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Egressa da UFPel recebe Menção Honrosa do Prêmio Capes de Tese 2020

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou o resultado do Prêmio Capes de Tese Edição 2020, concedido às melhores teses de doutorado defendidas em 2019. A egressa Stefanie Bressan Waller recebeu Menção Honrosa pela tese defendida em 2019 intitulada “Uso promissor do óleo essencial de Rosmarinus officinalis L. e Origanum majorana L. na esporotricose cutânea experimental por Sporothrix brasiliensis resistente ao itraconazol, e susceptibilidade de isolados aos óleos vegetais” que comprovou o uso promissor dos óleos essenciais de alecrim e manjerona para elaboração de um fármaco para o tratamento da esporotricose.

A pesquisa surgiu pela preocupação com os crescentes casos humanos e animais com esporotricose, uma doença fúngica que hoje é a principal zoonose de caráter epidêmico em expansão no Brasil. Apesar da doença ter cura com o uso do itraconazol, que ainda é o antifúngico de eleição, estudos iniciais desenvolvidos na dissertação de Mestrado de Stefanie mostraram o surgimento de Sporothrix brasiliensis resistentes ao itraconazol entre animais no Sul do Brasil. “Considerando que existem escassas opções de tratamento em cães e gatos, resolvemos buscar alternativas terapêuticas através de produtos naturais que venham a prospectar a elaboração de um fármaco ativo para controle de infecções causadas por Sporothrix brasiliensis resistentes ao itraconazol”, explica.

Na tese, foram testados individualmente os óleos essenciais de Origanum majorana L. (manjerona) e Rosmarinus officinalis L. (alecrim) por via oral em ratos experimentalmente infectados com Sporothrix brasiliensis resistente ao itraconazol e que desenvolveram feridas cutâneas típicas da doença. Após tratamento diário por 30 dias, foi observada a evolução semanal e a remissão dos sinais clínicos, com ausência de edema e exsudato no membro inoculado, em comparação aos grupos controles. Os óleos essenciais também proporcionaram uma proteção sistêmica, evitando que o patógeno inoculado pela via subcutânea se disseminasse para os órgãos sistêmicos. Por fim, a tese mostrou, por meio de testes in vitro de mecanismo de ação, que ambos os óleos essenciais apresentaram efeito antifúngico por complexação com o ergosterol fúngico, e que essas atividades foram relacionadas aos compostos químicos terpineol-4 e γ-terpineno (para manjerona) e 1,8-cineol e cânfora (para alecrim).

Em tempos em que os recursos financeiros para as pesquisas e a oferta de bolsas de estudos se encontram reduzidos no País, a obtenção da menção honrosa expressa o reconhecimento do trabalho realizado. De acordo com Stefanie, o trabalho foi possível graças à bolsa de doutorado Capes, aos recursos obtidos pelos projetos financiados pelos órgãos de fomento, à equipe participante dos laboratórios MicVet (professor Mário Carlos Araújo Meireles e professora Renata Osório de Faria) e Fitopeet (professora Marlete Brum Cleff), ambos da UFPel, juntamente com o Instituto de Ciências Básicas da Saúde (professor João Roberto Braga de Mello) e Grupo de Pesquisa em Micologia Aplicada, da Farmácia (professor Alexandre Meneghello Fuentefria), ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), entre outros participantes. “Ter um trabalho reconhecido pelo Prêmio Capes de Teses 2020 é ter a certeza de que nossos esforços em buscar alternativas terapêuticas para os casos clínicos animais de difícil resolução e com resistência antifúngica estão sendo valorizados pela comunidade científica. Portanto, essa menção honrosa é gratificante e motivadora para dar continuidade a projetos que visam avançar os estudos nessa linha de pesquisa”, comemora.

De acordo com o orientador da pesquisa, professor Mário Carlos Araújo Meireles, o trabalho ou pesquisa que deu origem a tese da Stefanie Bressan Waller é produto de um trabalho contínuo que vem sendo desenvolvido há mais de vinte anos, na Faculdade de Veterinária da UFPel, quando foram diagnosticados e documentados os primeiros casos de esporotricose (Sporothrix schenckii) na região sul e depois foi evoluindo epidemicamente inclusive se constituindo em uma importante zoonose, negligenciada até então. Passada a primeira etapa do problema a Unidade começou a investigar a sensibilidade do fungo, patogenia, respostas a imunomodulador, variabilidade genética e comportamento nas diferentes espécies (cão e gato) e nos humanos e frente a resistência a algum haloterápicos a equipe passou a trabalhar com extratos de produtos naturais, especialmente Origanum vulgare, dos gêneros Origanum, Rosmarinus e outros em resposta aos frequentes casos de resistência aos antifúngicos convencionais. Os temas continuam sendo trabalhados no MicVet. “A Stefanie desde seu primeiro contato com o laboratório, ainda bolsista de IC, demonstrou dedicação, criatividade e um grande senso inovador em busca de respostas às questões técnico-científica, com persistência e sempre produzindo ciência com responsabilidade e sensibilidade”, destaca o professor.

Também participaram da pesquisa o Comitê de Orientação com participação do professor Mario Carlos Araújo Meireles e professora Renata Osório de Faria (MicVet/Departamento de Veterinária Preventiva) e a professora Marlete Brum Cleff FITOPEET/Departamento de Clínicas Veterinária e a colaboração da professora Simone Viegas Salles (Departamento de Patologia Animal) e do professor Rogério Freitas (Departamento de Química Orgânica); a parceria de longa data com a UFRGS, através do professor João Roberto Braga de Mello do Instituto de Ciências Básica da Saúde e colaboração do professor Alexandre Meneghello Fuentefria e da professora Daiana Flores Dalla Lana, ambos do Departamento de Análises da Faculdade de Farmácia; os estagiários (as) e bolsista de IC, Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado, bem como demais servidores incluindo os orientadores; e o suporte logístico e humana (intelectual) da Faculdade de Veterinária e do Programa de Pós-graduação em Veterinária.