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Primeiro INCT da UFPel trará R$ 15 milhões para pesquisa de vacinas veterinárias 

Pela primeira vez, a Universidade Federal de Pelotas será a instituição sede de um projeto financiado pelo programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). Intitulado INCT de Vacinas Veterinárias, a iniciativa reunirá pesquisadores da própria UFPel e de uma série de outras organizações do Brasil e do exterior, liderados pelo professor Odir Dellagostin. O objetivo é desenvolver soluções inovadoras para prevenção de doenças em animais de produção. Para tanto, o projeto receberá um apoio financeiro na casa de quase R$ 15 milhões. 

A proposta enviada pela UFPel obteve a nota máxima – 10 – no contexto da chamada pública destinada à seleção de novos projetos para o programa, realizada durante o ano de 2024. Os resultados foram divulgados no final de março. 

Para esta edição, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e seus parceiros destinaram um montante de R$ 1,5 bilhão para o financiamento de pesquisas, cujo maior aporte de recursos vem do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). O projeto conduzido por Dellagostin garantiu um valor exato de R$ 14.997.920,00, que financiará a pesquisa por cinco anos. 

Como diz o nome escolhido, o INCT de Vacinas Veterinárias buscará o desenvolvimento de imunizantes voltados para animais de produção, mas não apenas estes: prevê-se também a criação de kits diagnósticos e outros tipos de bioinsumos veterinários. Tais tecnologias serão voltadas para doenças de grande impacto no contexto da pecuária e na saúde pública. Algumas delas ainda serão inéditas, como para a enterite necrótica aviária, a rodococose equina, a enteropatia proliferativa suína e a esporotricose felina; entretanto, serão buscadas otimização de vacinas para doenças para as quais estas já existem, como a leptospirose, a raiva silvestre e outras. 

Para chegar a esse resultado, será utilizada a tecnologia conhecida como vacina recombinante. Ela é desenvolvida a partir do uso de técnicas de engenharia genética, ou seja, de manipulação do DNA do agente causador. Os genes são manipulados para que produzam uma molécula que estimule a resposta imune do animal. 

A potência de uma trajetória conjunta 

Uma das grandes forças do projeto, segundo Dellagostin, é a trajetória já construída por grande parte do grupo de trabalho, que já vem desenvolvendo pesquisas sobre o tema há mais de 30 anos. “Já somos referência internacional no campo de vacinas veterinárias”, comenta o líder. 

Foi também a grande rede de colaboração construída ao longo desses anos que permitiu a estruturação do INCT para além dos critérios colocados pelo programa: constituído para financiar esse tipo de pesquisa em rede, o atual edital pedia a participação de pesquisadores de pelo menos três regiões brasileiras; o INCT de Vacinas Veterinárias conseguiu reunir investigadores de todas as cinco, trazendo instituições da Bahia, de Goiás, Minas Gerais, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Norte, além do país vizinho Uruguai. Também há outras entidades que serão envolvidas, mas que não foram elencadas na proposta inicial.  

No total, trabalharão no projeto 39 pesquisadores doutores, sendo 21 da UFPel; os demais fazem parte de 14 outras instituições, dos países já citados e também da Alemanha, da Inglaterra e dos Estados Unidos. 

Com essa bagagem consistente, agora a jornada é de buscar avanços consistentes para que o que é discutido e criado em laboratório possa, em algum momento, chegar à produção pecuária. É justamente esse o objetivo principal do INCT: fazer com que esses imunizantes possam chegar ao estágio de protótipos. 

“Poderemos sair da escala laboratorial para chegarmos a uma escala piloto”, explica Dellagostin. Esse é o estágio preliminar que permite que, após finalizado, credencie a chegada dos protótipos à indústria, especialmente por meio de parcerias com empresas. 

Para atingir esse fim, parte do valor trazido pelo INCT será destinado à infraestrutura. Em espaço ainda a ser definido, serão instalados equipamentos de médio e grande porte que tenham essa finalidade. Entretanto, também haverá investimento em formação de recursos humanos, por meio de bolsas de pós-graduação, intercâmbios e capacitações específicas em biotecnologia e imunologia. 

Foco em soluções 

O programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia foi criado com a intenção de trazer soluções desenvolvidas com recursos nacionais para problemas também do Brasil, reduzindo a dependência do país em tecnologias importadas. No caso da iniciativa liderada pela UFPel, o foco é a saúde animal. 

“Esse tema é relevante visto que somos um país que tem entre os pilares da economia a agropecuária”, pontua o pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico. Com um trabalho voltado para a prevenção de doenças, será possível pensar em uma redução no uso de antibióticos durante o processo de produção de proteína animal, algo que é comum e necessário atualmente. 

Isso terá grande impacto na produção animal, conforme destaca a estagiária de pós-doutorado do Laboratório de Vacinologia da UFPel Natasha Oliveira, que também estará envolvida no INCT. “As vacinas impactam diretamente na qualidade dos produtos que chegam à mesa dos consumidores”, comenta. 

Um novo momento na pesquisa da UFPel 

“Este INCT é um marco na história da pesquisa na UFPel”, comemora o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Marcos Britto Corrêa. Na sua visão, a sua obtenção mostra que a Universidade está consolidada em termos de pesquisa e pronta para liderar grandes projetos capazes de resolver problemas da sociedade brasileira. 

Essa visão é compartilhada por Dellagostin, que além de pesquisador da UFPel, também ocupa atualmente a presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs): “A UFPel vem em um crescimento contínuo na pesquisa, em um ritmo muito bom”. 

Como amostra disso, ele lembra que a instituição partiu de uma realidade de poucos programas de pós-graduação na década de 1990 para um número que atualmente quase chega a 50. “Quando entrei na UFPel como docente, éramos apenas 70 professores doutores; hoje em dia, somos mais de 1,2 mil”, exemplifica. 

Isso permite que a Universidade desponte como instituição líder em áreas como a Epidemiologia, que historicamente é celebrada por sua produção em ciência, e a própria Biotecnologia, como comenta Dellagostin: “Acredito que tenhamos atingido uma maturidade. Hoje, quando se falar sobre vacinas veterinárias no Brasil, com certeza vai se falar em UFPel”. 

Publicado em 04/04/2025, nas categorias Destaque, Notícias.
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