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Seminário Internacional debate a Gestão Integrada do Patrimônio Cultural de Morro Redondo

O município de Morro Redondo, no sul do Rio Grande do Sul, será lugar para um polo da Cátedra UNESCO-IPT de Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território. Nesta semana, a equipe interinstitucional do projeto que implantará o Polo Morro Redondo promove um seminário internacional que marca o lançamento dos trabalhos, com convidados da área do patrimônio e do turismo para discutir conteúdos relacionados aos princípios que fundamentam a gestão integrada do território e que serão norteadores das ações do projeto. O evento ocorre de 09 a 11 de dezembro, e será transmitido pelo canal do YouTube da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

A criação de um polo em Morro Redondo é uma opção que estava prevista desde o início da constituição da Cátedra, conta o titular da Cátedra UNESCO–IPT de Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território, Luiz Oosterbeek. Entre suas várias reflexões, a Cátedra defende que é necessário criar em vários países e continentes, de forma articulada, projetos que possam demonstrar que o gerenciamento territorial pode ser feito de uma forma diferente. “Privilegiar essa diversidade regional é promover a convergência de esforços entre as várias regiões, fundamental para uma outra forma inovadora de encarar a sustentabilidade”, destaca.

No momento, o único polo do Brasil desta Cátedra é o de Morro Redondo. Porém, o trabalho deve ser articulado com outras Cátedras já criadas no país, como a Fronteiras e Migrações, na Universidade Federal de Santa Maria. De acordo com Oosterbeek, a proposta é criar polos que mostrem uma grande autonomia do ponto de vista de suas preocupações e suas agendas, e ao mesmo tempo se revejam nos princípios básicos da gestão integrada do território.

O grupo de trabalho é composto por uma equipe vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da UFPel, por uma equipe da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e pela Prefeitura de Morro Redondo, liderado pela Cátedra. A equipe tem como característica reunir pesquisa, ensino e extensão interdisciplinar e interinstitucional, somando esforços e conhecimento na sinergia que resultará na implantação do Polo.

Segundo o grupo, Morro Redondo apresenta uma série de pré-condições que o qualificam para a instalação do polo da Cátedra UNESCO Humanidades e Gestão Integrada do Território. O primeiro desses pontos diz respeito às características do município, que envolve aspectos como resgate das memórias culturais, a intensa participação da comunidade nesse processo, o modelo de educação que valoriza as memórias e a história do lugar, além da baixa densidade populacional e o envelhecimento da população, que evidencia a preocupação com o futuro do município. Aliado a isso estão a consolidada cooperação das Universidades Federal e Católica com o município de Morro Redondo e a parceria entre UFPel e o Instituto Politécnico de Tomar.

Gerenciamento articulado
Segundo Oosterbeek, tem ocorrido uma discussão sobre a forma de fazer gerenciamento cultural e articulá-lo com o gerenciamento global do território, as temáticas de sustentabilidade e o papel específico das ciências humanas nesse quadro. “O que se espera é que das trocas e conversas que vamos tendo com os colegas da UFPel, da UCPel e também com a Prefeitura e a comunidade, seja possível aprofundar os conceitos e as metodologias”, adiantou.

O titular da Cátedra explica ainda que o patrimônio cultural tem sido tratado como se fosse algo à parte, apenas para observação, lazer ou fruição, mas separado do conjunto das temáticas do território. No entanto, a Cátedra entende que não é possível nem desejável fazer o gerenciamento do patrimônio de forma isolada. “Do mesmo jeito que não tem sentido gerenciar a saúde pensando apenas nos hospitais – a saúde pública é uma questão de vivência cotidiana, dos cidadãos. Da mesma forma que a educação não deve ser confinada às escolas”, exemplificou. Segundo ele, também o gerenciamento cultural não é essencialmente sequer um gerenciamento dos sítios de patrimônio: ele vai muito mais longe. “É o gerenciamento de diferentes entendimentos culturais sobre a realidade. Nesse sentido, o gerenciamento cultural deve estar profundamente articulado com o gerenciamento do território e ele mesmo deve ser cultural”, explicou, salientando que esse gerenciamento não deve olhar apenas para os problemas imediatos, com base exclusivamente em indicadores quantitativos – como muitas vezes ocorre, mas deve essencialmente olhar para além das questões urgentes, enquadrando-as numa perspectiva de médio e longo prazo. Isso para que as ações de hoje, mesmo resolvendo problemas imediatos, não comprometam as questões do futuro. De acordo com ele, osso implica uma discussão com a visão de sociedade que se pretende, sobre os interesses muitas vezes contraditórios e como os articular. “Nós teremos uma sociedade mais equilibrada, mais sustentável e mais pacífica quando percebermos que a gestão cultural não é a gestão apenas dos bens culturais, mas do global do território atendendo às preocupações culturais”, pontuou.

