Multimorbidade em idosos é tema de tese do PPGE
O Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia promove na próxima terça-feira (7) a defesa da Tese de Doutoramento do aluno Bruno Pereira Nunes, orientando dos professores Luiz Augusto Facchini e Elaine Thumé. O trabalho, intitulado “Multimorbidade em Idosos: ocorrência, consequências e relação com a Estratégia Saúde da Família” terá como banca os professores Alicia Matijasevich, Juvenal Dias da Costa e Juraci Almeida Cesar e será apresentado a partir das 8h no Auditório do Prédio B do Centro de Pesquisas em Saúde Dr. Amílcar Gigante.
Temática
A multimorbidade acontece quando um indivíduo apresenta diferentes problemas de saúde ao mesmo tempo. Apesar de ainda pouco estudado, este problema é bastante comum, atingindo, no mínimo, dois de cada três idosos. Devido ao aumento da expectativa de vida e das doenças crônicas, como pressão alta, diabetes, reumatismo etc., a multimorbidade traz consequências negativas para a saúde dos indivíduos. Infelizmente, não apenas no Brasil, mas mundialmente, os sistemas de saúde não estão preparados para lidar com a multimorbidade. Em nosso país, a Estratégia Saúde da Família, que busca coordenar a atenção à saúde da comunidade, poderá contribuir para a melhoria do atendimento a pessoas com multimorbidade.
Preocupado com a escassez de estudos, o aluno investigou a multimorbidade em idosos da cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul. O estudo entrevistou quase 1,6 mil idosos, que responderam, em seus domicílios, a um questionário sobre condições de vida e saúde. Destes, apenas 6% não apresentavam doenças e 81% tinham multimorbidade (duas ou mais doenças). As doenças mais frequentes foram pressão alta e problema na coluna.
Os idosos do sexo feminino, mais pobres, com menos anos de estudo, morando na periferia da cidade e que usaram serviços de saúde tiveram mais multimorbidade. Além disso, as principais combinações de doenças foram avaliadas sendo que um a cada cinco idosos tinha pressão alta e problema na coluna, e um a cada dez tinha pressão alta, problema na coluna e reumatismo.
Os resultados do estudo poderão ser utilizados para melhorar o cuidado a diferentes doenças em um mesmo idoso, modificando o foco do sistema e dos serviços de saúde em doenças isoladas para o cuidado que leve em conta a ocorrência de múltiplos problemas de saúde em um mesmo indivíduo.
O estudo também mostrou que a multimorbidade aumenta o risco de hospitalização. Entre os mais pobres, o plano de saúde facilitou o acesso a internação. Esse resultado traz implicações importantes para a conduta dos serviços de saúde no cuidado ao idoso. A hospitalização, apesar de importante, não deve ser considerada a primeira opção para os idosos, pois traz complicações desnecessárias que poderiam ser controladas nos serviços de atenção básica e, até mesmo, no próprio domicilio do idoso. Assim, a atenção ao idoso no Brasil precisará passar por melhorias para enfrentar o desafio da multimorbidade.
Além disso, através de revisão da literatura, o estudo encontrou um maior risco de morte entre idosos com multimorbidade comparados àqueles sem esse problema. Portanto, o estudo sinaliza que a mortalidade pode ser utilizada para avaliação de programas e serviços direcionados ao tratamento da multimorbidade.
“A multimorbidade é uma regra na população idosa. Dificilmente, idosos não terão problemas crônicos de saúde. Além de tentarmos evitar o surgimento das múltiplas doenças desde o início da vida, será necessário melhorar a atenção à saúde dos idosos para evitar as complicações da multimorbidade que incluem mais internações hospitalares, dificuldades de realização de tarefas diárias, pior qualidade de vida e maior risco de morte. Esforços para melhorar a qualidade do tratamento das doenças são urgentes”, destaca Bruno Nunes.