Início do conteúdo

UFPel conquista dois Prêmios Capes de Teses

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) teve dois trabalhos contemplados pelo Prêmio Capes de Teses 2021, a premiação mais importante da pós-graduação do país. William Borges Domingues, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, e Cíntia Langie Araújo, do Programa de Pós-Graduação em Educação, foram agraciados entre os 49 trabalhos que contemplam as áreas de concentração da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) avaliadas.

Domingues desenvolveu o trabalho “MicroRNAs espermáticos relacionados à fertilidade”, mostrando a relação das moléculas – atualmente evidenciadas em função das vacinas contra a Covid-19 – em sua relação com a fertilidade masculina. O estudo traz dados que podem impactar a reprodução de animais de produção, como bovinos.

A tese de Cíntia, que é professora do curso de Cinema da UFPel, é intitulada “Cinescrita das Salas Universitárias de Cinema no Brasil”. Busca pensar além dos modelos tradicionais de exibição comercial de filmes, apostando nos projetos alternativos de difusão, mais precisamente cinemas localizados em universidades públicas. O objetivo foi vasculhar quais experiências as salas universitárias permitem na contemporaneidade, sobretudo no que diz respeito às relações com o cinema independente brasileiro.

O concurso destaca as melhores teses de doutorado desenvolvidas nos programas de pós-graduação (PPGs) do Brasil. A UFPel, ao longo dos anos, tem produzido trabalhos relevantes que têm sido premiados no evento. Neste ano, a UFPel foi destacada pela Biotecnologia – PPG nota 7, um dos programas de excelência da instituição -, e da Educação, programa nota 5. Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Flávio Demarco, isso é uma sinalização da capacidade de consolidação e da qualidade de pesquisa desenvolvida dentro dos Programas da UFPel. “É uma honra muito grande e um orgulho para todos nós que fazemos parte da comunidade da UFPel”, celebra.

De acordo com a reitora, Isabela Andrade, o resultado da Instituição no Prêmio Capes de Teses 2021 demonstra que, apesar da redução de investimentos em pesquisa nos últimos anos e dos desafios impostos pela pandemia, a UFPel permaneceu desenvolvendo pesquisas de alto nível e que geram importante impacto para toda a sociedade.

Os autores selecionados receberão bolsa de até um ano para estágio pós-doutoral em instituição nacional, certificado e medalha. Seus orientadores ganharão um prêmio para participação em evento acadêmico-científico nacional, no valor de até R$ 3 mil, além de certificado que também será oferecido aos coorientadores e ao PPG no qual a tese foi defendida.

Os premiados

Área: Biotecnologia
Trabalho: “MicroRNAs espermáticos relacionados à fertilidade”
Autor: William Borges Domingues
Orientador: Vinícius Farias Campos
Coorientador: Tiago Veiras Collares

O estudo foca em um aspecto ainda pouco explorado, buscando entender se as moléculas MicroRNAs podem ser reguladoras da fertilidade masculina. O espermatozóide carrega muito mais do que o DNA masculino – dentre as outras moléculas presentes estão as MicroRNAs, que teriam a capacidade de regular vários processos celulares.

O estudo buscou elucidar se os níveis de MicroRNAs relacionados com a fertilidade poderiam ser afetados em espermatozóides que estão submetidos à diferentes técnicas de transgênese, utilizando diferentes modelos animais (no caso, bovinos e peixes). Ou seja, se tinham a função de regular a fertilidade. A transgênese é um processo em que se modifica o DNA genômico de um organismo, inserindo moléculas de um DNA estranho, para que ele adquira novas características.

De forma geral, o estudo apontou que de fato ocorre a modulação de pelo menos 25 MicroRNAs, e que essas MicroRNAs estão de fato relacionadas com a funcionalidade espermática e o sucesso reprodutivo dos machos. Além disso, a pesquisa indica que se pode utilizar essas MicroRNAs como uma ferramenta biotecnológica na área de reprodução animal, principalmente como instrumento de diagnóstico molecular de qualidade espermática.

A tese de Domingues deu origem a três manuscritos e quatro patentes de invenção depositadas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que dizem respeito à geração de processos de inovação tecnológica – abordando desde a extração das MicroRNAs do espermatozóide até a maneira de medir para utilização como ferramenta de qualidade de fertilidade – por exemplo, a possibilidade de identificação de um macho com maior qualidade reprodutiva. Além disso, o estudo também proporcionou a criação de uma start-up para sequenciamento de material genético, que esteve em pré-incubação na incubadora Conectar.