Integração e papel das instituições

Luiz Oosterbeek, titular da Cátedra UNESCO–IPT de Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território

Para o trabalho da Cátedra, as universidades têm o papel de pensar cenários alternativos para o futuro. E isso, mais uma vez, diz respeito a uma escala temporal mais larga. Empresas, por exemplo, já dão atenção a demandas mais imediatas. As instituições de ensino superior, no entanto, têm a missão de fazer a ponte entre as preocupações de hoje e a antevisão do que podem ser as preocupações de amanhã. Desse ponto de vista, segundo Oosterbeek, as universidades devem estar imersas na lógica de gestão cultural integrada do território. Afinal, elas têm os recursos humanos e as condições técnicas para estruturar os cenários de futuro. “Ao mesmo tempo, não cabe a elas tomar as decisões. As decisões têm que ser tomadas democraticamente pela sociedade, pelos cidadãos e pelas instituições que eles constituem”, sublinhou. Ele destacou ainda que é fundamental a criação de mecanismos não apenas de articulação de instituições, mas com as pessoas de várias gerações. “Nós já não vivemos uma sociedade com três gerações: crianças, adultos e idosos. Temos quatro ou cinco gerações convivendo e precisamos articulá-las. As universidades podem e devem ter um papel importante nisso”.

Exemplo
Na visão de Oosterbeek, o principal desafio do projeto é ajudar a construir territórios que demonstrem a outros lugares que o caminho é possível e pode trazer resultados, melhorando a estabilidade e o desenvolvimento da localidade. Segundo ele, já existem muitos projetos na América do Sul, na África e na Europa e alguns na Ásia que seguem essa direção. “Estamos em um processo avançado de criação de um novo programa da UNESCO, que se chamará ‘Brigdes’ (pontes), que parte das metodologias das ciências humanas para trabalhar os desenvolvimentos locais de uma forma mais sustentável. Morro Redondo ficará como um dos territórios que, se assim o quiser, poderá ser piloto na implementação dessas estratégias”.

O grande objetivo, pontuou, é que as preocupações que as sociedades mundiais têm com a sustentabilidade possa levar à uma melhoria efetiva do planeta. “Nós já temos mais de 30 anos do relatório da Comissão de Brundtland sobre o desenvolvimento sustentável e apesar de todas as políticas que foram feitas em vários países, as condições gerais do planeta estão pior do que estavam nessa época. Então nós pensamos que há um problema nas metodologias que se tem implementado. Esperamos que, se for feita uma alteração nessas estratégias, nós possamos, daqui a dez ou 20 anos, dizer ‘bom, entramos na década de 20 do século 21 no novo ciclo, que foi um ciclo que não apenas obteve discursos melhores, mas também resultados melhores’”.

O evento
Estarão presentes na abertura do Seminário os representantes das quatro instituições envolvidas, o Comitê Gestor do Polo e o coordenador de Ciências Humanas e Sociais e Ciências Naturais da UNESCO no Brasil. O Seminário contará com quatro palestras e três mesas-redondas. No dia 11, haverá o lançamento do livro, segundo evento externo do projeto que está implantando o Polo, intitulado: Gestão Integrada do Patrimônio Cultural – Humanidades, Sociedade e Ambiente.

As inscrições podem ser feitas no site do evento, onde estão disponíveis a programação completa e informações sobre os palestrantes.

Programação

09/12
15h30min – Mesa de Abertura
Comissão de Gestão do Polo da Cátedra UNESCO – IPT Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território, Morro Redondo/RS
16h – Palestras
Tópico 1
A Cátedra Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território: um contributo em rede para um novo paradigma de sustentabilidade
Tópico 2
Gestão Integrada do Território na constituição do Polo Morro Redondo

10/12
10h – Mesa 1
Patrimônios Material e Imaterial em Morro Redondo

14h – Mesa 2
Desenvolvimento territorial, cultura e turismo

15h30min – Palestra
Tesoros Humanos Vivos, patrimonio alimentario y desarrollo territorial

11/12

10h – Mesa 3
As tradições doceiras de Pelotas e Antiga Pelotas

15h30min – Palestra de encerramento
Redes de Pesquisa Multidisciplinares para o Avanço do Conhecimento sobre Territórios

17h – Apresentação e Lançamento livro digital
Gestão Integrada do Patrimônio Cultural – Humanidades, Sociedade e Ambiente