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Palestra da 9ª Siiepe aborda internacionalização e inclusão no meio acadêmico

Em conclusão ao ciclo de palestras da 9ª Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (Siiepe), maior evento acadêmico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a comunidade acadêmica pôde identificar as oportunidades públicas, gratuitas e de qualidade na aprendizagem de línguas pelo Programa Idioma Sem Fronteiras (ISF) e refletir sobre a importância, os desafios e a urgência da internacionalização universitária. A palestra “Internacionalização e línguas estrangeiras para todos: por que essa é uma pauta urgente nas universidades?”, disponível no canal da UFPel no Youtube, foi ministrada na noite de quinta-feira (23) pela professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Denise Abreu e Lima, no auditório da Sicredi Interestados.

A palestrante, que é coordenadora da Rede ISF na Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), buscou responder a diversas questões relacionadas à aprendizagem de idiomas estrangeiros: “O que é internacionalização?”, “Qual a importância de se aprender um idioma?”, “Qual o papel da Universidade nesse processo?”, “Para onde eu vou?”, ”Por que falar é tão difícil?”. A atividade contou com a mediação do coordenador de pós-graduação da UFPel, Rafael Vetromille.

Para iniciar a sua exposição, Denise Abreu e Lima realizou levantamento em tempo real, por meio de formulários disponíveis on-line, com o objetivo de identificar as maiores dificuldades do público (presencial e on-line) para não estudar idioma estrangeiro (dinheiro, tempo, vontade, trauma) e os principais desafios de aprendizagem (falar, escrever, ler, ouvir). Com base na sua própria experiência em internacionalização e no estudo e ensino de língua, a docente buscou desmistificar cada uma das causas e apresentar os caminhos para a sua superação.

“A casa precisa de alicerce”

Sobre a importância do domínio de línguas, a palestrante exibiu dados sobre os idiomas mais falados no mundo como primeira e segunda língua. A língua portuguesa ocupa a 9ª posição. Na primeira, está o inglês, com 1,452 bilhões de pessoas. “Se você tem outro idioma, você abre portas. Tem acesso a conhecimento e consegue se comunicar com as pessoas”, argumentou. Ela também apresentou relatório que demonstra a disparidade de renda com quem domina outro idioma.

A internacionalização, assim como a pesquisa acadêmica, explicou, tem como base, a língua. “A pesquisa é a casa, mas a proficiência é o alicerce. A gente não consegue divulgar a pesquisa sem língua, sem comunicação”, comparou.

Internacionalização: Inclusão e responsabilidade social 

A palestrante defendeu que a internacionalização precisa ser um política de Estado, para que não se torne novamente prática exclusivamente elitista: “A internacionalização é um processo para todos”, sintetizou, ao elogiar o Ciências Sem Fronteiras, programa, voltado à mobilidade acadêmica, implementado pelo Governo Federal de 2011 a 2016.

Entre os desafios para o avanço da internacionalização, foram citadas dimensões contextuais, ideológicas, administrativas, políticas e pessoais. O entendimento que defende, em relação à abordagem comum na crítica acadêmica, é de que a internacionalização precisa ser  pensada com responsabilidade social e buscar uma “consciência local com participação global”. “Se quiser modificar a realidade, a gente tem que participar da realidade”, resumiu.

O que fazer para superar as dificuldades? 

As barreiras financeiras para o estudo de línguas, indicou, podem ser  contornadas pelo acesso aos cursos do Idiomas Sem Fronteiras, que oferece gratuitamente formação em sete línguas. Já a falta de tempo para o estudo resolve-se quando o aprendizado de outro idioma é definido como prioridade: “A gente sempre vai atender às urgências primeiro, até que a urgência da língua bate à nossa porta. E quando ela bate, quase não dá tempo de a gente se preparar”, alertou.

A habilidade da fala é uma das mais difíceis de superar, pois exige exposição e provoca medo de rejeição e julgamento. Quem tenta se comunicar em outro idioma, ponderou a palestrante, está muito além de qualquer falante exclusivo (“monolíngue”) que tenha o inglês, por exemplo, como língua materna. A preocupação deve ser com o conteúdo da mensagem, não com imprecisões gramaticais ou com o sotaque, que deve ser assumido como natural e cultural. Além disso, a professora recomenda que a motivação para aprender o idioma seja a curiosidade, não a pressão.

Para mais além das preocupações com pronúncia e gramática, o maior desafio para o domínio do idioma, conforme explicou, está nas questões culturais. São tradições, etnias, valores e hábitos distintos sendo comunicados por um código externo.

Inteligência Artificial e Conhecimento de Idioma

Denise Abreu e Lima também avaliou a relação entre a inteligência artificial, os recursos hoje disponíveis para a tradução, com a necessidade de se dedicar ao estudo de outro idioma: “Em épocas de ChatGPT [aplicativo] faz sentido estudar línguas estrangeiras?”, questionou.

A inteligência artificial, considerou, não identifica que cada língua demanda uma forma diferente de processamento da informação. Conceitos de uma língua não necessariamente existem em outra. “Uma palavra que determina uma emoção num idioma, no outro tem de fazer uma frase inteira pra explicar”, sintetizou. Nesse cenário, a tecnologia não resolveria as limitações da comunicação, pois meio acadêmico exige exatidão: “a comunicação na academia precisa ser inequívoca, e para ser inequívoca a gente precisa ter conhecimento de idioma”.

Os “violões da UFPel”

A programação da noite contou com a apresentação artística do projeto de ensino Camerata Cordata. O nome “Camerata” remete à versatilidade de formações (como duos, trios, quartetos), já “Cordata” diz respeito ao instrumento musical: o violão. Nessa proposta, estudantes e egressos do curso do bacharelado em Música  propagam a música instrumental Pelotas e região