“É um trabalho completo, que engloba desde a parte científica até a empresarial e de registro de tecnologia, trabalhando com a ‘área do momento’, que são as moléculas de RNA das quais muito se fala atualmente em função das vacinas”, pontua o orientador, professor Vinícius Campos.

Essa é a quinta vez que o PPG em Biotecnologia conquista o Prêmio Capes de Teses – uma delas foi quando o próprio orientador, quando doutorando, foi agraciado. “Isso é muito expressivo. Mostra que a UFPel é uma referência nessa área no país. A Capes é muito exigente e criteriosa. O Prêmio confere uma projeção muito grande e traz um olhar para o que vem sendo feito na instituição”, celebra.

Para Domingues, também se trata de uma expressão de relevância. “É gratificante ver a premiação de um trabalho de quatro anos que resultou em manuscritos, patentes, colaboração nacional e internacional com enfoque na ciência básica entrelaçada com o desenvolvimento tecnológico, ao mesmo tempo em que atua na internacionalização do Programa”, diz, destacando que a bolsa concedida possibilitará a continuidade dos estudos para transformar a tecnologia em ferramenta comercial.

Área: Educação
Trabalho: “Cinescrita das Salas Universitárias de Cinema no Brasil”
Autora: Cíntia Langie
Orientadora: Denise Bussoletti
Coorientadora: Carla Gonçalves Rodrigues

O estudo aborda quais experiências as salas de cinema universitárias permitem na contemporaneidade, sobretudo no que diz respeito às relações com o cinema independente brasileiro. A pesquisa de campo, que vai do sul ao nordeste do país, cria uma paisagem afetiva das salas universitárias e aposta na potência de um circuito de exibição sem fins lucrativos, ao afirmar a força das universidades públicas brasileiras para atuarem como dispositivos de novas partilhas a partir do cinema.

Para a autora, o grande destaque é uma pesquisa com foco no cinema e na cultura ganhar o prêmio na área da Educação. “Isso mostra que existe não só uma relação intrínseca entre essas áreas, como uma necessidade cada vez maior de afirmar processos de diversificação do repertório cinematográfico, com referenciais brasileiros, anti-hegemônicos, e de maior respeito às diferenças”, observa. Segundo ela, o prêmio significa, ainda, uma valorização das experiências sensíveis para processos de aprendizagens e conhecimento de si. Trata-se, explica, de um trabalho que destaca a importância da arte, e que demarca cientificamente o antifascismo e o anticapitalismo. “Sem falar que se trata de uma pesquisadora mulher, uma cartografia com um modo de pesquisar feminino, e um trabalho oriundo de fora dos grandes eixos – realizado em uma cidade do interior no extremo sul do país”, destaca. A autora é professora do curso de Cinema da UFPel desde 2007 e coordenadora do Cine UFPel – a sala de cinema da Universidade.

A pesquisa foi desenvolvida com parcerias fundamentais, como o projeto “Cinemas em Rede” – uma iniciativa da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) que conecta salas de cinema interligadas por meio de transmissão digital -; o “Cinead” (Cinema para Aprender e Desaprender) – projeto de pesquisa coordenado pela professora Adriana Fresquet na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -; e a “Taturana Mobilização Social” – projeto de distribuição alternativa do cinema brasileiro.

“Essa é uma conquista para o campo da cultura, para o cinema brasileiro, para as universidades públicas, para as pesquisas inventivas e cartográficas e para as teses que apostam na imbricação entre arte e política, numa defesa das universidades públicas como dispositivos de novas partilhas e numa aposta no cinema brasileiro independente como disruptor de experiências emancipadoras e processos subjetivos singulares”, comemora.

A orientadora, professora Denise Bussoletti, destaca que a premiação do trabalho é de extrema importância principalmente no contexto em que se situa, de ausência de políticas públicas em educação e cinema, em especial pela singularidade histórica, política, social e até sanitária do momento. De acordo com ela, um dos méritos da tese é sua relação com a extensão. “Evidencia a concretude da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, de onde nascem os problemas de pesquisa, que é da relação com a sociedade”, pontuou. Segundo a orientadora, o elo entre arte e educação, com o protagonismo da extensão, já faz parte da perspectiva de produção de conhecimento que vem sendo trabalhada no PPG em Educação. “As grandes questões de pesquisa partem das questões sociais e esse trabalho espelha isso. É de um mérito inegável e coroa o trabalho que vem sendo feito. Num momento em que a universidade pública é atacada, prêmios desse tipo mostram o quanto é importante, sério e vital produzir ciência nessa perspectiva”, afirma, salientando ainda que o trabalho traz a marca de gênero, focando especialmente no cinema de mulheres.