, Notícias.