Universidade Mais Humana: Trotes Solidários
A Universidade Federal de Pelotas está cada vez mais caminhando em direção à valorização da vida. Nesta série de matérias de boas-vindas ao ano letivo, serão apresentadas práticas, histórias de vida e maneiras de colaborar para que tenhamos cada vez mais uma instituição de ensino superior comprometida com a vida e mais humana.
Serão abordados temas como racismo, homofobia, xenofobia, violência contra a mulher, AIDS e Doenças Sexualmente Transmissíveis, Alcoolismo e Drogas, Solidariedade, Cuidado com os Animais, Desperdício, Trote Solidário e Sustentabilidade.
São os estudantes, os professores e os servidores que fazem a UFPel ser o que ela é – e tornar-se tudo o que pode ser. Ao acolher sua comunidade acadêmica, a Universidade Federal de Pelotas deseja que cada um possa fazer de 2016 uma oportunidade para construir uma universidade mais humana.
UFPel incentiva os trotes solidários
Neste início de ano, a UFPel está recebendo mais de 3,5 mil novos alunos. Para a recepção dos ingressantes, são realizados vários eventos chamados de calouradas. Além disso, cada curso prepara atividades para entrosar calouros e veteranos.
Um artigo publicado na Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional explica que “o modo como os alunos se integram ao contexto do ensino superior faz com que eles possam aproveitar melhor (ou não) as oportunidades oferecidas pela universidade, tanto para sua formação profissional quanto para seu desenvolvimento psicossocial”. Portanto, é importante cautela para que este ‘ritual de passagem’ não se torne algo violento, humilhante.
Para Ediane Acunha, pró-reitora de Assuntos Estudantis, “a brincadeira e a festa são válidas. Pintar-se, dançar, brincar são importantes nesta fase da vida acadêmica. O problema é que a relação dos veteranos com os calouros têm sido, em muitos casos, mais que humilhante, abusiva”.
A pró-reitora observa que os atos abusivos no “trote acadêmico” vão se perpetuando. “O estudante sofre isto ao ingressar e depois repete no ano seguinte criando uma cultura da violência. E a comunidade acadêmica encara isto como algo normal”, afirma.
Com o pretexto de integrar os estudantes, o trote, por vezes, é marcado pela violência física e moral, baseada na agressão e na humilhação. Em muitos casos, o consumo de álcool é estimulado.
“A gente vê o estudante consumindo bebida alcoólica dentro do ambiente acadêmico e acha normal. O mesmo ocorre com as relações abusivas de quem já está na universidade e quem está entrando”, reitera Ediane, ao afirmar que o fim da violência e da intolerância depende de toda a comunidade acadêmica.
O trote violento, sujo, além de ser prejudicial para a integridade física e moral do estudante, ainda é proibido pela lei municipal 5897/12.
Exemplos
Na UFPel, muitas ações positivas vêm se levantando de todos os cantos contra o trote violento. Vários cursos já trocaram as brincadeiras de mau gosto por um festa sadia e beneficente. É o chamado trote solidário, que já é praticado por alunos da Arquitetura e Urbanismo, Terapia Ocupacional, Medicina, Zootecnia, entre outros tantos cursos.
Os veteranos de 2015 do curso de Zootecnia, por exemplo, substituíram a brincadeira do ‘elefantinho’ (em que os bixos são obrigados a se colocarem em fila indiana, de mãos dadas passando por baixo das pernas um do outro) por cavalos de pau, construídos com material reciclável.
“Bom, a gente resolveu fazer um trote diferente. Ao invés do tradicional elefantinho a gente confeccionou cavalos com caixa de papelão e bambu, para que eles passassem pela Faem sem ter a tal “humilhação” do elefantinho”, conta Nathália Telesca Camargo, estudante do 5° semestre.
Outra forma bastante positiva de marcar o momento foi promovendo doação de sangue ao Hemocentro de Pelotas.
A veterana da Zootecnia Diene Corrêa Ehlert explica que, depois de conversar com os colegas, a turma resolveu fazer o trote solidário, com doação de sangue, que é uma necessidade diária que o Hemocentro enfrenta. Quem não pôde doar sangue, entregou ração para uma ONG que abriga animais doentes.
“Buscamos mobilizar o maior número de pessoas possível, para ter mais doações. Foi uma forma de conscientizar que o dinheiro pedido no trote é para ajudar o próximo. Foi também uma forma de chamar a atenção dos alunos para que sigam fazendo desse modo, um trote consciente, e para que os bixos se sintam bem recepcionados e importantes, já entrando na faculdade fazendo o bem”, afirma Diene.
No Hemocentro de Pelotas (HEMOPEL), a ideia é recebida com alegria, principalmente nesta época do ano em que as doações são reduzidas devido às férias e, em contrapartida, a demanda por transfusões aumenta com o número de acidentes de trânsito, por exemplo.
Cíntia Cunha, assistente social da HEMOPEL, responsável pela captação de sangue, diz que vários cursos já promovem a doação de sangue como trote solidário, e toda ajuda é muito bem vinda. “As turmas que desejarem fazer doação de sangue precisam ligar e agendar uma data para que o Hemocentro possa garantir profissionais suficientes para a coleta”, alerta. O agendamento pode ser feito pelo fone 32223002.
Para doar, a pessoa precisa ser maior de 18 anos (jovens com 16 e 17 anos podem doar desde que acompanhados do responsável legal), pesar mais que 50 quilos, estar alimentado, não ter ingerido bebida alcoólica nas últimas 12 horas que antecedem à coleta e não estar utilizando medicamentos de uso controlado ou antibióticos.
O Hemocentro de Pelotas funciona de segundas a sextas-feiras, das 8h às 18h, e necessita de todos os tipos sanguíneos.
O trote solidário estimula a criatividade dos estudantes que precisam encontrar outras formas de se divertir e tornar o ingresso dos calouros inesquecível, sem as práticas abusivas do antigo trote. A UFPel está desafiando os veteranos a criarem novas formas de receber os calouros em que a festa não perca o brilho, mas ganhe novas cores.