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Autoridades uruguaias visitam Barragem Eclusa

Uma comitiva de representantes do governo uruguaio esteve nesta quarta-feira (10) visitando a Barragem Eclusa, gerida pela Agência de Desenvolvimento da Lagoa Mirim da Universidade Federal de Pelotas (ALM/UFPel). O grupo cumpriu agenda em Pelotas e em Rio Grande, com a missão de reconhecer a infraestrutura presente na Bacia Hidrográfica que aponte para o desenvolvimento binacional, em especial para a instalação da Hidrovia Uruguai-Brasil.

A UFPel recebeu o vice-ministro de Transporte e Obras Públicas, Juan José Olaizola; o presidente da Administração Nacional dos Portos (ANP), Juan Curbelo; o diretor geral para Assuntos de Fronteira, Limítrofes e Marítimos, embaixador Federico Perazza; o presidente da Comissão Uruguaia da Lagoa Mirim, Juan Acosta; o embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles e a cônsul geral do Uruguai, Liliana Buonomo. Eles foram recepcionados pelo coordenador da ALM e secretário executivo da Comissão Mista Brasileiro-Uruguaia para o Desenvolvimento da Lagoa Mirim, professor Gilberto Loguercio Collares.

Concluída em 1977, a Barragem Eclusa é composta de estruturas hidráulicas dispostas no Canal São Gonçalo. A barragem tem o papel de impedir a entrada de água salgada, oriunda do mar, através da Lagoa dos Patos e conduzidas pelo Canal São Gonçalo para a Lagoa Mirim. A inibição do movimento das águas salinizadas, nessa direção e sentido, garante a qualidade da água na condição de montante de barramento para múltiplos usos, os quais requerem água doce, quer seja para consumo humano, animal ou outros fins agrícolas, como a irrigação.

O espaço foi a primeira grande realização do Plano de Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim, resultante do trabalho em conjunto no âmbito da Comissão Mista Brasileiro-Uruguaia, criada em 1963, liderada pelos dois governos com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da Food and Agriculture Organization (FAO).

A visita dos representantes uruguaios teve o propósito de, além de conhecer de perto as estruturas, fortalecer conexões que possam possibilitar a retomada do transporte lacustre na região. “O transporte entre a Lagoa Mirim e a dos Patos tem uma longa história, posterior à industrialização, que começou no século 19”, destaca o embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles. Segundo ele, nos anos 1960 já se falava em relançar a utilização da hidrovia, porém, naquele momento político e social a atenção do segmento de transportes estava nas rodovias. Assim, na época de surgimento da Comissão Mista, o foco dos trabalhos na região do São Gonçalo voltou-se ao controle da salinização, deixando a navegação em papel secundário.

No entanto, salienta, principalmente desde 2010 a ideia vem ganhando força, visto que o peso dos custos – não somente pecuniários, mas de questões ambientais e de segurança – vem atraindo a atenção dos governos para uma retomada da hidrovia. Soma-se a isso, ainda, a possibilidade de que a produção da região fronteiriça do país vizinho possa ser escoada pelo porto mais próximo, em Rio Grande, do que exclusivamente passar pelo porto da capital Montevidéu.

“Estamos há 60 anos falando e fizemos muito pouco”, disse, destacando que há prioridade no assunto, mas que o investimento também precisa ser avaliado. Segundo o embaixador, a conscientização dos produtores em relação à questão pode mudar a matriz produtiva do Uruguai e do sul do Brasil, que poderia ampliar a produção de grãos para além do arroz. Para tanto, aproximações com cooperativas e empresas que estão no litoral estão sendo feitas. De acordo com ele, é uma oportunidade para os três departamentos (equivalentes aos estados, no Brasil) mais pobres – Trinta e Três, Rocha e Cerro Largo. “Isso pode mudar a produção agrícola da região e favorecer a leva de insumos do Brasil para lá. É preciso mudar essa visão ultranacionalista”, avaliou.

O coordenador a ALM, professor Collares, destaca a intenção forte das duas nações para que a hidrovia se concretize, mas, para isso, é preciso vontade política. “É uma boa intenção, mas é preciso que o Brasil a enxergue com determinação”, pontuou, destacando que recursos precisam ser colocados. No momento, o governo sinaliza que a iniciativa privada deveria dar encaminhamento à questão. A Comissão Técnica da ALM realiza reuniões periódicas com a Comissão da Hidrovia com a intenção de avaliar aspectos ambientais, econômicos, legais e de infraestrutura, que, explica Collares, precisam estar consolidados. Questões como dragagem, balizamento, sinalização e batimetria demandariam alto custo e representam um gargalo. Junto a isso, os múltiplos usos e interesses precisam ser levados em consideração e regulamentados, para que possíveis conflitos entre navegação e o impedimento da salinização sejam encaminhados da maneira adequada. “Isso é uma integração verdadeira de questões binacionais. Poderá acontecer e é bom, há oportunidades, mas muita coisa ainda precisa ser analisada, em termos econômicos, ambientais, sociais e políticos”, ponderou.

Barragem Eclusa
A barragem foi feita transversalmente ao canal, tendo 245 metros de comprimento. Já a eclusa está na margem esquerda do São Gonçalo e possui 120 metros de comprimento, 17 metros de largura e cinco metros de profundidade.

A captação das águas do Canal São Gonçalo e Lagoa Mirim, cuja qualidade é assegurada pela barragem do São Gonçalo, é utilizada para o consumo humano das cidades de Rio Grande, Capão do Leão e Pelotas e captação para atender significativas áreas de arroz irrigadas por inundação na abrangência da bacia hidrográfica da Mirim-São Gonçalo.